domingo, 7 de julho de 2013

A Razão Descobrindo-nos o Mundo

            A razão descobrindo-nos o mundo

Texto produzido em parceria com meu pai.

            Se cruzarmos entre si as inúmeras aplicações que se faz da palavra razão, constatamos que todas, via de regra, apontam para o objeto à que se referem como efeito de alguma causa. Esta concepção resume que o mundo seja ordenado por causas e efeitos e como tal, seja previsível, funcional e inteligível. Ainda que reconheçamos o acaso, o fazemos atribuindo-o ao desconhecimento da verdadeira causa ou então a mera exceção da própria regra, qual seja, a causalidade universal sobre a qual temos histórico e culturalmente fundamentado a nossa compreensão de mundo.
            A diferença entre o homem e o animal é que este tem acesso apenas a razão intuitiva, podendo somente identificar as causas imediatas dos objetos de sua indagação enquanto que o homem, pela razão discursiva que logra formular, identifica não só as causas imediatas como as mediatas e até remotas dos objetos de sua indagação.
            O homem primitivo foi igualmente adepto da razão, atribuindo por isso aos deuses e as forças imateriais imaginárias o nexo causal dos fenômenos que faltavam-lhe ao conhecimento. Assim, fenômenos naturais como trovoes passavam a ter suas causas em possíveis transtornos de humor dos deuses ou então as enfermidades a ação deliberada dos espíritos e assim por diante; ou seja, o homem primitivo ao contrario do que julga o senso comum, não era irracional, faltava-lhe apenas a descoberta das causas reais dos objetos de sua indagação, razão porque lançava mão dos mitos e deuses para manter-se fiel à sua concepção de mundo como realidade causal, ainda que fantasiosa e pouco eficaz, porém dotada de coerência cognitiva que o guardasse da confusão num mundo caótico e imprevisível.
            A razão é pois a descoberta/ re-conhecimento do nexo causal direto ou indireto, imediato ou mediato que segundo a nossa concepção de mundo deve existir entre todas as coisas materiais como extensivamente às imateriais. Quando queremos compreender alguma coisa ou ocorrência, buscamos logo identificar o que lhe possa ter sido a causa, inclusive para prevenirmo-nos dos possíveis efeitos que dela possam advir. Todo efeito é por assim dizer causa de outro efeito e assim sucessivamente.
            As nossas idéias sendo representação mental do mundo seguem por isso o mesmo padrão de nexo causal e coerência interna. Uma idéia fundamenta outra idéia que por sua vez pensa e produz ou causa uma nova idéia, fazendo deste modo que nossos pensamentos organizem-se segundo o padrão do mundo que buscam representar. Se o mundo for regido pela causalidade, nossos pensamentos o serão também, seremos racionais; se o mundo for caótico, nossos pensamentos se desencontrarão levando-nos à confusão. A razão é pois condição para o conhecimento humano.
            Distinguimos o homem do animal pela sua razão discursiva, capacidade cognitiva que lhe dá condição de planejar ações de médio e longo alcance que a razão intuitiva não logra fazer. A razão discursiva é capacidade de reconhecimento dos princípios gerais que regem o mundo e aplicação desse conhecimento as nossas experiências pessoais. A razão não é o conhecimento em si, mas a capacidade de alcança-lo; ela como estrutura cognitiva preexiste  ao conhecimento que por ela é produzido empiricamente, ou seja, a razão como forma ainda que inata somente obtém o seu conteúdo à partir da experiência cognitiva. Esta mesma forma de conhecer o mundo é também sujeita a transformações ao longo da historia.

            Inata ou empírica e/ou histórica, o que resulta do exposto que a razão é a linguagem humana da concepção de um mundo essencialmente causal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário