terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

DOS PÍNCAROS DA ABÓBADA CELESTE, EU VI – O POBRE CRISTO


Dos píncaros da abóbada celeste, eu vi
Os carrilhões da igreja de Cristo
Badalando na mesma batida de um coração quebrado
Que a essa altura, não discerne bem os sons

A partir daí, o drama da salvação se fazia, dentro de mim
Sofrendo chacotas ao carregar a cruz ao novo gólgota
A chamada – Caveira
Não mais a da Jerusalém terrestre, senão a do Brasil de hoje

Quando perguntado o povo sobre o condenado
Ele respondeu: José merece ser crucificado
Porém, não aos olhos de todos, mas sem alarde
Para que, não sendo visto, não fosse lembrado

Um tirano lavou as mãos, não foi possível ver-lhe o rosto
Por certo, era político
E o povo aplaudiu todo o cortejo

Deu-se então, a saber, a Via Dolorosa
De muitos Josés, vagabundos, putas e sem-teto
Crucificados às margens da cidade
Em todos eles, a marca de um rosto judiado, cristificado

Dos píncaros da abóbada celeste, eu vi
Os anjos tomando à mão os excluídos
Conduzindo-os à intimidade de seu Senhor
Que ao cumprimentá-los, em tudo se identificou
Mormente pelo calejo nas mãos e semblante caído

Abençoou-os e chamou-lhes felizes
Lembrou-lhes o Sermão do Monte
E da lógica divina que a tudo inverte

Outro anjo, que possuía a chave do livro
O teria aberto, mas não lhe foi permitido
Pois Deus fez as coisas fracas para confundir as fortes
E as loucas, perturbar a estultícia

A essa altura, já não se podia discernir
Se isto seria o delírio produzido pelo vinagre azedo
Ou pela alegria incompreensível de um
Profeta que tudo fez ao avesso

Dos píncaros do céu, eu vi
Os carrilhões da igreja de Cristo
Badalando na mesma velocidade que caminha um mendigo,
Uma puta, ou um sem-teto

Dos píncaros do céu, eu vi
“O Jesus crucificado”
Morador dos guetos, com cachimbos de vidro, qualquer sofredor ou novo leproso
Sem razão aparente, sorrindo –

Apesar de ter na palma das mãos, dois pregos
Que narravam através de cada tragédia pessoal
O drama do Cristo





José Chadan