domingo, 7 de julho de 2013

Projeto Desativado - S.K.

         
Fragmento de uma foto retratando um pocket trumpet, retirado da Wikipédia
Autor: José-Manuel Benito


DA NEGATIVIDADE E DA POSITIVIDADE DO PLANO ESTÉTICO

            José Paulo Coelho Faradji Chadan

            1. OBJETIVO

Este projeto tem por objetivo investigar a negatividade e a positividade no plano estético e para tal, utilizará duas obras, a saber, Diário de um Sedutor[1] e O Erótico Musical, ambas escritas por Sören Aaybe Kierkegaard e inseridas no obra intitulada Ou,ou.
No Diário de um Sedutor, a figura principal é Johannes. Apontarei então, para a negatividade em Johannes, enquanto um sedutor que nunca alcança o que deseja, pois, no momento em que vai alcançar, o desejado, se desfaz imediatamente. Apontarei também para a positividade indireta em Johannes. Indireta, pois, novamente, Johannes não chega a usufruir dela (deste momento de verdade).
Após esgotar o assunto Johannes, investigarei Don Juan, figura principal apresentada no Erótico Musical. Apontarei para a negatividade em Don Juan, posto que Don Juan não consegue perpetuar aquilo que alcança no instante e depois, apontarei para a positividade don juanesca, que é justamente o fato de Don Juan alcançar o desejo no instante e fruí-lo honestamente. Embora tenha imediatamente de passar para uma nova conquista, uma nova mulher, encontrando assim, um novo instante no qual pode alcançar novamente seu momento de positividade e de verdade.

            2. JUSTIFICATIVA

O que me faz querer investigar os dois movimentos ocorrentes no plano estético, a saber, o primeiro movimento que é o da negatividade e o segundo movimento, que é o da positividade, é por serem estes, fundamentais no interior da dinâmica do plano estético.
Embora na ordem dos textos, Don Juan apareça antes de Johannes, julguei conveniente alterar a ordem, no intuito de mostrar, quase que socraticamente, primeiro o movimento da negatividade, representado por Johannes, depois, o movimento da positividade, representado por Don Juan.
Entretanto, acrescentarei um pouco mais de dialética, mostrando que no movimento da negatividade existe um apontar indireto para a positividade, e que, no movimento da positividade existe alguns aspectos de negatividade.
Tal complexidade é importante que seja ressaltada, para que se perca o preconceito em se olhar o plano estético sempre e somente na sua negatividade e como algo a ser superado.
Por fim, justifico a escolha do tema do presente projeto, por ser pouco estudado pelos pesquisadores no Brasil, que tem tido maior interesse pelas etapas ética e religiosa do que propriamente pela etapa estética no caminho da vida.

             
3. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

            3.1 JOHANNES: A ASTÚCIA SENSÍVEL

Minha primeira hipótese é a da negatividade ou, do movimento negativo na sedução de Johannes. Johannes sendo, em primeiro lugar, um sedutor reflexivo, ou seja, um sedutor que reflete sobre as artimanhas necessárias à sedução. Vendo Cordélia passar, estende-lhe o tapete; avistando-a a olhar-se no espelho, olha por detrás; escreve-lhe cartas de amor, cativando e seduzindo-a. No entanto, tudo o que Johannes deseja, é a entrega inocente de Cordélia, que se desfaz, no instante mesmo da entrega; de modo que Johannes sempre se afasta para uma nova reaproximação, posto que percebe, no limite, a incoerência e o fracasso da realização de seu desejo. Tentarei então, adentrar os meandros de tal problemática e negatividade.
Após o que, investigarei minha segunda hipótese: o conceito de negatividade enquanto desejo que não se realiza, posto que se desfaz no instante mesmo em que começaria por realizá-lo. Minha hipótese é que o começo da realização do desejo conduz à sua própria irrealização. Johannes vive numa circularidade negativa  e seu desejo gira nesta circularidade negativa. Negativa posto que quando vai se concretizar, fracassa e o circular, se faz inevitável (a não ser que se tome consciência e mude a estratégia da sedução ou o próprio desejo).
Minha terceira hipótese tentará mostrar por quê Johannes é a personagem que ocorre no âmbito da palavra. E os apontamentos que por hora possuo, são: A palavra é o meio de expressão em Johannes, justamente por ser a palavra, o meio pelo qual as ações podem ser pensadas e refletidas podendo então, desdobrar-se do pensamento para a ação e da ação para o pensamento e de onde portanto, podem se auferirsilogismosou estratagemas para seduzir. Contudo, buscarei apontar também neste caso, o que há de negativo, posto que o pensamento desdobrado em ação e vice-versa, impedem o livre fruir do instante na sua positividade.
Minha quarta e derradeira hipótese então, é de que pode haver um momento de verdade e portanto, de positividade em Johannes, que, no entanto, é apenas positividade indireta, posto o fato de Johannes nunca fruí-lo positivamente. Tal, é o processo que o sedutor consegue desencadear em Cordélia. Processo este, que faz Cordélia conhecer aspectos de si mesma, que, se não fosse Johannes seduzindo-a, ela jamais conheceria. Contudo, tal positividade o é, para Cordélia, posto que Johannes, não chega a fruí-la, retirando-se no momento da entrega inocente, por perceber, no limite, a impossibilidade da mesma, e permanecendo assim, Johannes, na negatividade.

