Retrato de Kierkegaard
Autor: Neils Christian Kierkegaard
O INDIVÍDUO EM SÖREN AAYBE
KIERKEGAARD
José Paulo Coelho Faradji Chadan [1][1][1][1]
RESUMO
O
presente artigo trata do tema do indivíduo, suas relações consigo mesmo, com os
outros e com Deus. Tema este, que durante muito tempo foi desprezado na
história da filosofia, mas que será investigado exaustivamente por Kierkegaard.
O indivíduo é responsável por escolher os caminhos da própria jornada
existencial. Pode escolher uma vida estética, regada de prazeres sensuais como
D. Juan, uma vida fundada nos deveres éticos como no caso do matrimônio, ou
ainda, uma vida religiosa, fundada na fé, na Verdade e no paradoxo, como foi
com Abraão e é com todos aqueles que compreenderam a necessidade de renunciar a
razão abraçando em contrapartida, a fé.
Porém não se trata de renunciar à razão, de flertar com o “irracionalismo’, e
sim, de dar um salto, o da fé, continuando a viver entre os homens, como um
homem comum, pois a “passagem” diz
respeito à interioridade. O exemplo maior
disto seria Abraão.
Palavras-chave: Indivíduo, estádio, estético, ético,
religioso, escolha, matrimônio, angústia, humor, verdade.
ABSTRACT
This article
addresses the issue of the individual, the relationship with oneself, with
others and with God. This subject, which has long been neglected in the history
of philosophy, will be thoroughly investigated by Kierkegaard. The individual
is responsible for choosing the paths of one’s own existential journey. One may
choose an aesthetic life, filled with sensual pleasures such as D. Juan’s, a
life founded on ethical duties as, for instance, the matrimony, or yet a
religious life, founded on faith, on the Truth and on the paradox, as it was
with Abraham and with all of those who understood the necessity to relinquish
reason, embracing, in turn, faith. However,
it does not mean to renounce reason, to flirt with the “irrationalism”, but to take a leap of faith and to
continue living among men, as a common
man, for the “passage” refers to the interiority.The biggest example of
this would be Abraham.
Keywords: Individual, stadium, aesthetic, ethic,
religious, choice, matrimony, angst, humor, truth.
Sören Aaybe Kierkegaard,
pensador e filósofo religioso do século XIX refletirá principalmente sobre o
tema de como se tornar um verdadeiro cristão, um cristão genuíno. Entretanto,
para chegar ao ponto conclusivo de sua filosofia, a saber, como se tornar um
verdadeiro cristão, Kierkegaard passará a refletir acerca dos diversos modos de
existência, que chamará de estádios.
O primeiro será chamado estádio estético no caminho da vida, onde o elemento que o caracteriza é a inclinação. Diz respeito às inclinações
do indivíduo, sua vida exterior e sua sensualidade. O segundo estádio será o estádio ético, onde os elementos que o
caracterizam serão o dever e o matrimônio. O estádio ético tem a ver
com a vida do indivíduo no meio de outros homens, pois só um homem vivendo em
meio a outros é que se constitui a ideia de dever. Por último, o estádio religioso, onde a figura central
que o representa será Abraão(
religiosidade A: do Antigo Testamento). A verdadeira
religiosidade é a do Novo Testamento. Este estádio diz respeito à relação Indivíduo
com a Verdade, com a fé, o paradoxo, a resignação e re-apropriação do mundo em
e com Cristo.
Passemos então, a tratar
da existência do individuo em cada estádio, segundo S. Kierkegaard.
Estádio Estético: o indivíduo e a inclinação
O indivíduo quando vive na esfera estética da vida, segue
seus impulsos, suas inclinações[2].
Vive para instrumentalizar, de maneira objetiva, o mundo e até as pessoas que o
cercam. Tal esfera, no entanto, é dividida em dois subestádios: o pré-reflexivo
e o reflexivo.
O primeiro estádio da vida estética é o estádio erótico imediato, que só pode ser
representado pela música e a música de Mozart – as Bodas de Fígaro, A Flauta
Mágica, Don Giovanni. Um estádio no qual o indivíduo toma como força propulsora
de seus atos, tudo o que lhe vêm de fora – as
pessoas, os objetos que o rodeiam, os aspectos externos do mundo, ou, para usar
uma terminologia kantiana, tudo o que lhe atinge os sentidos.
A esfera, ou o estádio
pré-reflexivo é, portanto, um estádio no qual impera o egocentrismo do
indivíduo, pois tudo está aí para ele, para que as tome por instrumento. Impera
nela também o impulso, a inclinação, fazendo com que o indivíduo aja segundo
sua vontade imediata. Falando kantianamente, esse indivíduo que vive
esteticamente, e ainda pré-reflexivamente, é o único capaz de ser feliz, porque
a felicidade independe da reflexão, ou de qualquer outra faculdade humana. A
felicidade depende sim, de se fazer o que se quer e na hora que se quer, de
agir de acordo com as inclinações e não segundo a ética.
