sexta-feira, 26 de julho de 2013

O pobre crucificado e o pobre de Assis:

O CAMINHO DAS DUAS POBREZAS
                                                        
                                         
A verificação dos estigmas de São Francisco após sua morte (1297-1299). 
Giotto


Jesus foi um judeu pobre, que segundo os evangelhos, nasceu em Belém, um lugar pobre da Judéia. Tendo nascido em pobreza material, ele escolheu por adquirir uma segunda pobreza, a pobreza de espírito - que é a humildade.

Francisco de Assis, foi filho de Pedro Bernardone, um rico comerciante da cidade de Assis, na Itália. Sendo rico, o jovem Francisco renuncia a riqueza do pai, após desilusões com as Cruzadas e com a boêmia dos jovens de seu convívio social e obedece a voz do Senhor que lhe disse: " Francisco, vai e repara minha igreja". Ao fazer isto, ele abraça a primeira pobreza, que é a pobreza material. Para em seguida, abraçar a segunda pobreza, que é a de espírito - a pobreza que consiste em um espírito humilde, uma disposição humilde para com todos.

Humildemente, Jesus se despoja de todas as honrarias deste mundo, se esvaziando para ser pobre e humilde de espírito. Sujeitando-se até mesmo a morte mais humilhante para sua época - a morte de cruz. Na cruz só eram pregados aqueles considerados indesejados para a sociedade (homicidas, ladrões e etc).

Humildemente, Francisco se despoja de todas as honrarias deste mundo, esvaziando-se para ser pobre e humilde de espírito. Pois somente um pobre pode olhar com respeito e admiração Outro pobre. Francisco se esvazia para poder servir o Cristo pobre. Servindo-o em toda criatura que passe alguma sorte de necessidade.

Jesus, carrega a cruz até o Gólgota, para fora dos muros da cidade. Francisco carrega a cruz até os leprosos e moribundos, para fora dos muros da cidade. Os dois aceitam o martírio, a humilhação e a crucificação, por amor a Deus. Este Deus cujo rosto, é o rosto castigado dos pobres.

E, os pobres estão na maioria das vezes, fora dos muros da cidade. Esquecidos e abandonados. Somente alguém que esteja disposto a sofrer as dores do martírio por carregar a cruz, iria até os muros da cidade e comungaria de igual para igual com os esquecidos.

Jesus comungou com um dos ladrões que estava ao seu lado, na cruz. Este, rogou-lhe o perdão por seus pecados e vida desregrada. E foi perdoado. Francisco comungou com os leprosos, sem medo de ser contaminado pela lepra.

A santidade não pode ser contaminada pelo pecado, mas sempre o cura. Peçamos ao Senhor, que nos faça pobres de espírito, humildes e modestos. Que não nos arroguemos ser maior que ninguém. E, para que humildemente, caminhemos para fora dos muros da cidade, socorrendo os esquecidos, aqueles a quem a nossa sociedade capitalista, competitiva e consumista veem crucificando. Aqueles a quem nos acostumamos a julgar como indesejáveis e por isso mesmo, não sentimos remorso de pô-los às margens da cidade para que morram pregados em nossa cruz moderna.

Por eles, escrevo esta carta. Os pobres, órfãos, mendigos da Praça da Sé, velhos em asilos, crianças sem tratamento médico adequado, vítimas das guerras e da AIDS, os dependentes químicos e etc.

Aos pobres de Israel, o pobre crucificado. Aos pobres de Roma, o pobrezinho de Assis. Aos pobres da argentina, o cardeal Bergoglio e, aos pobres do mundo - O rosto pobre de Deus, castigado por nossas maldades, e mesmo assim, compassivo para com todos.

Sigamos as pegadas do Senhor, que ensinou: " Bem-aventurados os pobres..." (Mt. 5; 3) e, façamo-nos pobres como Ele. Primeiro, de pobreza material, abdicando de tudo aquilo que NÃO precisamos efetivamente para viver. Dos luxos e consumismos. Pois, o contrário, é ajuntar bens que a traça rói e o ladrão rouba (Cf. Luc. 12;34). É tirar dos outros e promover a desigualdade social. Segundo, de pobreza espiritual, fazendo-nos humildes e não nos julgando superiores nem mesmo à mais ínfima das criaturas. Pois do contrário, estaríamos ignorando a ordem criada por Deus e de que todas as criaturas tem o seu devido valor. Você, querido amigo, precisa ate mesmo de uma simples mosca, sim, uma pequenina e pobrezinha mosca, pois sem ela, sofreria o desequilíbrio ecossistêmico. Elimine as moscas e veja como fica desequilibrada a vida de todo o ecossistema. Elimine-as e veja como fica sua própria vida.

Finalmente, devemos perceber, como disse Leonardo Boff quando palestrava para as pessoas do Araguaia no filme Anel de Tucum, que a desigualdade social é sim, um problema de ecologia, pois afeta o equilíbrio entre os homens.

Assim, como Jesus e Francisco, sigamos o caminho das duas pobrezas. O da pobreza material e o da pobreza (humildade) espiritual. Façamo-nos um pouco mais pobres, dando algo ao nosso irmão e... quando menos esperarmos, o Reino de amor estará entre nós. Não haverão mais cruzes fora da cidade, nem gente pregada nelas, nem "indesejados", pois todos estarão vivendo a fraternidade cristã na própria cidade e com uma alegria espontânea, tal como as aves  que regorjeiam despreocupados, porque sabem que o Senhor proverá suas necessidades ou como os lírios do campo, aos quais Deus graciosamente veste (Cf. .Mt. 6; 26-29).

Paz e Bem,
José Chadan


Nenhum comentário:

Postar um comentário