domingo, 7 de julho de 2013

Consciência de e Consciência de Si

Texto produzido em parceria com meu pai.

Falamos de que só há consciência de, ou seja, a do sujeito conhecendo-se face ao objeto, conhecimento este que por sua vez implica no conhecimento da relação entre sujeito e objeto. A pergunta: o que você faria no lugar dele? Implica que você veja a situação que é o objeto sob o ponto de vista do sujeito à quem a pergunta se refere. Quando se fala que o fulano não tem consciência, comumente se pretende com isso dizer que ele procede sem se importar com os juízos de valor que não sejam os seus. Ao se colocar na condição do outro, o sujeito conhece o objeto sob um ponto de vista diverso do seu, assim conhece melhor o objeto, a pessoa e também a si próprio.   

A capacidade cognitiva de se transpor para a consciência do(s) outro(s) desenvolve no ser humano a aptidão do convívio social, capacidade que nele se manifesta por volta dos quatro anos de idade resultando na conduta cooperativa em substituição à egocêntrica da primeira infância. Pessoas egoístas são as que não lograram realizar essa transição devidamente e são inaptas para se transpor ao ponto de vista do outro e assim conhecer a realidade da forma que o outro a conhece.

Curiosamente uma das funções sociais do teatro é justamente desenvolver em nós essa aptidão. Atores e espectadores se transpõe às condições em que se encontram os personagens para verem o mundo sob o ponto de vista desses. Para serem convincentes, os atores encarnam os personagens e suas consciências “apagando” as suas enquanto representam. Aos espectadores por sua vez cabe interagir com o teatro ora enxergando a partir dos personagens, ora voltando às suas próprias consciências. Ao desenvolvimento desta aptidão devemos a evolução do ser humano como individuo social, sem o que, seriamos reduzidos a meros agrupamentos humanos que só se ocupam de interesses individuais.

Quanto mais aptos mais cooperativos e sociáveis seremos, adquirindo ao passo de nossa individualidade a consciência também de nossa realidade social, sem a qual e na falta da qual, até como indivíduos não sobrevivemos. Egocentrismo e homocentrismo, o individuo no centro ou a sociedade, ora pendendo por um ora por outro, sobre esses dois pólos da consciência se ergue e se edifica a personalidade humana.

Quando vemos alguém necessitado e o socorremos, na verdade assim procedemos por tornarmo-nos cientes da situação sob o ponto de vista da pessoa e por ela agimos o socorrendo como se dela fosse a nossa consciência. Os animais tem consciência de  mas não se transpõem a outras consciências como o fazemos nós humanos e nem refletem sobre si mesmos tendo como objeto de conhecimento suas próprias consciências (os animais não fazem exame de consciência). No ato de reflexão e de auto-avaliação conhecemo-nos a partir das nossas consciências, que se dá sempre perante situações que exijam de nós um posicionamento, conhecimento este que chamamos consciência de si.

Ter  consciência de nos dá a capacidade de agir alterando o curso natural do mundo para aquilo que desejamos que ele seja. Ter consciência de si nos dá a capacidade de modificar a nossa própria pessoa transformando-a na pessoa que desejamos ou devemos ser.  A consciência de si produz no homem sentimentos próprios tais como vergonha, culpa, orgulho, arrependimento, etc sem a qual não haveria ética e moralidade.


                                                               ***



QUESTÕES:

 1. Diga qual a diferença entre conhecimento e consciência?
 2. Baseado na definição dada, pode existir consciência sem o objeto do conhecimento?
 3. Em que sentido o dever gera um sentimento de consciência de si?
 4. Fale da vergonha e da culpa como sentimentos de consciência de si.
           

            

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