Já o segundo estádio é a
etapa reflexiva, não mais calcada na imediatez dos instintos, mas na
mediaticidade da reflexão, do pensamento. Porém, um pensamento que reflete
esteticamente. Nesse estádio, o indivíduo ainda é regido pelo mundo exterior e
por tudo o que lhe vem de fora. A diferença está em não apenas satisfazer suas
inclinações com as coisas do mundo externo; agora ele as quer possuir, dominar
e controlar a seu bel prazer. O indivíduo na fase reflexiva age impulsionado
pelo exterior, porém ele quer mais. Age pela vontade de possuir, de controlar,
de obter, de fazer e desfazer; pela vontade de ser onipotente – pela vontade de poder. Representante deste
estádio Johannes o Sedutor, “autor” do Diário do Sedutor. Na verdade o texto
foi encontrado numa escrivaninha e a questão da autoria cai num abismo.
Para melhor exemplificar
essas duas subdivisões do estádio estético no caminho da vida,
Kierkegaard se utilizará de figuras mitológicas da Antiguidade: D. Juan,
Fausto, o Mestre-ladrão e Assueiro, o judeu errante.
a) Mestre-ladrão: O poder-fazer
O Mestre-ladrão é uma
personagem semelhante ao Hobbin-Hood, de Hollywood. Quer poder-fazer a justiça
com suas próprias mãos. No entanto, não age preocupado com a paz interna,
social, mas age por prazer. Rouba dos ricos para dar aos pobres e acredita,
assim, estabelecer, equilibrar, ou melhor, ‘fazer’ com que se faça a justiça
social. Entretanto o que não percebe, é que não estabelece justiça alguma. O
que faz é, antes de tudo, romper com o direito de propriedade, prejudicando a
terceiros. O Mestre-ladrão não se sacrifica por aquele a quem ajuda, mas
sacrifica sempre a um terceiro. Por conseguinte, desrespeita as leis, as normas
e a sociedade.
b) D. Juan: o poder-querer
D. Juan é uma personagem
que segundo conta, seduziu muitas mulheres, mais de 1.003 só na Espanha[3]. Porém,
não se interessa pelo objeto conquistado de maneira subjetiva, quer apenas
possuir o objeto, sem limitação e sem responsabilidade nenhuma em relação a
ele. É um sedutor e quando obtém o objeto de seu desejo, no momento exato em
que o obtém, se torna sem atração para ele e o sedutor parte, então, para uma
nova conquista. Pois, o que o sedutor de fato quer não é o objeto de seu
desejo, mas o controle da arte da sedução. Por isso, quando obtém o objeto perde
a atração. Contudo, se o objeto desejado se afastar dele ao menos um pouco, lhe
será novamente atrativo.
c) Fausto: O poder-saber
O mestre-ladrão e D. Juan
são estetas da primeira etapa: a esfera estética, não reflexiva. Em Fausto,
porém, há uma ruptura. Fausto, ao contrário de D. Juan e do Mestre-ladrão, é um
esteta reflexivo[4]. É um
doutor, conhece muitas coisas sobre a ciência, a natureza humana, as artes, a
história e deseja algo divino, deseja a onipotência, e por ela, o amor de
Margarida. Em prol disso, Fausto vende sua alma a Mefistófeles e é vítima de
seu desespero, pois percebe sua impotência para administrar agora sua
onipotência. Não alcança a felicidade nem por ser onipotente e muito menos, por
ter o amor de margarida. Ele, então, se desespera.
d)
Assueiro: O poder-não-poder
Condenado a viver
eternamente por não ter auxiliado Jesus a carregar a cruz, Assueiro foi
condenado a viver eternamente. De inicio, nem achou que a maldição lhe imposta
fosse tão penosa assim, mas com o passar do tempo, ele deseja morrer... e não
pode. Ele sente profundamente a dor da perda e é levado ao ceticismo, sem apego
às pessoas e lugares, valores ou crenças etc. Assueiro vive, e vê tudo se
destruindo: cidades inteiras, famílias, todos crescem e de repente se vão,
morrem. Até um ponto em que ele mesmo deseja morrer, mas não pode. Então
Assueiro, assim como Fausto, se desespera.
Enfim, todas as
personagens que vivem na esfera estética e que aqui foram apresentadas, por
fim, caem no mesmo sentimento: no tédio, na insatisfação, na falta de sentido
subjetivo para as suas vidas e no desespero. Contudo, tal, é mais notado pelo
esteta três e quatro, por Fausto e Assueiro. Estetas do tipo reflexivo e que
chegam ao ponto culminante da vida estética.
