domingo, 7 de julho de 2013

Inteligência, Aprendizagem e Esquemas de Ação

Fragmento de uma foto retratando um pocket trumpet, retirado da Wikipédia
Autor: José-Manuel Benito

Texto produzido em parceria com meu pai.



A cada auto-avaliação corresponde um contexto perante o qual nossas possibilidades são postas a analise e valoração. Se estou diante de um obstáculo qualquer, a minha auto-avaliação o terá como referencia visando assim identificar as minhas chances de superá-lo, o que resulta numa auto-avaliação voltada ao obstáculo em questão, auto-avaliação esta que não se aplica a outro obstáculo qualquer senão aquele e seus similares. Somos a todo momento levados a situações as mais diversas, desde aquelas recorrentes com as quais nos deparamos com certa freqüência e regularidade e para as quais possuímos esquemas preconcebidos de ação, até aquelas que ocorrem inadvertida e esporadicamente para as quais não possuímos esquemas tendo que buscar-lhes soluções no momento da ocorrência, soluções que por sua vez darão origem a novos esquemas de ação. As auto-avaliações em conjunto apontam na direção do individuo que somos, formando em nossa consciência a imagem valorativa daquilo que somos como indivíduos perante o mundo.
            Nesse continuo processo de formação da consciência de si, somos freqüentemente levados a erros de todo tipo. Uma auto-avaliação não precisa se basear em falsas premissas para ser errônea, basta que se lhe exageremos num aspecto para mais ou para menos. A pessoa neurótica por exemplo se caracteriza por exagerar os aspectos negativos da vida a ponto de vê-los como ameaças à própria vida, interagindo assim a partir de atitudes igualmente exageradas e obsessivas. A correta auto-avaliação nos dá o conhecimento das múltiplas possibilidades ao nosso alcance para direcionarmos os acontecimentos àquela possibilidade que queremos tornar real. A interação do homem com o mundo assim como os animais é primeiramente adaptativa para em seguida tornar-se criadora do mundo como realidade humana
            Na forma adaptativa são os desejos que impulsionam para a ação enquanto que a ação criadora é motivada pela força de vontade, fonte interior de motivações das atividades humanas. As ações podem se dar de modo conexo visando conjuntamente a um resultado; a este tipo de ações chamamos atividade. Num jogo de futebol por exemplo há o gol oportunista e há o gol como resultado de série coordenada de jogadas (ações). O primeiro como jogada representa ação isolada de um jogador e o segundo uma atividade configurada por ações coordenadas dos jogadores. É importante termos em conta a distinção das ações que se finalizam em si mesmas daquelas que integram um esquema de ação e como tal com finalidade própria. Ações todavia, se dividem em aquelas que se dão basicamente por semelhança e aquelas que se diferenciam das demais. Nossas vidas são repletas de ações semelhantes, até porque visam a resultados também semelhantes. Todos os movimentos (ações) de que precisamos para comer são memorizados em nossa consciência por esquemas preconcebidos de ação para a boa execução da tarefa, a qual apesar de requerer série coordenada de ações, se dá por força de tais esquemas sem quase nenhum esforço mental, atividade esta que se realiza a partir da experiência e do habito dando-nos inclusive a condição de tratar de outros assuntos enquanto comemos sem prejuízo deste.
            As tarefas cotidianas de modo geral seguem o mesmo rumo; só prestamos atenção quando deparamo-nos subitamente com detalhes que diferenciem uma tarefa de suas semelhantes. Quanto mais experiências acumularmos numa certa atividade mais recursos teremos adquirido em forma de esquemas de ação para realizar-lhe as tarefas. Dirigir o carro por exemplo, implica em conjugar o manejo da direção, do freio, do câmbio, da embreagem e do acelerador bem como dos retrovisores e tudo o mais que diz respeito ao que costumeiramente acontece no trânsito. Um aprendiz de direção recebe a instrução de acionar e usar cada um desses controles mas é em sua consciência que ele formula os esquemas aplicáveis as mais variadas situações freqüentes; não pensa mais em cada ação isoladamente, mas em series coordenadas que realiza como ato único e esquema de ação. Quanto maior o número e a precisão dos esquemas assim preconcebidos, melhor será o desempenho do motorista, mesmo em situações imprevistas para as quais não disponha previamente de esquema, pois a riqueza dos recursos de que dispõe lhe habilitam a encontrar a solução com mais probabilidade que outro com menos esquemas memorizados em sua consciência.
            Um pianista não executa uma peça senão através de frases musicais, as quais representam esquemas de notas musicais coordenadas sem o que teria que executar a peça nota por nota, tarefa que lhe impediria tanto a boa execução como a interpretação musical da peça. A própria leitura da partitura musical seria impraticável se fosse nota por nota e não por série de compassos e frases musicais. O mesmo vale para falar e escrever. Não pronunciamos as palavras letra por letra nem as sentenças palavra por palavra, embora em tese o façamos dessa maneira, mas na pratica o fazemos aplicando-lhes o principio dos esquemas. Ao estudarmos uma língua estrangeira, a função dos esquemas se torna mais evidente porque a maior dificuldade encontrada não é do vocabulário e sim da gramática que justamente cuida de elaborar os esquemas lingüísticos.

            Um jogador de futebol elabora para si esquemas/seqüência de jogadas para driblar o oponente. Quanto mais variados forem seus esquemas, mais difícil será contê-lo. A distinção do craque está justamente na variedade e eficácia dos esquemas que desenvolve para jogar. Toda tarefa recorrente por mais complicada que venha a ser é sempre passível de execução, por elaborarmos esquemas conjugando as múltiplas ações que a compõem como sendo só uma e as executamos conjuntamente como tal.      

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