Texto produzido em parceria com meu pai.
De uma forma
geral os animais apreendem o mundo através da razão intuitiva/sensível
(sensitiva), e embora façam uso da intuição intelectual captando a realidade em
seus aspectos gerais/universais, o fazem de forma limitada e elementar e não
são, via de regra, capazes de adquirir novos conhecimentos senão através da
experiência direta.
O ser humano
no entanto, é capaz de extrair novos conhecimentos dos conhecimentos já
adquiridos, sem que para isto dependa diretamente da experiência. A esta
capacidade da mente humana, chama-se razão discursiva/raciocínio ou pensamento
racional.
Diríamos que o
animal pensa, mas não raciocina, o mesmo faz o ser humano em sua primeira
infância; pensa intuitivamente captando a realidade em seus aspectos pessoais e
gerais, sem todavia usar o raciocínio e que só se desenvolve através da
linguagem.
Podemos
enumerar as duas formas básicas da linguagem:
-
linguagem visual- sinais, gestos, símbolos, luzes,
cores etc.
-
linguagem auditiva- sons, gritos, palavras, ritmo,
música, e percursão.
Toda linguagem além de
ferramenta do raciocínio é também o meio de comunicação.Tomemos por exemplo a
fala (uso associado das palavras): inventamos a(s) palavra(s) para
designar/simbolizar as coisas, os fatos, os conhecimentos etc... e
arbitramos regras para o seu uso criando
assim a língua; ferramenta sem a qual o raciocínio não se desenvolve.
Memorizo os
conhecimentos adquiridos através dos nomes que dou a cada um, relembrando-me
dos mesmos, através das palavras/nomes que empreguei anteriormente para
memorizá-los.Vemos que a comunicação não se dá apenas de nós para com os
outros, mas também de nós para nós mesmos. Se quero utilizar algum conhecimento
já adquirido uso a palavra/nome que empreguei para memorizá-lo; se preciso investigar/analisá-lo
em relação a outro conhecimento, uso a palavra/nome que empreguei neste segundo
caso. Assim disponibilizo para minha investigação e análise os dois
conhecimentos obtidos isoladamente para que os conheça também em suas relações
e conjunto, e se a partir disto resultar um novo conhecimento, terei por
definição elaborado um raciocínio/pensamento racional; capacidade que distingue
o ser humano dos animais e que se desenvolve em sua forma, estrutura e extensão
através e de acordo com o desenvolvimento da linguagem.
Falamos da
distinção do ser humano em adquirir novos conhecimentos através do raciocínio;
falamos também da linguagem como ferramenta primordial do raciocínio e citamos
a memória sem a qual a linguagem e o raciocínio, bem como o próprio pensamento
não existiriam. É impossível falar do pensamento sem lembrarmos da
consciência.; mas o que é a consciência? Seria ela a capacidade de conhecer? Ou
esta é apenas um de seus aspectos; e o que é conhecer? Associamos o
conhecimento ao ato de conhecer e este ao sujeito que
conhece; para nós o conhecimento só passa a fazer sentido, a partir do objeto
conhecido juntamente ao sujeito que conhece, ou seja, o
conhecimento é a interação sujeito/objeto; (sujeito que conhece/objeto
conhecido). Aqui vale a pena citar o uso comum dos conceitos subjetivo
e objetivo. Subjetivo tem a ver com o juízo formulado pelo
sujeito que conhece, enquanto que objetivo tem a ver com o objeto conhecido.
Quando emitimos um juízo e nos falam que é subjetivo, quer dizer que o nosso
juízo é meramente pessoal. Quando pedem para sermos objetivos estão dizendo na
verdade buscarmos aquilo que o objeto em questão tem a oferecer por si mesmo.
Quando o sujeito
que conhece se volta a si próprio numa relação sujeito/objeto, (o sujeito
além de ser sujeito passa a ser também objeto), surge a consciência ou o
conhecimento de si próprio; ou seja,
invertendo a ordem, seria a consciência uma forma particular do
conhecimento e não este um aspecto da consciência. A cada vez que adquiro um
conhecimento, sofro uma mudança, que é detectada pelo sujeito que conhece (eu)
pela interação sujeito/objeto, onde desta vez o objeto conhecido também sou eu.