A vida estética ficou
clara, é uma vida puramente exterior. Nela o indivíduo não toma consciência de
si. Ele não tem subjetividade, interioridade, não se questiona acerca de um
sentido para sua vida. Segundo Gouvêa “ A estação estética está associada ao
imediato, e não há [nela] aceitação consciente de um ideal” ( GOUVÊA, Paixão Pelo Paradoxo. Ed Novo Século.
São Paulo, 2000, p.212).
Sendo assim, o indivíduo
que vive na esfera estética, acaba caindo na exterioridade, na objetividade e
em todas as formas de mentira possíveis. O esteta faz do mundo o seu grande
circo. E tudo o que há dentro do circo torna-se instrumento em suas mãos para
que ele brinque diante da plateia. E a ‘plateia’ aos olhos dele, também não tem
vida, pois no momento em que ele quiser ele a usará como motivo para suas
risadas e façanhas. Chamando um ou outro
a participar do espetáculo, não como agente, mas como paciente– como objeto mesmo.
Estádio Ético: O Indivíduo e a Sociedade
a)
Escolha e Repetição
Ao se estudar o indivíduo
na sociedade, damo-nos conta, de que tal relação, é exclusivamente ética. O estádio ético em Kierkegaard, é o estádio
que vem após a ironia, que é um
‘inter-estágio’ entre os estádios estético e ético. Enquanto que o estético
enfatizava claramente a exterioridade e a falta de interioridade e vida
subjetiva, ou até mesmo, quando no estádio estético, havia reflexão, esta
estava voltada exclusivamente para fins exteriores, posto não haver na reflexão
estética, nenhum traço de subjetividade. O ético por sua vez, enfatizará a vida
interior, subjetiva, a escolha que o indivíduo faz de si mesmo, isto é, do seu
Eu enquanto personalidade, enquanto significante de sua própria existência.
A diferença marcante
entre os estádios estético e ético, é que no estádio estético, o indivíduo
espontânea e imediatamente, é o que é, ao passo que no estádio ético, o indivíduo se torna se o que é através das escolhas que faz[5]. A escolha absoluta é o sinal da ética. O
indivíduo, segundo Kierkegaard, só é ético, quando ele se escolhe a si mesmo de
maneira absoluta[6]. E ele
se escolhe de maneira absoluta, escolhendo-se a si mesmo a cada instante.
Diferente do estético, o qual se frustra por querer repetir o instante, o ético
repete por assim dizer, o instante, fazendo com que tal, se torne duradouro.
Para o homem da estética, o instante é um piscar de olhos. Para o homem ético é
o instante da decisão. O indivíduo sempre que tem de escolher, escolhe o
compromisso. Sempre que tem de escolher, escolhe a seriedade, escolhe a
alteridade. Como se ele renovasse a escolha feita anteriormente, perpetuando-a.
Como alguém que se casa, e assume responsabilidade para com o seu cônjuge. Tal
indivíduo, sempre que se vê na tentação de traí-lo, escolhe novamente a escolha
anterior, ou seja, o matrimônio; perpetuando assim a sua escolha.
Sendo assim, o indivíduo
que vive no estádio ético, se escolhe
de maneira absoluta, pois está sempre reiterando a sua escolha anterior. Tal
indivíduo é constante e perpetua o seu Eu, transformando o que para o esteta
era o instante, em algo duradouro, em
uma constante reiteração.
b) O Matrimônio
O matrimônio é o
arquétipo que simboliza a vida ética e todos os demais modos de vida ética se
espelham nele. Seu primeiro constituinte, ou seja, sua substância, é o amor.[7]Sem
o amor, o casamento se tornará uma simples associação entre duas pessoas, a fim
de satisfazer o apetite sensual, ou de alcançar algum outro objetivo. O amor é
então, o selo do matrimônio. O qual não é finito e nem busca as coisas finitas,
mas é justamente a busca e a tentativa mesma, de alcançar a eternidade e a
infinitude.[8]
Sendo o matrimônio um
compromisso que não busca a finitude e nem as coisas temporais, não podemos
olhá-lo tentando encontrar para ele uma causa igualmente finita e temporal.
Como por exemplo entre aqueles que se casam com o intuito de afirmar seu
caráter, tentando com isso afirmar sua masculinidade, ou até mesmo sua
moralidade e fidelidade. Entre aqueles que se casam para ter filhos, imaginando
ser o casamento algo que diz respeito apenas à procriação, ou entre os
que se casam a fim de escapar à solidão etc[9].
Pois ao contrário de todos estes que se enganam, vendo no matrimônio um fim
finito e contingente, o matrimônio nada mais é que a renuncia destes fins e a
busca pelo amor conjugal.
