domingo, 3 de agosto de 2014

RELIGIÃO E SIMULACRO

Quando o uso dos símbolos religiosos serve para enriquecer nossa vida interior e quando apenas desvia nossa atenção para a ostentação e o embasbacamento

As igrejas neo-pentecostais, longe de serem autenticas e genuínas manifestações de fé, são simulacros. Muitas vezes a arquitetura simula uma ogiva medieval, ou um altar magnífico. Porém, o que saudosamente se busca, é um cristianismo que outrora, era praticado com verdade e singeleza.

As formas arquitetônicas, não poucas vezes, imitam a arquitetura antiga e medieval, mas não servem para trazer à tona uma fé viva. Tampouco a impressionante retórica do ministro o pode fazer.

As práticas mágicas e de milagres, servem apenas para reforçar que outrora, houve uma chama que se apagou para nós. O cristianismo atual não manifesta uma fé genuína, senão, que é apenas uma imitação e um simulacro daquilo que, quem sabe, um dia foi vivo no coração dos homens.

Cristianismo não se faz com igrejas magnificas, nem com rituais de cura, tampouco com sublevação dos ânimos. É claro que toda religião possui seus símbolos e precisa lançar mão deles. O problema é quando os símbolos já não "funcionam" mais. Se tornaram disfuncionais, pois ao invés de nos conduzirem para uma jornada interior, de auto-reflexão e, de busca espiritual, eles [os símbolos] são usados como meros apetrechos estéticos e de ostentação, com o objetivo único de impressionar.

Os símbolos religiosos, encontrados não só em igrejas, mas em templos budistas, vaishnavas e terreiros de candomblé, servem para a pedagogia espiritual do povo. Servem para ensinar as histórias para aqueles que, não tendo tido oportunidades, não puderam aprender a ler e escrever. É assim que surge, por exemplo, a figura do artesão medieval, para o qual, o pároco fazia diversas encomendas. Basta ir até uma Igreja católica e, mesmo que não se saiba ler, as imagens lhes contarão uma história: de alguém que carregava uma cruz nas costas ou de uma mãe que deu à luz mesmo se mantendo virgem. A estátua de Buda, é antes de tudo, pedagógica, pois ela ensina a todos que olham para ela, o caminho da ataraxia, da paz, e do desapego. E, assim ocorre com os diversos símbolos encontrados nas mais variadas religiões pelo mundo.

Quando um símbolo, como a imagem de um santo, um relicário, uma capela, mesquita, uma cruz ou uma ogiva no meio da nave da igreja, deixam de ter uma função pedagógica, isto é, de ensino (de apontar um caminho para a auto-reflexão, bondade e espiritualidade), então, ele deixa de ser um símbolo genuinamente religioso, com poder de ajudar as pessoas a se tornarem gente, e passa a ser mero enfeite e simulacro de algo que deveria ser espiritual, mas não é (se tornou mera matéria), que deveria ser pedagógico, mas não é (se tornou um objeto que confunde, leva ao entretenimento e não esclarece a pessoa que para ele "apela").


Em suma, eu diria que:


(i) Quando os símbolos (santos, cruz, água benta, e etc) nos conduzem para dentro de nós mesmos, eles estão ajudando-nos em nossa caminhada espiritual. Ajudando-nos a sermos melhores. A nos aproximarmos da Imago Dei (imagem de Deus).

Mas...

(ii) Quando os símbolos religiosos nos conduzem para fora de nós mesmos, apenas causando espanto, terror, embasbacamento, deslumbramento, eles estão na verdade, nos desviando do caminho. Estão tirando nosso foco - nossa busca espiritual de nos assemelharmos da Imago Dei (imagem de Deus).

Soli Deo Gloria,
José Chadan