Sintetizando, a consciência seria a interação do eu (sujeito)/eu (objeto). Com
esta definição inserimos a consciência no campo do conhecimento.
Voltamos
agora a falar da memória,até porque um conhecimento não guardado na memória é
um conhecimento indisponível, ou seja, não é mais um conhecimento. É
fundamental portanto conhecermos melhor a natureza e o papel da memória no
conhecimento. Vamos definir, ainda que de forma preliminar. a memória como
capacidade de registrar os conhecimentos.
Imaginemos
uma partida de futebol; de que maneira a conhecemos:
Recorrendo à
nossa memória identificamos logo os aspectos principais que a caracterizam,
isto é, em que data ocorreu, em que estádio, quais os times em jogo, de que
torneio fazia parte, a que fase do torneio se referia, qual foi o resultado,
quais foram os lances marcantes e os jogadores mais destacados, os impactos do
jogo sobre as torcidas ... e assim por diante.
Vemos que uma simples partida de futebol agrega os
conhecimentos de um numero significativo de dados passados, previamente
registrados em nossa memória. Mas será que a memória só serve para registrar os
fatos passados? Claro que não! Se estamos aguardando um jogo importante de
nosso time com outro, da mesma maneira utilizamos os recursos de nossa memória!
Registrando nela: a data em que o jogo irá ocorrer, o estádio, os times que
irão jogar, o torneio e a fase, e qual será o tipo de transmissão, se ao vivo
ou não, por rádio ou televisão... e assim por diante.
Todos estes dados, embora sujeitos a mudanças, já
se encontram disponíveis na nossa memória, sem o que, não saberíamos nem como e
quando assistir ao jogo, nem se haveria jogo algum. Mas restam muitos dados
incertos que embora estejam ocupando um espaço na memória, o ocupam de forma
aberta tais como: o resultado da partida, os lances marcantes e as condições
climáticas no dia do jogo.
Vemos que
alguns dados da partida já se encontram praticamente definidos e são
registrados na memória como conhecimentos enquanto outros dados aguardam o
curso dos acontecimentos, mas ainda assim ocupam a nossa memória, até porque
temos de nos previnir e organizar contra ou favor do que vir a ocorrer. Ou
seja, quando olhamos para um futuro incerto, abordamos as varias
possibilidades, favoráveis ou não, nos preparando para enfrentar as possíveis
situações de forma prevenida; isto quer dizer que a memória não só registra os
fatos passados como também do presente e do futuro, ainda que incertos e
passiveis de modificação. Sem memorizar não teremos a menor condição de
realizar os atos mais simples do nosso cotidiano. Se queremos ir à escola, invocamos o já conhecido
trajeto casa-escola, o meio de transporte usual, o tempo médio gasto para o
percurso, as conseqüências de um eventual atraso etc. Tudo isso evidentemente
se processa através da memória! A memória serve tanto para guardar os fatos
passados como para o prévio registro das do futuro, ainda que como mera
possibilidade perante a qual precisamos nos prevenir e posicionar
continuamente. Até os nossos atos cotidianos e corriqueiros implicam no uso da memória. Usar os talheres
para tirar do prato a comida que ali se encontra e levá-la até a boca por
exemplo, é tão exaustivamente registrado pela nossa memória desde a infância,
que o fazemos por costume não nos dando conta da participação da memória neste
processo.
A memória parece ser dotada de mecanismos e de
recursos que agem intuitivamente e por conta própria tais como separar ou
juntar entre si os dados de que dispõe, elaborando assim contínua relação dos
mesmos por semelhança, diferença, proximidade, distância, seqüência,
freqüência, cor, som, forma e tudo o mais que possa carcterizá-los. Esta
capacidade de organização interna e de armazenamento por classe e categoria
torna os conhecimentos acessíveis e dá a memória o lugar que ocupa nos
processos do conhecimento.
No âmbito da
memória se desenvolvem outras ferramentas do conhecimento tais como a
linguagem, a própria razão e por conseguinte o raciocínio/pensamento racional.
Teria a memória um papel somente passivo, como por exemplo o de armazenar e
organizar os dados internamente e disponibilizá-los quando acionada para isso?
Precisamos avançar na nossa abordagem sobre o conhecimento para melhor entender
o papel da memória. Falemos agora da percepção.
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