O indivíduo que contraí
verdadeiramente o matrimônio, resigna ao mundo[10],
aos seus objetivos pessoais e contingentes, para obter em troca disso, o amor
conjugal; amor este, que busca a eternidade. No matrimônio, o indivíduo se
escolhe a si mesmo, como indivíduo ético e compromissado com o seu cônjuge.
Sabe, no entanto, que tal compromisso não se baseia neste ou naquele fim
contingente, mas no amor que ambos sentem um pelo outro, na alteridade,
cumplicidade, resignação, e na repetição (re-afirmação) da escolha, ou da
escolha anterior – o matrimônio.
c) Responsabilidade e Culpa
Todavia, a escolha que o
indivíduo faz de si mesmo, traz consigo a reflexão; da qual surge o senso de
responsabilidade. Se porém, o individuo falhar em sua responsabilidade, surgirá
de seu fracasso, o senso de culpa[11].
O indivíduo no estádio
ético, segundo Kierkegaard, opta pelo dever, pela seriedade, pelo compromisso
consigo e com os outros. Porém, ele acabará por notar sua incapacidade de
cumprir a risca, todos os seus deveres. Seja como marido, seja como patrão ou
empregado, como amigo ou membro de alguma sociedade ou comunidade. Pois a ética
no fim das contas fracassa. Ninguém, segundo Kierkegaard, absolutamente ninguém
consegue cumprir inteiramente o seu dever ou os seus deveres. Todos e
absolutamente todos, tem limitações, tropeçam nas suas fraquezas, no seu
egoísmo e transgridem as leis e as normas.
Obedecer é difícil e não
há quem duvide disto, no entanto, o indivíduo que escolhe obedecer, é porque
enxergou na obediência, algo positivo. Não é fácil obedecer por exemplo, as
leis de trânsito ou um acordo familiar ou mesmo ser fiel no casamento, mas se
se faz isto, é tão somente pela consciência de que se o mesmo não for feito,
não viveremos em paz. E é essa mesma consciência que por um lado nos faz ver os
benefícios da obediência, e por outro, ver a nossa fragilidade em obedecer e,
portanto, a nossa culpa diante da desobediência.
Podendo mesmo, chegar o
momento onde o indivíduo se cansa de todo esforço moral e então ele se angustia[12].
Angustia-se por causa de suas próprias
limitações, suas imperfeições e sua incapacidade em cumprir os deveres morais,
ou dito de outra forma: se cansa de toda a sua imoralidade.
d) Angústia
Todo homem é angustiado, mas a maioria não
entra em contato com a angustia. Kierkegaard define-a como a possibilidade de
poder. Seu grau mais baixo é o da angustia inconsciente, própria do homem do
estádio estético. E seria justamente neste momento de angústia, que o indivíduo
que se encontra no estádio ético na estrada da vida, escolherá como se portar
diante da responsabilidade e da culpa.
O
indivíduo pode se desesperar do mal. Ou melhor, segundo Kierkegaard, o
individuo pode sentir angústia diante do
mal[13].
O indivíduo que sente angustia diante do mal, é o indivíduo que não suporta
mais a sua própria culpa diante da responsabilidade e do dever não cumprido;
diante da transgressão das leis e das normas; diante dos seus próprios
princípios de conduta. O indivíduo que se angustia do mal é o indivíduo que
percebe como é vazia e aborrecida a vida que leva, posto que ele quer o bem,
mas o que ele tem diante de si é o mal. E ele percebe que não só ele quer o
bem, pois pessoas que ele conhece também querem o bem nas suas vidas e na vida
dos seus semelhantes, no entanto, eles estão inertes no mal, como alguém que
está num pântano e não consegue sair (apesar de querê-lo ardentemente). Nesse estádio,
o indivíduo sente remorso e culpa, sente a ausência de liberdade e a
escravidão. Ausência de liberdade para o bem e, portanto, escravidão diante do
mal.
Por
outro lado, o indivíduo pode se angustiar
diante do bem (e essa atitude é
chamada também por Kierkegaard, de demoníaco)[14].
O angustiado diante do bem é aquele que
acha que o bem não é tão bom assim. É o indivíduo que desacreditou do bem e de
sua validade. É o indivíduo que não espera mais pelo bem, posto que talvez o
bem não seja ‘Bem’, ou melhor, talvez o bem nem mais exista; talvez tenha se
tornado uma ilusão, pois a maldade o teria corrompido.
Para
o angustiado diante do bem, a única categoria que de fato existe é o mal. O mal
impera na vida dos homens e em todas as relações. O mal está patente e não há
quem não o possa ver (diferentemente do bem, visto que tal indivíduo sente
enorme dificuldade em enxergá-lo). Os ímpios prevalecem e, segundo Kierkegaard,
o angustiado do bem crê sem sombra de dúvida de que a maldade foi tão forte,
que corrompeu o bem, o absorveu e
transformou. Agora ou o bem não é tão bom assim, ou o bem é mal.
e) Humor
O Humor é o inter-estádio
entre o ético e o religioso. O humorista é aquele que se desesperou de sua
angústia. Se desesperou de cumprir as normas e leis, se desesperou do bem e se
desesperou do mal. Enfim, o humorista é aquele que não achou solução para o
fracasso ético. Ele vê as falhas de conduta das pessoas e os erros que
constantemente elas cometem, vê o sofrimento e a culpa. Mas diante de tudo
isto, ele sorri. Ele sorri porque não só ele, mas todos os demais homens na
face de Terra são incapazes de cumprir o ideal ético, de seguir Á risca as
normas e leis estabelecidas.
Contudo haveríamos de nos
perguntar como ou por quê, o humorista ri da desgraça dos outros e de sua
própria desgraça. E a resposta mais adequada é a de que ele pode rir, pois para
ele os erros humanos não são nada. O que se deveria fazer é relaxar e levar a
vida, pois não importa o que façamos, todos já possuímos o favor de Deus.[15]
O humorista é o indivíduo
que de certa forma ultrapassou o estádio ético, mas não alcançou o estágio
religioso. Ele renunciou a razão e a ética como meios de conduta, mas não
conseguiu se apropriar da fé e do perdão, ou do arrependimento. Segundo Gouvêa,
“ ele chegou a ser trans-moral, mas infra-religioso” (GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo Paradoxo. Novo Século. São
Paulo, 2000, p.219).
Estágio Religioso: O Indivíduo e a Verdade
a) Verdade em Sócrates: A Ruptura
Objetar-me-iam aqui, o
fato de ter colocado o nome de Sócrates no subtítulo deste capítulo. Contudo, o
faço justamente por ser este grande pensador da Antiguidade, um dos pilares da
filosofia kierkegaardiana e por ser grandemente citado em seus escritos, como
que para esclarecê-los melhor. Ora, nos dirá Platão, de que só alcança a
Verdade, aquele que a ama. E o amor começa pelas coisas visíveis. Começamos a
amar os belos corpos, e ascendendo um pouco, amaremos os belos dizeres, os
belos discursos, e ascendendo mais ainda, chegaremos ao amor ideal, o amor em
sua essência. Porém, a Verdade socrática, é alcançada através da reminiscência,
da recordação, e isto equivale dizer, que a Verdade em Sócrates é objeto do
intelecto e da razão[16].
O problema percebido
nesse conceito de Verdade, entretanto, é o problema de como o homem busca essa
Verdade. Pois buscar a Verdade significa admitir que Ela não está em nós, e
portanto, tal busca se fará inviável, visto que não se sabe o que se busca. Mas
mesmo partindo do ponto de vista socrático, como o indivíduo buscará algo que
está dentro dele, ou seja, algo que ele já conhece? Segundo esta perspectiva, a
busca também se torna inviável.
Kierkegaard rompe com
Sócrates nessa questão, e rompe, dizendo ser a Verdade objeto não do intelecto
e da razão, mas da fé e do paradoxo. Para o filósofo dinamarquês, a Verdade é
infinita, atemporal, absoluta e eterna. Sendo assim, seria racionalmente impossível para o indivíduo, se apropriar
dela. O indivíduo é o oposto da Verdade. O indivíduo é finito, temporal,
não-absoluto, etc. Contudo, dirá Kierkegaard, o indivíduo pode sim apreender a
Verdade.
A Verdade para Kierkegaard, seria Cristo encarnado. O Deus infinito
que encarna no homem finito; o atemporal, que se apropria da temporalidade; o
Absoluto que ocorre na não-absoluticidade; seria o paradoxo. Tal paradoxo se dá
no instante. O instante é o momento
em que a Verdade se apresenta ao indivíduo e este, por meio da fé, consegue apreendê-la.
Somos aqui, levados a nos
reportar rapidamente, à noção de discípulo e mestre em Kierkegaard. O discípulo
é a não-verdade, é o finito, o limitado, o incapaz de apreender a
absoluticidade da Verdade. O mestre é Cristo, –
a Verdade – que se dá a conhecer ao
discípulo no instante (paradoxal). A Verdade, qualitativamente maior que o
indivíduo, pois este, limitado por causa do pecado, ou ignorância( para usar um
termo socrático), se rebaixa a ele e deixa ser por ele apreendida.
O importante para o
indivíduo, agora, proprietário da Verdade, não é a recordação, visto que antes
do instante, ele nada era. Ele estava longe da Verdade e perto das coisas
sensíveis estava inerte no pecado e na ignorância; ele era o não-saber, o
não-ser. A Verdade paradoxalmente o alcançou e o levou a um novo ermo: do
não-saber ao saber, do não-ser ao ser. E justamente por este processo de
metamorfose na vida do indivíduo, é que ele não dá importância à recordação,
posto que antes da apreensão da Verdade ele nada era.
