domingo, 7 de julho de 2013

Semelhança, Causalidade e Equilibrio

Fragmento de uma foto retratando um pocket trumpet, retirado da Wikipédia
Autor: José-Manuel Benito

Texto produzido em parceria com meu pai.

Enquanto uns indagam o que se pode conhecer e qual é a nossa capacidade para tal, precisamos antes, conhecer o que nos leva ao desejo de conhecer! Na raiz desta busca está certamente a necessidade de nossa sobrevivência e adaptação ao mundo; o mundo que nos circunda, natural e social, perante o qual ao único conhecimento útil chamamos- consciência, ou seja, o conhecimento de si perante o mundo sem o qual não lograríamos avaliar as próprias possibilidades de sobrevivência e adaptação e necessidades de ação, que passa assim a ser um conhecimento voltado à auto-avaliação do sujeito face ao mundo e seus fenômenos. Os nossos sentidos nos dão pistas; temos as coisas que nos circundam e o que vemos, longe de ser a coisa em si, é no entanto, o que precisa ser apreendido para que a relação de sujeito e objeto assim criada gere em nós a necessária consciência qual seja a auto-avaliação do sujeito perante o objeto.
           
Os cães ouvem sons inaudíveis para nós humanos; os animais noturnos enxergam o que aos nossos olhos é invisível à noite. O que conhecemos apesar de não ser o que as coisas são em si, mas é a visão que nos é minimamente necessário conhecer para que a nossa adaptação ao mundo se dê de forma eficaz. O conhecimento que os sentidos nos passam não é mera ilusão como alguns dizem, mas como dissemos, representa uma primeira pista, primeira de muitas que a nossa consciência terá de descobrir e conhecer para adaptarmo-nos ao mundo e o mundo à nós. Uma descoberta só chamaria a nossa atenção se nela víssemos qualquer possibilidade de melhorar a nossa adaptação ao mundo e vice-versa. A necessidade suscita interesse e o interesse, motivação de buscar o conhecimento. Uma peça de teatro por exemplo, suscitaria interesse se de certa forma atendesse a nossa necessidade de melhor conhecermos a raiz dos conflitos sociais e de lidar com os mesmos. Observar como os personagens agem em tais circunstancias nos ajuda a portarmo-nos com consciência mais lúcida em semelhantes contextos sociais. Não é portanto a curiosidade que gera o conhecimento e sim a necessidade, que como fator de desequilíbrio nos leva a buscar o restabelecimento do mesmo em nós. Num primeiro momento obtemos os conhecimentos que nos dêem condições de adaptação para em seguida almejarmos aos conhecimentos que nos possibilitam adaptar o meio circundante às nossas condições e preferências, tarefas que sem duvida não podem ser realizadas sem o conhecimento e observação dos princípios que ordenam o mundo subordinando a si todos os seus fenômenos. Tais princípios são como já vimos, os de semelhança e de causalidade; aos quais acrescentamos também o de equilíbrio.
           
A nossa intuição intelectual nos faz creditar à semelhança o status de principio universal. Os átomos se agrupam por semelhança e as moléculas também; onde há algum minério, o mesmo se encontra agregado a minérios semelhantes, ainda que não de forma pura, mas predominante. Os vegetais e animais se agrupam também por semelhança conforme as suas espécies, de modo que pensar num mundo ordenado de outra forma se nos tornou inconcebível. Por outro lado somos levados a crer que um dado efeito quando alcançado a partir de uma causa é sempre passível de reprodução a partir de causa e circunstância semelhantes, premissas essas fundamentais para a condução de pesquisas cientificas. Vemos que a própria causalidade se realiza por semelhança.
           
Temos bons motivos para crer que as matérias das galáxias distantes tem estruturas semelhantes àquelas de nossa galáxia; elas são semelhantemente feitas de átomos e moléculas. A natureza é, como temos bons motivos pra crer, organicamente estruturada por conjuntos de seres e objetos agrupados por semelhança, de modo que a mesma parece ser um fator de afinidade e atração entre os mesmos.
           
Há outro principio que a nossa razão intui como tal e o busca conhecer em tudo- o equilíbrio! Se observarmos o sistema solar, a impressão que nos dá é tratar-se de um sistema planetário em equilíbrio; a natureza terrestre chamada de eco-sistema se apresenta a nossa consciência como um sistema de equilíbrio ecológico onde qualquer fenômeno perturbador lhe será subordinado e finalmente reabsorvido, ou sendo de grande impacto o levará a reequilibrar-se sob novas condições ou não o conseguindo, desmantelar-se-á como sistema e será absorvido por sistema mais potente cujo equilíbrio lhe seja abrangente.
           
No plano social o choque cultural entre duas sociedades díspares abala a de menor grau de organização e equilíbrio, muitas vezes desmantelando-a para ser absorvida por aquela de equilíbrio mais potente. Vale notar que equilíbrio e estabilidade embora sejam conceitos afins todavia não se confundem. As etnias indígenas por exemplo, formam sociedades bastante estáveis porém frágeis em seu equilíbrio estático, pois o choque cultural com a nossa civilização as tem desmantelado para serem absorvidas pela nossa que, embora não seja tão estável por não ser estática,  dispõe de mais recursos para recobrar o seu equilíbrio abalado pelos impactos.
           
Da mesma forma  a criança é mais suscetível  a impactos de que o adulto, visto que se encontra em nível mais estático de equilíbrio psico-emocional. As agressões sofridas na infância marcam a nossa vida e agem como fatores de desequilíbrio e instabilidade, ao passo que as mesmas agressões não tem ação tão devastadora e permanente sobre o adulto. O equilíbrio frágil da infância evolui para o da adolescência que, embora aparente muita instabilidade em sua efusão, é todavia transitório e cresce em riqueza de recursos psico-emocionais próprios do equilíbrio superior da vida adulta.
           
Semelhança, causalidade e equilíbrio são os princípios com que nos deparamos primeiro e com os quais nos orientamos para a apreensão do mundo e descoberta de todos seus princípios.
           
As peças musicais encerram em si um conjunto de sons os quais via de regra terminam num acorde solene como se juntamente anunciassem o equilíbrio final à que buscavam chegar. As obras de pintura contem também o equilíbrio interno que se não o tivessem desequilibrariam aos ambientes sendo inservíveis como peças de decoração.
           
O ciclone como fenômeno natural consiste em liberação do excedente de calor pelo oceano, efeito do aquecimento global, transformando a energia térmica em mecânica, para assim, liberando o excedente de calor, recobrar o equilíbrio abalado por este, e o fará semelhantemente quantas vezes isso lhe ocorrer.


Enfim, se analisarmos os fenômenos e os objetos sob o prisma da semelhança, causalidade e equilíbrio, lograremos conhece-los melhor e com mais clareza e lucidez. Vale notar também  que entre os dois tipos de causalidade, a eficiente e a final, o excesso de calor ainda que cause a formação do ciclone provavelmente não o faria se nisso o oceano não encontrasse o seu reequilibrio térmico como causa final.

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