domingo, 7 de julho de 2013

Liberdade e Responsabilidade I

Texto produzido em parceria com meu pai.


É curioso constatar que aos animais, mesmo aqueles de estimação, via de regra, não tratamos como pessoas, mas como indivíduos. O comportamento animal é eminentemente genérico e não individual, cada qual conforme a espécie e raça a que pertence, enquanto que o ser humano, ainda que a sociedade o tente padronizar culturalmente, apresenta um comportamento social acentuadamente diferenciado e individual a qual chamamos personalidade e a partir da qual o individuo se auto-afirma perante a sociedade. A pessoa nos inspira respeito, sentimento este que é cultural e sociabilizante, enquanto que o individuo nos causa medo e insegurança, sentimento este próprio do mundo animal. Um exemplo disto é como os policiais tratam os bandidos chamando-os de elemento, sim, elemento enquanto vivos e presunto, quando mortos. É contra essa discriminação ética e exclusão social e moral que os direitos humanos travam a sua luta no seio do sistema penitenciário porque ali o tratamento discriminatório que se dá aos indivíduos é flagrante e gritantemente anti-social.
           

É igualmente curioso constatar que a Deus não tratamos como indivíduo, mas como pessoa, por ser Ele, ainda que cósmico e celestial, de ação eminentemente ética e social. Seria Deus, miticamente a face humana do criador e a face divina do homem?
           

Como individuo sou levado a fazer escolhas. Escolher uma profissão que combine com o meu temperamento e vocação, escolher as minhas amizades de acordo com o meu modo de ser, escolher até como reagir às pessoas em situações de conflito; irritar-me ou ser paciente e compreensivo, contemporizar ou ser intransigente, perdoar ou vingar-me e etc. A esta capacidade de escolha chamo liberdade que por sua vez me causa angústia, porque me sinto responsável por minhas escolhas, pelos efeitos que podem surtir e repercussões a ter sobre a minha vida e a vida dos demais. Mesmo que me abstenha desta ou daquela escolha, ainda assim terei feito uma escolha, a de não optar por nenhuma escolha! A angústia denota que apesar da liberdade é o senso de responsabilidade que por fim determina as escolhas que faço. Sem os outros não seria o que sou, embora único como individuo, mas, por ser em muitos aspectos semelhante aos demais, dos quais inclusive dependo quase que totalmente, livremente faço uma escolha, a de estabelecer juntamente com todos uma sociedade, um agrupamento humano pautado em liberdade para todos.



A liberdade sem responsabilidade é uma liberdade sem angústia, não me impõe deveres e nem me dá direitos, mas a liberdade como ato de auto-afirmação do individuo social que sou dotado de personalidade é sempre uma fonte de angústia. 

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