domingo, 7 de julho de 2013

Pensar os pensamentos e Sentir os sentimentos

Texto produzido em parceria com meu pai.


Nascemos com os dois sentimentos primordiais de atração e aversão. A atração que busca a sensação de gozo e o sentimento de prazer e a aversão que repele a dor e evita o sofrimento, formam a base de nosso aparato afetivo e o mantém sob essa mesma orientação por mais complexo que venha a se tornar. Os nossos atos, por mais corriqueiros, tem que direta ou indiretamente nos auferir prazer ou não os praticamos exceto por coação. Dum predador fugimos não por prazer, mas por medo que nos coage a tal, sentimento este que é de sofrimento e provém de aversão. Aos sentimentos de sofrimento por sua vez, sentimos aversão e aos de prazer, atração. O ódio, por exemplo, que é um sentimento de aversão radical, causa a quem o sente um terrível sofrimento pelo qual terá naturalmente aversão e do qual não pode se livrar enquanto não vencer aquele contra quem sente o ódio ou ao seu próprio sentimento como tal.  A vingança como superação do objeto do sentimento e o perdão como superação de si próprio do sujeito que sente, representam ambos as soluções afetivas para o caso. A mágoa por sua vez é um sentimento composto pela atração e a aversão, com prevalência deste último. Só temos mágoa de pessoa por quem estejamos afetivamente atraídos. À medida que a mágoa se fortalece como sentimento de aversão, se aproxima do ódio.
           
Vemos que há uma constante interação do intelecto e da afetividade na formação dos sentimentos humanos. O animal usa a razão intuitiva para lidar com o mundo, pensa, mas não tem em seu pensamento um objeto a conhecer, a transformar e aperfeiçoar como o faz o homem; diremos que o animal embora pense, mas não pensa o pensamento, o seu intelecto opera no âmbito do sensível. A razão discursiva  no entanto faz o homem identificar em seu próprio pensamento  um objeto a conhecer, descoberta que separa os seus caminhos dos do reino animal.
           
O homem ao re-conhecer no pensamento este objeto, descobre-lhe um elo de continua interação com os sentimentos, re-conhecendo também na afetividade um objeto a conhecer pari-passu com os pensamentos, como co-instrumento de trabalho, até porque não há trabalho sem ação, ação sem motivação e motivação sem emoção e sentimento.
           
Assim como o homem dá nome aos objetos reais, o mesmo o faz com relação aos objetos ideais (pensamentos) e por extensão aos sentimentos utilizando-se de ambos para interagir com o mundo adaptando-se-lhe e adaptando-o a si próprio. A história humana começa quando o homem concebe para si um modo próprio de viver, um projeto de vida a executar, plano este que presume mudanças adaptativas de parte a parte, do homem para com o mundo e deste para com o homem, passando assim a criar novas formas de pensar o pensamento bem como de sentir os sentimentos, atividade cognitiva que desenvolve em sua existência não mais biológica, mas cultural e como tal, histórica.
           

Todo projeto de longo prazo implica em planejamento das fases de sua execução, pelo que o homem precisa transpor-se em pensamento ao futuro ainda que concebível todavia distante, e dentro do que lhe parece realizável programar a sua execução; tarefa esta que requer a capacidade de abstração que só a razão discursiva pode proporcionar. Aos animais a razão intuitiva atende e basta, pois só elaboram planos de ação no âmbito do mundo presente e sensível.   

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