A razão
descobrindo-nos o mundo
Texto produzido em parceria com meu pai.
Se
cruzarmos entre si as inúmeras aplicações que se faz da palavra razão,
constatamos que todas, via de regra, apontam para o objeto à que se referem
como efeito de alguma causa. Esta concepção resume que o mundo seja ordenado
por causas e efeitos e como tal, seja previsível, funcional e inteligível.
Ainda que reconheçamos o acaso, o fazemos atribuindo-o ao desconhecimento da
verdadeira causa ou então a mera exceção da própria regra, qual seja, a
causalidade universal sobre a qual temos histórico e culturalmente fundamentado
a nossa compreensão de mundo.
A
diferença entre o homem e o animal é que este tem acesso apenas a razão
intuitiva, podendo somente identificar as causas imediatas dos objetos de sua
indagação enquanto que o homem, pela razão discursiva que logra formular,
identifica não só as causas imediatas como as mediatas e até remotas dos
objetos de sua indagação.
O
homem primitivo foi igualmente adepto da razão, atribuindo por isso aos deuses
e as forças imateriais imaginárias o nexo causal dos fenômenos que faltavam-lhe
ao conhecimento. Assim, fenômenos naturais como trovoes passavam a ter suas
causas em possíveis transtornos de humor dos deuses ou então as enfermidades a
ação deliberada dos espíritos e assim por diante; ou seja, o homem primitivo ao
contrario do que julga o senso comum, não era irracional, faltava-lhe apenas a
descoberta das causas reais dos objetos de sua indagação, razão porque lançava
mão dos mitos e deuses para manter-se fiel à sua concepção de mundo como
realidade causal, ainda que fantasiosa e pouco eficaz, porém dotada de
coerência cognitiva que o guardasse da confusão num mundo caótico e
imprevisível.
A
razão é pois a descoberta/ re-conhecimento do nexo causal direto ou indireto,
imediato ou mediato que segundo a nossa concepção de mundo deve existir entre
todas as coisas materiais como extensivamente às imateriais. Quando queremos
compreender alguma coisa ou ocorrência, buscamos logo identificar o que lhe
possa ter sido a causa, inclusive para prevenirmo-nos dos possíveis efeitos que
dela possam advir. Todo efeito é por assim dizer causa de outro efeito e assim
sucessivamente.
As
nossas idéias sendo representação mental do mundo seguem por isso o mesmo
padrão de nexo causal e coerência interna. Uma idéia fundamenta outra idéia que
por sua vez pensa e produz ou causa uma nova idéia, fazendo deste modo que
nossos pensamentos organizem-se segundo o padrão do mundo que buscam
representar. Se o mundo for regido pela causalidade, nossos pensamentos o serão
também, seremos racionais; se o mundo for caótico, nossos pensamentos se
desencontrarão levando-nos à confusão. A razão é pois condição para o
conhecimento humano.
Distinguimos
o homem do animal pela sua razão discursiva, capacidade cognitiva que lhe dá
condição de planejar ações de médio e longo alcance que a razão intuitiva não
logra fazer. A razão discursiva é capacidade de reconhecimento dos princípios
gerais que regem o mundo e aplicação desse conhecimento as nossas experiências
pessoais. A razão não é o conhecimento em si, mas a capacidade de alcança-lo;
ela como estrutura cognitiva preexiste
ao conhecimento que por ela é produzido empiricamente, ou seja, a razão
como forma ainda que inata somente obtém o seu conteúdo à partir da experiência
cognitiva. Esta mesma forma de conhecer o mundo é também sujeita a
transformações ao longo da historia.
Inata
ou empírica e/ou histórica, o que resulta do exposto que a razão é a linguagem
humana da concepção de um mundo essencialmente causal.
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