domingo, 7 de julho de 2013

Previsibilidade, Futuro e Consciência

Fragmento de uma foto retratando um pocket trumpet, retirado da Wikipédia
Autor: José-Manuel Benito

Texto produzido em parceria com meu pai.

Como indivíduos e/ou seres sociais, encontramos a nossa identidade na intencionalidade com que nos defrontamos com o mundo material/natural, imaterial/espiritual. Falamos de causas imateriais como origem/fim das ações do homem, tornando-o agente causal espiritual que por ser dotado de espírito/intencionalidade, desencadeia fatos materiais que não ocorreriam por si naturalmente, transformando o mundo real segundo a representação mental que dele faz em seu pensamento. Em lugar de nos submetermos ao tempo e espaço materiais passamos a agir sobre ambos submetendo o curso material da natureza ao nosso espírito. A intencionalidade é por assim dizer a causa imaterial/espiritual de todas as nossas ações, as quais a partir de tentativas, isto é, de erros e acertos, se nos fazem fontes de conhecimento dotando-nos da faculdade de prever os fatos ou seja, de apreender o futuro. Futuro! Este é o cerne de toda luta do homem, desafio que ele procura suplantar a todo momento, até porque se defronta continuamente com a possibilidade implacável de, mais cedo ou mais tarde, vir a morrer no futuro.

 Em suma, modelamos o futuro com base em nossos conhecimentos, os quais por seu turno norteiam as nossas intencionalidades. Isso vale tanto para ações individuais como coletivas. As políticas governamentais representam intencionalidades que querem modelar o futuro da nação de forma desejável, possível e previsível! Assim cada individuo terá no contexto, planejar o seu futuro pessoal também dentro do possível, desejável e previsível.

O senso comum associa intuitivamente o conceito de conhecimento àquele de previsibilidade. A moça e o moço por exemplo, que desejam se casar, o fazem de forma planejada, se fazendo passar por um período de mutuo conhecimento e necessária adaptação; período este experimental chamado namoro, onde os traços da personalidade e caráter de cada ficarão expostos para o conhecimento, rejeição, aceitação ou adaptação, sem o que o casamento passaria a representar uma temeridade e uma aventura de conseqüências imprevisíveis, por falta de conhecimento entre ambos. Numa partida de futebol, embora se conheça os times, o dia, o torneio etc, haverá sempre um dado que nos escapará ao conhecimento- o resultado do jogo! Intentamos prever o resultado cruzando logicamente todos os dados que possam nele influir, todavia, como diz o ditado popular, “ A bola é redonda”, ou seja, imprevisível, pois não há como previamente saber o resultado da partida e como diz outro ditado “Não se ganha o jogo na véspera”.
   
Na véspera do jogo final da Copa de 1998, numa mesa redonda, o comentador Gerson disse com toda propriedade de quem conhece o futebol, que o Brasil só não ganharia da França se não entrasse em campo, e vimos o que aconteceu! Se soubermos de antemão e de forma não intuitiva quem é que vai ganhar, não chamaríamos jogo, uma partida de futebol , pois o jogo implica no desconhecido, ainda que altamente provável, mas certamente imprevisível! Como seres biológicos somos condenados à morte e isto se dará em qualquer instante do futuro. O nascimento nos lança ao futuro que nos leva à morte. Estes são os mitos que mais influenciam a nossa vida. Se tivermos conhecimento do futuro teremos um certo domínio sobre a morte. Em nossa mente mítica há um mito emergente que a todo custo busca desbancar o futuro e reinar em seu lugar no domínio do previsível, do conhecido; este mito somos nós, cada um como individuo,como pretenso sujeito de todo conhecimento. O super-homem do Niesztche só o será, como tal, se romper a barreira do tempo apropriando-se assim, do futuro.

Embora a instância mítica de nossa mente adote como meta o padrão ideal de cada conceito, irrealizável portanto, todavia como meta e modelo exerce a função de direcionar nossas intencionalidades, tanto aquelas com finalidade pratica e material como as de caráter estético, ético e existencial. A perfeição por exemplo é um estado ideal inimaginável que serve todavia, para nos induzir continuamente à busca da excelência em tudo o que intentamos realizar, estabelecendo em nós um padrão de comportamento que nos leva a moldar na mesma excelência a pessoa humana que somos adotando para isso arquétipos que sob condição humana como nós, lograram realizar em si as excelências ideais próprias de um mito, um deus.

Cada sistema filosófico cria pra si termos e palavras e se apropria também de termos e palavras já existentes adaptando-os à sua própria linguagem. Assim fizemos também ao afirmar que não há pura consciência como o disseram Kant e Husserl, mas que toda consciência só a pode ser como consciência de; consciência como ato do sujeito cognoscente em direção a seu objeto. Assim, na ausência do objeto, o sujeito não terá de que ter consciência. Imaginando a mente como um todo cognoscente inserindo em si o individuo que a representa e lhe é objeto de investigação e conhecimento, fomos entender que nossa relação com o mundo não se dá sem um continuo ato de auto-conhecimento e avaliação de que precisamos necessariamente perante cada nova situação e/ou tarefa, faculdade sem a qual, não saberemos medir as nossas chances de êxito perante os desafios que se nos apresentam a cada momento. O animal que se defronta com outro compara o conhecimento que tem de si face ao conhecimento que apreende do outro avaliando assim as suas chances e possibilidades para se decidir então, atacar ou fugir.
  
Concebemos a consciência como um conhecimento especial tendo o seu objeto no próprio sujeito e este, não em si, mas no mundo. Não há portanto pura consciência nem consciência de, mas ao conhecimento de si face ao mundo designamos o conceito de consciência. Assim pensando, na ausência dos objetos de conhecimento o sujeito cognoscente perde a consciência por não poder relacionar-se com os objetos ausentes ao seu conhecimento. Esta concepção da consciência enfatiza o papel da memória em todo processo cognoscente já que o conhecimento de si não se daria sem o registro na memória de tudo que entendemos ser, para nós perante o mundo.


           
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QUESTÕES:


  1. O que é intencionalidade?
  2. O que é causalidade no mundo natural?
  3. De que maneira a intencionalidade afeta o curso natural do mundo?
  4. Considerando a intencionalidade da ação humana sob a causalidade da natureza, o futuro se faz previsível ou imprevisível?
  5. Qual a diferença entre conhecimento de e consciência de?
  6. Há consciência sem objeto cognoscível? Justifique.


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