3.2 DON JUAN: A GENIALIDADE SENSÍVEL

Iniciarei por desmistificar Don Juan, ou, melhor dizendo, em mostrar que o Don Juan de Kierkegaard não tem relação alguma com o Don Juan concebido pelo senso comum. O Don Juan concebido pelo senso comum é uma espécie de sedutor barato e infeliz ao passo que o Don Juan de Kierkegaard nem é um sedutor no sentido rigoroso do termo e tão pouco é infeliz.
Minha primeira hipótese consistirá em mostrar a positividade de Don Juan. Tal positividade se mostra na total honestidade de Don Juan, pois este, deseja honestamente esta ou aquela mulher e, do outro lado, a mulher, percebendo isto, apaixona-se. A honestidade de ambos os lados constitui a positividade do plano estético (ainda que tal positividade se no momento da entrega e se desfaça logo em seguida, ocorrendo assim, no instante). A positividade se mostra também, pois a mulher “seduzida”, tem certeza de que foi desejada e amada (ainda que apenas no instante da entrega), porém, ela sabe que Don Juan tem de partir para uma nova conquista e, apesar de sofrer, o “deixair[2].
Disto, seguirei apontando para a repetição no plano estético. Cada nova mulher, cada nova conquista, cada novo instante, é justamente, a repetição da experiência estética em Don Juan, e esta, positiva. Portanto, minha segunda hipótese será investigar o conceito de repetição e mostrar como a repetição se dá no instante de cada nova entrega e de cada nova conquista. O instante enquanto fruição, além de ser passível de repetição, é imediatamente positivo.
Minha terceira hipótese será mostrar que quando o cristianismo posiciona a figura de Don Juan, faz assim, aparecer seu aspecto de negatividade, enquanto algo que deve ser superado.
O cristianismo da Idade Média tardia, posiciona Don Juan como o arquétipo da vida carnal, da vida mundana, da sensualidade e do demoníaco. A sensualidade, segundo Kierkegaard, estava no mundo antes do cristianismo, mas é somente quando este a posiciona (e o faz utilizando a figura de Don Juan), que ela se torna determinação do espírito e objeto de reflexão, pois antes, com os gregos, a sensualidade era vivida animicamente[3].
Por fim, minha quarta e última hipótese implicará em mostrar porque somente a musicalidade pode representar Don Juan enquanto genialidade sensível. As impressões que saltam à vista então, são de que Don Juan não poderia, como Johannes, ser expresso pela palavra, pois carece de reflexão. Sendo assim, a musicalidade pode expressá-lo, posto que a musicalidade, assim como Don Juan, é pura fruição, onde um instante é seguido de outro sem, no entanto, formarem um todo, antes, cada instante alcança em si mesmo, sua tonalidade, sua eternidade. Na musica, cada nota tocada no instante, se eterniza e, logo, passa-se à nota e ao instante seguinte, do mesmo modo que Don Juan passa à mulher seguinte e ao instante seguinte (que se eterniza positivamente).

