Fragmento de uma foto retratando um pocket trumpet, retirado da Wikipédia
Autor: José-Manuel Benito
Texto produzido em parceria com meu pai.
Enquanto uns indagam o que se pode conhecer e qual é a nossa capacidade para tal, precisamos antes, conhecer o que nos leva ao desejo de conhecer! Na raiz desta busca está certamente a necessidade de nossa sobrevivência e adaptação ao mundo; o mundo que nos circunda, natural e social, perante o qual ao único conhecimento útil chamamos- consciência, ou seja, o conhecimento de si perante o mundo sem o qual não lograríamos avaliar as próprias possibilidades de sobrevivência e adaptação e necessidades de ação, que passa assim a ser um conhecimento voltado à auto-avaliação do sujeito face ao mundo e seus fenômenos. Os nossos sentidos nos dão pistas; temos as coisas que nos circundam e o que vemos, longe de ser a coisa em si, é no entanto, o que precisa ser apreendido para que a relação de sujeito e objeto assim criada gere em nós a necessária consciência qual seja a auto-avaliação do sujeito perante o objeto.
Os cães ouvem
sons inaudíveis para nós humanos; os animais noturnos enxergam o que aos nossos
olhos é invisível à noite. O que conhecemos apesar de não ser o que as coisas
são em si, mas é a visão que nos é minimamente necessário conhecer para que a
nossa adaptação ao mundo se dê de forma eficaz. O conhecimento que os sentidos
nos passam não é mera ilusão como alguns dizem, mas como dissemos, representa
uma primeira pista, primeira de muitas que a nossa consciência terá de
descobrir e conhecer para adaptarmo-nos ao mundo e o mundo à nós. Uma
descoberta só chamaria a nossa atenção se nela víssemos qualquer possibilidade
de melhorar a nossa adaptação ao mundo e vice-versa. A necessidade suscita
interesse e o interesse, motivação de buscar o conhecimento. Uma peça de teatro
por exemplo, suscitaria interesse se de certa forma atendesse a nossa
necessidade de melhor conhecermos a raiz dos conflitos sociais e de lidar com
os mesmos. Observar como os personagens agem em tais circunstancias nos ajuda a
portarmo-nos com consciência mais lúcida em semelhantes contextos sociais. Não
é portanto a curiosidade que gera o conhecimento e sim a necessidade, que como
fator de desequilíbrio nos leva a buscar o restabelecimento do mesmo em nós.
Num primeiro momento obtemos os conhecimentos que nos dêem condições de
adaptação para em seguida almejarmos aos conhecimentos que nos possibilitam
adaptar o meio circundante às nossas condições e preferências, tarefas que sem
duvida não podem ser realizadas sem o conhecimento e observação dos princípios
que ordenam o mundo subordinando a si todos os seus fenômenos. Tais princípios
são como já vimos, os de semelhança e de causalidade; aos quais
acrescentamos também o de equilíbrio.
A nossa intuição intelectual
nos faz creditar à semelhança o status de principio universal. Os átomos se
agrupam por semelhança e as moléculas também; onde há algum minério, o mesmo se
encontra agregado a minérios semelhantes, ainda que não de forma pura, mas
predominante. Os vegetais e animais se agrupam também por semelhança conforme
as suas espécies, de modo que pensar num mundo ordenado de outra forma se nos
tornou inconcebível. Por outro lado somos levados a crer que um dado efeito
quando alcançado a partir de uma causa é sempre passível de reprodução a partir
de causa e circunstância semelhantes, premissas essas fundamentais para a
condução de pesquisas cientificas. Vemos que a própria causalidade se realiza
por semelhança.
Temos bons
motivos para crer que as matérias das galáxias distantes tem estruturas
semelhantes àquelas de nossa galáxia; elas são semelhantemente feitas de átomos
e moléculas. A natureza é, como temos bons motivos pra crer, organicamente
estruturada por conjuntos de seres e objetos agrupados por semelhança, de modo
que a mesma parece ser um fator de afinidade e atração entre os mesmos.
Há outro principio
que a nossa razão intui como tal e o busca conhecer em tudo- o equilíbrio! Se
observarmos o sistema solar, a impressão que nos dá é tratar-se de um sistema
planetário em equilíbrio; a natureza terrestre chamada de eco-sistema se
apresenta a nossa consciência como um sistema de equilíbrio ecológico onde
qualquer fenômeno perturbador lhe será subordinado e finalmente reabsorvido, ou
sendo de grande impacto o levará a reequilibrar-se sob novas condições ou não o
conseguindo, desmantelar-se-á como sistema e será absorvido por sistema mais
potente cujo equilíbrio lhe seja abrangente.
No plano
social o choque cultural entre duas sociedades díspares abala a de menor grau
de organização e equilíbrio, muitas vezes desmantelando-a para ser absorvida
por aquela de equilíbrio mais potente. Vale notar que equilíbrio e estabilidade
embora sejam conceitos afins todavia não se confundem. As etnias indígenas por
exemplo, formam sociedades bastante estáveis porém frágeis em seu equilíbrio
estático, pois o choque cultural com a nossa civilização as tem desmantelado
para serem absorvidas pela nossa que, embora não seja tão estável por não ser
estática, dispõe de mais recursos para
recobrar o seu equilíbrio abalado pelos impactos.
Da mesma
forma a criança é mais suscetível a impactos de que o adulto, visto que se
encontra em nível mais estático de equilíbrio psico-emocional. As agressões
sofridas na infância marcam a nossa vida e agem como fatores de desequilíbrio e
instabilidade, ao passo que as mesmas agressões não tem ação tão devastadora e
permanente sobre o adulto. O equilíbrio frágil da infância evolui para o da
adolescência que, embora aparente muita instabilidade em sua efusão, é todavia
transitório e cresce em riqueza de recursos psico-emocionais próprios do
equilíbrio superior da vida adulta.
Semelhança,
causalidade e equilíbrio são os princípios com que nos deparamos primeiro e com
os quais nos orientamos para a apreensão do mundo e descoberta de todos seus
princípios.
As peças
musicais encerram em si um conjunto de sons os quais via de regra terminam num
acorde solene como se juntamente anunciassem o equilíbrio final à que buscavam
chegar. As obras de pintura contem também o equilíbrio interno que se não o
tivessem desequilibrariam aos ambientes sendo inservíveis como peças de
decoração.
O ciclone como
fenômeno natural consiste em liberação do excedente de calor pelo oceano,
efeito do aquecimento global, transformando a energia térmica em mecânica, para
assim, liberando o excedente de calor, recobrar o equilíbrio abalado por este,
e o fará semelhantemente quantas vezes isso lhe ocorrer.
Enfim, se
analisarmos os fenômenos e os objetos sob o prisma da semelhança, causalidade e
equilíbrio, lograremos conhece-los melhor e com mais clareza e lucidez. Vale
notar também que entre os dois tipos de
causalidade, a eficiente e a final, o excesso de calor ainda que cause a
formação do ciclone provavelmente não o faria se nisso o oceano não encontrasse
o seu reequilibrio térmico como causa final.
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