domingo, 7 de julho de 2013

Razão e Linguagem Discursiva

Texto produzido em parceria com meu pai.


Ainda que as sensibilidades variem, os humanos e os animais compartilham do mesmo aparato sensitivo/ sensorial, qual seja, visão, audição, tato, olfato e paladar. O tato, o olfato e o paladar acionam as sensações de dor ou de gozo, aos quais o aparato afetivo responde via sentimentos de sofrimento ou de contentamento. A visão e a audição cumprem funções mediatas invocando, via razão intuitiva, os sentimentos de medo, raiva, aversão, bem como de interesse, desejo e atração.

Tanto os humanos quanto os animais emitem sons vocais para exprimir a dor, a raiva, o sofrimento e o contentamento. Esses sons são sempre semelhantes e não mudam por motivos climáticos, geográficos, culturais e históricos.

A estes sons vocais instintivos, o homem descobre-lhes a função comunicativa e os explora como tais. A criança quando geme e chora de dor/ fome, descobre que o seu gemido, além de refletir a dor e o sofrimento, cumpre a função de comunicar aos outros a assistência que lhe urge ser dada; sendo atendida a contento, a criança comunica o fim da urgência com a sua risada de contentamento. No grito, gemido e  risada, a razão descobre funções comunicativas das quais se servirá para elaborar a linguagem.

Embora o choro e o gemido advenham imediatamente da dor/ fome como sensação, ao não ser atendida, a criança continuará a chorar vocalizando o sofrimento que a dor lhe causa. A sensação de dor repercute em sofrimento que é um sentimento e não mais uma sensação. A dor aponta o fato e o sofrimento apresenta o valor do fato- a razão é informada e emite os seus juízos. Assim a razão lança mão destas primeiras vocalizações como signos de comunicação, não mais como simples reações a certos estímulos, mas como artifícios para comunicar intenções e desejos.

A razão descobre também que não é preciso apontar as coisas por imitação de seus sons naturais, até porque as coisas que não emitem sons não seriam comunicáveis. Ela descobre que ao criar um som qualquer e designá-lo a um certo objeto, este som passará, como signo e nome, a representar o dito objeto para efeito de comunicação. A razão constata também que dar nome, somente a objetos/ coisas, não comunica satisfatoriamente e portanto, precisa nomear as ações.

Em atendimento as minhas premências, ou seja, em defesa de minha vida, não me basta saber o nome da coisa, mas também a ação que dela me pode advir. Surge assim a linguagem discursiva que não só aponta as coisas pelos nomes que a razão, com base na semelhança lhes dá, mas também ao modo como elas agem entre si. A razão descobre a causalidade e a aplica à linguagem, já discursiva, comunicando o sujeito da ação bem como a própria ação. A criança ingressa na linguagem discursiva à partir do momento que dá nome às ações, abstraindo-as como coisas a conhecer.

Mas a minha vida não se reduz ao conhecimento do que está acontecendo, eu preciso tanto quanto isto, saber o que me pode futuramente acontecer, preciso me prevenir e me preparar.

Dado um contexto, o que me espera? Eu, como objeto de ação e/ ou eu como sujeito de ação. Não só preciso conhecer o objeto mas também o modo dele agir e reagir às ações. Conhecimento que se me faltar ficarei vulnerável à ação dos objetos contra a minha vida. Surge assim a palavra central da linguagem discursiva- o verbo Ser, palavra que não atenta para esta ou aquela ação, mas ao modo do sujeito agir que lhe seja característico.

Se estou diante dum predador, a este como individuo não conheço, mas pela semelhança com os de sua espécie presumo conhecer-lhe o modo de agir e reagir. A este modo próprio de agir chamo ser. Se digo que o objeto é  um predador voraz, não quero com isto dizer que esteja ocorrendo qualquer ação, mas ostento um conhecimento acerca do modo  de agir, de ser, de todo lobo em geral e deste com que possa me defrontar. Conhecer o modo de agir do objeto é vital para que eu zele pela minha vida.

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