Ele valoriza então o
instante, que o fez saltar, pois agora, ele é. Ele é uma tensão paradoxal entre
o não-ser e o ser, entre o finito e o infinito, o eterno e o temporal, o
Absoluto e o contingente.
b) A diferença entre o gênio e o apóstolo
Fala-se muito das
habilidades intelectuais de Paulo, mas tratá-lo assim, é reduzi-lo ao estético.
O que temos percebido com muita frequência é que os conceitos de gênio e de
apóstolo se confundem. Ora, o gênio e um apóstolo se distinguem
qualitativamente. O gênio diz respeito a esfera da imanência e o apóstolo ao
contrário, vive na esfera da transcendência. O gênio tem seu valor por si mesmo
e o apóstolo o tem, pela sua autoridade divina[17].
O pensamento que é
próprio do gênio se dá na esfera da imanência, sendo provocado pela relação dos
homens entre si e com o mundo. O gênio pode até passar-se por paradoxo por um
instante, (estando ao mesmo tempo em sua época e à frente dela) mas esta
espécie de paradoxo se dissolverá quando sua época vier a compreender o que ele
diz.
Contudo, a característica
principal do gênio é a de viver e se manifestar na imanência. O gênio é aquele
que nasce com a potencialidade de reflexão e a desenvolve progressivamente. O
apóstolo ao contrário, não nasce com a potencialidade de reflexão. Ele é
escolhido por Deus e possui uma missão. Ele não é paradoxo por um instante, mas
ele é sempre paradoxo. O que o caracteriza não é uma mensagem da imanência, é
antes, uma mensagem da imanência-transcendência. que seus contemporâneos nunca
chegarão a entender. Nem mesmo com o passar do tempo. Eles só chegarão a
entendê-la pela fé, pois a mensagem proferida pelo apóstolo é sempre um
paradoxo.
O que distingue
qualitativamente o apóstolo do gênio é a sua autoridade divina. Um exemplo para
elucidar a questão seria a de um pensador, um poeta e um rei. Um pensador tem
argumentos lógicos e uma doutrina bem fundamentada, mas nem ele, nem o poeta,
tem a autoridade do rei (ainda que o pensamento deste não seja tão bem
elaborado). O rei tem a autoridade e, portanto, seu mando é reconhecido. É
reconhecido quer por uma carta, quer por um anel na mão do mensageiro. Mas e o
que dizer do mando de Deus ao apóstolo? Objeto de fé. E os sábios julgam-no
filosoficamente. Julgam e analisam a coerência de sua doutrina. No entanto, a
diferença entre a argumentação e a autoridade pode ser elucidada com este
exemplo: se um homem sem autoridade e um com autoridade mandarem alguém
executar algo, o mandamento será igual. Mas qual deles será obedecido?
As diferenças que separam
os homens na imanência serão apagadas, pois diante de Deus, todos os homens são
iguais. Todos se apresentarão a Deus como iguais: como homens pecadores. A
única diferença que realmente existe, é entre o homem e Deus. Diferença esta,
qualitativa e que não será anulada na eternidade. E já que o grau quantitativo
de um homem sobre outro será apagado na eternidade (pois pouco importa se é uma
pessoa de gênio, isso não o fará maior no reino dos céus), temos de nos
perguntar acerca do grau qualitativo. Este sim, não será apagado, mas
perpetuará na eternidade. Se alguém tiver granjeado um, dois, ou três talentos,
tais ficarão com ele (este individuo) e por eles, receberá seu galardão na
eternidade.
Mas como o apóstolo
provará aos demais a sua autoridade? De duas uma: ou ele apelará para a
profundidade de doutrina (o que é semelhante a dizer que um filho deve obedecer
seu pai não porque é seu pai, mas porque é um gênio). Ou ele pode apelar à
autoridade que Deus lhe outorgou.
Notemos pois, de que a
primeira opção de demonstrar a autoridade do apóstolo, é um desvio e que
portanto, só a segunda opção pode de fato, demonstrar a autoridade do apóstolo.
Restará aos que o ouvirem, crer ou não em tal paradoxo. Um apóstolo vive para
os outros em função da mensagem de Deus, já um gênio vive para si mesmo e seu
próprio deleite, em sua obra mesma.
c) Um homem tem o direito de se deixar morrer pela Verdade?
Sobre este tema,
Kierkegaard inverterá o ponto de vista. Não se perguntará se o homem teria o
direito de se deixar morrer pela verdade, mas se teria o direito de fazer com
que os outros homens se tornem culpados de sua morte[18].
A questão é: como Cristo,
sendo todo amor, deixou que os homens se tornassem culpados de sua morte?
Deveria Ele tê-lo evitado?
