Surpresa é um componente do humor - Retirado da Wikipedia , verbete Humour.
José Chadan
O
humor é a faculdade humana capaz de fazer o homem rir – de si mesmo e dos
outros. Mas não é um rir no sentido de zombaria, escárnio ou depreciação. Pode ser
mesmo um rir em ver-se ridículo, mas nunca em depreciar-se ou depreciar o
outro.
O bom humor, o humor bem feito e de boa qualidade,
caracteriza-se sobretudo pela catarse,
que compreendida por Aristóteles e por toda a dramaturgia grega, seguia um
duplo movimento: (i) rir de si, perceber o quão ridículo somos em determinados
momentos e, (ii) ao rir-se, libertar-se e purificar-se de uma certa fixação em
parecermos desta ou daquela forma.
O
resultado final do bom humor e da catarse, seria, portanto, o alívio das
tensões, uma certa leveza, purificação e a aceitação de dadas situações como
eventos naturais ou algo que o valha.
Um
exemplo de bom humor e catarse, para não nos delongarmos demais, seria: ao ver
uma cena cotidiana, onde o homem, todo estabanado, não sabe como se declarar a
sua amada (ao vermos tal cena, nos identificamos com o aspecto ridículo da
cena, e nos sentimos mais leves, percebendo o quão natural isso é). Ou,
contemplamos uma cena de dois amigos embriagados falando besteiras e, ao
assistir tal cena, nos enxergamos neles, nos projetamos, sendo capazes de rir
deles, mas também de nós mesmos e assim, tornarmo-nos mais leves e críticos em
relação ao que nos faz de certa forma, ridículos.
Contudo, não é isso o que vemos no humor que tem sido
feito no Brasil. Não é bom humor, porque não é possível por meio dele, realizar
o processo de catarse (leveza e purificação). O humor brasileiro, mormente o
atual, é feito de grosserias, xingamentos, de rebaixar o próximo e etc. Não
traz catarse nem para quem o faz, nem para quem o assiste. Satirizam a
religião, as crenças mais profundas e sagradas de uma pessoa ou povo e, não!...
não é feito com o intuito de enaltecer o homem ou entrever os meandros e modismos
de determinado credo, mas é feito com a única intenção de fazer rir! Rir do quê?
De nada. Rir sem propósito algum. Não há catarse (leveza e purificação) nisto!
Semelhante são os casos onde o humorista se utiliza de
figuras como uma pessoa com síndrome de down, etnia ou qualquer outro traço que
a identifique em sua individualidade, simplesmente para satirizar sem nenhum
outro propósito que a sátira por si mesma, a audiência e a fama!
Os humoristas contemporâneos deixaram de consultar os
mais velhos, aqueles que muito tempo antes deles terem nascido, já
estavam rindo e fazendo rir. Mas não sem propósito e desmedidamente como fazem
os humoristas atuais. Antes, produzindo catarse em seus ouvintes. Fazendo com
que eles, ao verem-se ridículos, saíssem do espetáculo mais leves e purificados
daquilo que antes, lhes parecia ridículo e demérito.
Os
humoristas agiam em seus palcos como verdadeiros exorcistas, expulsando demônios
de si mesmos e de seus ouvintes, por meio da dramaturgia e de risos – risos estes,
não sarcásticos ou maliciosos, mas risos leves e que beiravam à
confraternização de todos que em coro, juntavam as vozes para rir a mesma risada/gargalhada.
E, aos que pensam que os tempos mudaram e que o humor de
antes não pode ser o humor de hoje, vale lembrar a estes, de que a todo
principiante em qualquer arte, é-lhe preciso consultar os doutores, senão por
respeito, ao menos pelo Princípio de
Autoridade. Para fazer bom humor, é preciso consultar primeiro aqueles que
foram doutores na arte do humor. Não é preciso segui-los se não quiser, mas faz-se
necessário ao menos consultá-los e tomá-los como a referência primeira de uma
determinada arte, no caso, a arte de fazer rir – a arte do humor.
Doravante, o bom humor se caracteriza fundamentalmente
por provocar tanto no comediante quanto na plateia, o processo de catarse
(purificação e leveza). Se a comédia não faz isto, ela não é e nunca será boa
comédia! Não é e nunca será bom humor! E, note-se que mesmo o chamado “humor
negro” pode produzir catarse, mas é preciso que seja feito com propriedade e
muito respeito pela profissão e arte humorística.
LEIA TAMBÉM:
A POÉTICA – de Aristóteles.
INICIAÇÃO À ESTÉTICA –
de Ariano Suassuna.