4. METODOLOGIA

O trabalho será desenvolvido em dois momentos:
Partindo da figura de Johannes e tendo por texto base, O Diário de um Sedutor, explorarei este texto, bem como os comentadores do mesmo, na tentativa de clarear o significado de Johannes enquanto negatividade no plano estético. Para não ser superficial ou parcial, tratarei também de uma possível positividade ou um apontar indireto para a mesma, mostrando a dialética interna existente na figura de Johannes. Perpassarei por Cordélia então, posto a impossibilidade em falar de Johannes sem citar Cordélia. E mostrarei como e quais os processos que Johannes desencadeia nela, de tomada de consciência e descobertas (apesar dele mesmo não usufruir disto).
Após o que, explicitarei acerca da figura de Don Juan, desta vez, tomando como texto de apoio O Erótico Musical, bem como os comentadores do mesmo. Investigarei a positividade no plano estético, representada por Don Juan. Falarei da “sedução natural” e/ ou da “honesta seduçãoenquanto positividade que ocorre no instante da entrega e no fruir positivo da mesma. Falarei da musicalidade como essência que expressa Don Juan, justamente por ser, assim como Don Juan, pura fruição que se eterniza no instante e se repete a cada novo instante.
Disto, passarei ao cristianismo vigente na Idade Média tardia, que ao posicionar Don Juan, o faz, como algo a ser superado. Tratarei então, do aspecto negativo em Don Juan, ou, do aspecto que o cristianismo medieval[4] viu e posicionou em Don Juan. Mostrando assim, a dialética existente também, no interior da figura de Don Juan.
Portanto, embora eu indique Johannes enquanto negatividade e Don Juan enquanto positividade, esforçar-me-ei  em mostrar a positividade indireta queem Johannes e a negatividade posicionada pelo cristianismo medieval, queou é apontada em Don Juan, fazendo ver assim, a complexidade e a dialética interna no plano estético em ambas as personagens.

            5. PLANO DE TRABALHO

            De março de  2009 à outubro de 2009, Pesquisa bibliográfica para elaboração do primeiro capitulo.
            De outubro de 2009 à fevereiro de 2010, Esboço do primeiro capitulo.
            De março de 2010 à outubro de 2010, Leitura critica do material escrito e finalização.
            De outubro à fevereiro de 2011, Pesquisa bibliográfica do segundo capitulo.
            De março à outubro de 2011, Dialogo com o orientador e escrita do texto.
            Novembro de 2010, Pré-defesa.
            Fevereiro de 2011, Defesa.
           

            6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
           
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KIERKEGAARD, Soren Aaybe. Either/Or, A Fragment of Life. Trad. Hannay, Alastair. Peguin Books, [  ].
KIERKEGAARD, Soren Aaybe. O lo Uno o lo Otro, el fragmento del vita. [     ].
 KIERKEGAARD Soren Aaybe. Ou Bien, Ou Bien. [    ].
KIERKEGAARD, Soren Aaybe. Trad. Hong, Howard V. e Hong, Edna H. Unicamp, Princeton, New Jersey , [   ].
PAULA, Marcio Gimenes de. Subjetividade e Objetividade no Debate entre Socratismo e Cristianismo em Kierkegaard: Uma Analise A Partir Do Pos-Scriptum. Orientador> Prof Dr. Oswaldo Giacóia Junior. Unicamp, Campinas, 2002.
CLAIR, André. Pseudonymie et Paradoxe, La Pensée Dialetique de Kierkegaard. Librairie Philosophique J. Vrin, Paris, 1976.
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VERGOTE, Henri-Bernard. Sens et Répetition, Essai Sur L’ironie Kierkegaardienne. Cerf Orant, tome II, 1982.
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[1] A tradução correta seria, Diário do Sedutor, mas os tradutores não foram rigorosos quanto à isto.
[2] Don Juan tem de ir para uma nova conquista, pois ele não busca uma mulher especifica, antes, busca em cada mulher, o que todas as mulheres tem em comum, isto é, a essência da mulher.
[3] Ponto questionável. Platão mesmo, refletiu sobre Eros e sobre o amor.
[4] Cabe notar que o cristianismo do medievo, que posiciona Don Juan enquanto negatividade e algo a ser superado, não é de maneira alguma, o cristianismo proposto e entendido por Kierkegaard enquanto tal

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