Ora, Cristo foi
crucificado justamente, por não ter buscado em nada, o seu próprio proveito. E
o que ocorreu por consequência disto, foi que ‘os poderosos odiaram-no porque o
povo queria elevá-lo à realeza, e o povo odiou-o porque não queria ser rei’[19].
O povo odiou-o, pois queria fazer Dele o Messias do instante, dando-lhe glória
e entronando-o. Entretanto Ele recusou-se, pois sabia que sua glória não se
daria no instante, e sim, na eternidade.
O povo, oprimido
politicamente, finalmente encontrara, quem o podia libertar. Porém, o
povo estava embebido de orgulho e o orgulho leva ou à divinização ou ao
desprezo de si. Pois eis que Aquele que o podia libertar, afirmou
terminantemente, de que não tem nada que ver com a política. Que a decadência
do reino, o orgulho nacional, etc não o importam, já que seu reino não é deste
mundo.
Então o povo, de uma
intenção não realizada, passa à outra, num pólo exatemente oposto – do entronamento à crucificação. Do amor a si, ao
desprezo de si. Uma mudança brusca, que com certeza, se o povo tivesse tido
tempo para respirar, não o faria.
O importante aqui é de
que Cristo se declara Deus. E diante disto, só temos duas opções: ou
adoramo-lO, ou inversa e bruscamente, condenamo-lO. Não há possibilidade de
indiferença e nem de meio termo. E Cristo quer morrer (neste caso especifico,
tal ato não é tentar a Deus, posto que está em harmonia com a vontade divina),
mas para isso, é preciso que O matem. Ele quer morrer, mas não quer que ninguém
se torne culpado de sua morte. Ora, Cristo quer humanamente falando, quer
divinamente falando, tinha tudo para evitá-lo; mas não! Ele quer morrer e não
só quer morrer, quer também que tal morte, não constitua um pecado diante de
Deus. Então Ele é crucificado, sem que por isso, se tornem culpados aqueles que
o condenaram. Vê-se claramente aqui, como tal atitude é paradoxal.
Mas terá um homem o
direito de se condenar à morte pela Verdade? Em outras palavras: terá o homem,
por dever à Verdade, fazer com que os outros se tornem culpados por seu
homicídio? Pois tal homem, tendo a Verdade e a justiça a seu lado, acusa os
outros de culpabilidade.
No entanto, o homem
portador da Verdade, é também qualitativamente mais responsável que os outros.
Ele será responsável tanto por sua escolha por se deixar condenar à morte pela
Verdade, como por aqueles que o condenarem. Um homem que se deixa condenar à
morte pela Verdade, talvez desperte reflexão nas gerações nas vindouras. Talvez
diminua a força da mentira. Mas será que isto libertaria da acusação aquele que
se deixou morrer pela Verdade?
Neste ponto, Kierkegaard
diferencia Cristo dos demais homens. Os homens, além de não diferirem muito
entre si quanto à posse da Verdade, também não tem um dever absoluto para com
Ela. Todavia, Cristo, tanto tem um dever absoluto, como Ele mesmo é a própria
Verdade. E diferentemente dos outros homens, Cristo não é culpado pelo
homicídio dos seus contemporâneos, acusadores –
e isto porque sua morte tem efeito retroativo: ela altera o passado, ou seja,
embora os que O mataram foram condenados, em seguida, foram também, perdoados.
Se os homens condenam
alguém à morte pelo simples fato deste alguém tê-los anunciado a Verdade, pode
ser por mera incompreensão. E também aqui, abre-se uma exceção para Cristo,
pois Cristo sabia que não O queriam compreender por causa da impiedade de seus
corações. De modo que, ‘ a parte de culpa de que se tornavam manifestamente
culpados, correspondia sempre exatamente à parte de culpa que neles permanecia’[20].
Mas um homem natural não pode dizer se não o querem compreender por causa da
impiedade dos seus corações, ou simplesmente por ignorância. Todavia, se
responsabilizam outrem por condenar alguém
movidos pela ignorância, não seria exagerar
no juízo? O fato é que sempre que condenam alguém pela verdade, é porque não se
aceita tal concepção de verdade (por entenderem que a Verdade seja outra).
Então o condenam, acreditando fazer justiça. Mas será licito condená-los por
ignorarem o que seja a Verdade e a justiça?
Eis o que alguém tem de
fazer para se tornar mártir de sua época: Deve primeiro conhecê-la, com seus
medos, suas paixões, aspirações e etc. Em seguida, fazer-se admirado, sendo
para a época o que esta exige quanto ao instante, e ser ao mesmo tempo o que
ela exige quanto à eternidade. Logo que se revelar de que a solução que ele
veio propor, dar, à sua época, não diz respeito somente ao instante, mas
dialeticamente, ao instante e à eternidade, a sua época passará da admiração à
repulsão e condená-lo-á à morte, ou mais
propriamente: Ele próprio se terá condenado.
Tendo chegado a este
ponto, Kierkegaard nos chama atenção para uma segunda questão: ‘ qual pode ser,
em relação à Verdade, a heterogeneidade de homem para homem?’[21]. Kierkegaard
quer nos mostrar, que a resposta à esta primeira questão, depende
exclusivamente da resposta à segunda questão.
Supondo de que um homem
possa ter a Verdade, pensemos em qual seria a culpa maior: condenar os outros
pela sua morte, ou de algum modo, acomodar/modificar a Verdade para que se
torne acessível aos seus contemporâneos.
Porém, longe de ser um
dado homem, mais puro que os outros (estando portanto, na posse da Verdade),
são todos pecadores. Sendo assim, um homem não tem o direito de se deixar condenar
à morte pela Verdade. E no entanto, cabe notar, a dialética que tal afirmação
pode trazer consigo, porque se um indivíduo vive numa tirania ( quer de uma
pessoa, ou de uma multidão), ele pode morrer por defender a tese de que o homem
não tem o direito de se deixar condenar à morte pela Verdade. Mas Cristo mudou
radicalmente estes dados. Ele não era um homem, era a Verdade. E assim como a
diferença entre Cristo e o homem é absoluta, assim também a dos cristãos em
relação aos pagãos. Portanto, ao se falar em deixar condenar à morte pela
Verdade, fala-se da relação cristianismo/não-cristianismo.
Sócrates por exemplo, não
se deixou condenar à morte pela Verdade, mas levando ao extremo a ironia, foi
condenado à morte por sua própria ignorância. O que Sócrates dizia, é óbvio,
tinha uma dose de verdade, mas não era a Verdade Absoluta. Do mesmo modo que
Sócrates possuía uma verdade relativa em relação aos seus contemporâneos, assim
também, os homens entre si – quer na relação
de cristão para cristão ou na relação de cristão para pagão.
Com base nisto, uma das
atitudes que se pode ter, é a do indivíduo que considera de que os outros detém
mais verdade do que ele. Tem-se por inferior e modela o seu juízo com base no
deles (tomando-os como critério de verdade). Todavia, com Sócrates e depois do
cristianismo, a Verdade é tida como estando com a minoria. De modo que o
número, a quantidade, é a mentira (ela não pode servir como critério de
verdade). A Verdade, está sim, em quem aponta o erro. A conclusão de tudo isto
é: abre-se uma exceção à Cristo, que não podendo evitar, morreu pela Verdade,
mas perdoou os homens de tal homicídio[22].
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[3] MESNARD,
Pierre. Kierkegaard. Trad. Rosa Carreira.
Rio de Janeiro: Biblioteca Básica de Filosofia, [19-- ], p. 24- 25.
[4]
Cf. BLANC, Charles le. Kierkegaard.
Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, 2003, p. 56-57.
5.
Cf. KIERKEGAARD, S. Aaybe. Either/Or
(Part II). Trans Howard & Edna Hong Princeton, NJ: Princeton University
Press, 1987, p. 178.
6. Ibid., p. 204.
[7] C.f.
KIERKEGAARD, Sören. O Matrimônio.
Trad. Rodolfo Konder. Ed. Laemmert S.A. Rio de Janeiro 1969, p.33.
[8] Cf.
KIERKEGAARD, Sören. O Matrimônio.
Trad. Rodolfo Konder. Ed. Laemmert S.A. Rio de Janeiro 1969, p. 34.
[9] Ibid.,
p. 63-87.
[10] Ibid.,
p. 36-38.
[11] Cf.
GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo
Paradoxo. Ed. Novo Século, São Paulo, 2000, p. 213.
[12] Ibid., p. 116.
[13] KIERKEGAARD, Sören. O Conceito De Angústia. Trad. Torrieri
Guimarães. Hemus, São Paulo, 1968, p. 117, 118.
[14] Ibid., p.
122-124.
[15] Cf.
GOUVÊA, Ricardo Quadros. Paixão Pelo
Paradoxo. Novo Século. São Paulo, 2000, p. 219.
[16] Cf.
PAULA, Márcio Gimenes de. Socratismo e
Cristianismo em Kierkegaard: o escândalo e a loucura. São Paulo, 2001, p.
65-68.
[17] Cf.
KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista
Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa,
1986, p. 157-173.
[18] Cf.
KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista
Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa,
1986, p. 125-156.
[19] Ibid.,p.130.
[20] Cf. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra
Como Escritor. Trad. João Gama. Ed. 70, Lisboa, 1986, p. 142.
[21] Ibid.,
p. 150.
[22] C.f. KIERKEGAARD, Sören. Ponto De Vista Explicativo Da Minha Obra Como Escritor. Trad. João Gama.
Ed. Lisboa, 1986, p. 155.
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