domingo, 7 de julho de 2013

Razão e Fé 3


O Sonho da Razão Produz Monstros,  de  Goya  (1746-1828)


Texto produzido em parceria com meu pai.

Dos contextos em que se dão os fatos nos restam a lembrança das imagens e das vivências que a memória retém e organiza e a razão abstrai daquelas que provém da imaginação. A razão como condição da objetividade separa os dados da experiência dos da crença em seres sobrenaturais aos quais só acolhe sob condição de poder atribuir-lhes os fatos. Este é em geral o tipo de argumento em que se baseia a racionalidade da crença religiosa.

Crença sem fé não gera ação, pois não se age senão pela confiança nas próprias possibilidades e naquelas que se espera obter. Na pratica no entanto, crença e fé se entrelaçam de modo que, crença não só considere as próprias condições, mas também aqueles que se espera receber de fonte natural ou sobrenatural em que se confia/ tem fé. Não fosse assim, nosso campo de ação seria reduzido ao imediato e presente. Na base de toda ação humana está o binômio crença e fé, que ao tornar-se religioso suscita o sentimento que lhe é peculiar- o sagrado, uma elaboração humana de gênese cultural para o homem afetivamente corresponder ao sobrenatural. A este legado cultural, o homem, mesmo profano, não consegue renunciar, pois os mitos e deuses adentraram de tal forma na vida humana que acabaram afigurando-se-lhe  a ponto dele enxergá-los em si próprio, em sua própria vida- que é o sagrado por excelência.

Diante de um morto sentimos respeito e pesar, diante de um recém-nascido espontaneamente sorrimos. É assim até para quem não tem crença religiosa, pois o sagrado permeia a vida do homem e em tudo evoca o sobrenatural ou o extraordinário e excepcional. As festividades de modo geral, as datas comemorativas, as competições desportivas, o troféu, a medalha, a obra de arte, o fim de semana, a virada do ano, entre tantas outras, evocam o sagrado que se manifesta nas mais variadas formas da exaltação das conquistas humanas, do mito-homem. Sem o sagrado retrocedemos à nossa condição biológica pré-histórica.

Karl Marx creu na sociedade comunista em que o homem em sua evolução histórico-cultural, um dia chegaria a habitar. O homem em seu mais alto grau de consciência, é um mito comunista com quem só se pode relacionar, crendo e por quem, só se pode lutar, confiando. O homem passa a crer em seu futuro glorioso e confiar em suas próprias potencialidades de realizar-se como tal.

A narrativa bíblica da Sião celestial nos confere uma perspectiva semelhante onde o homem ao se santificar se realiza como Deus.


 ***


QUESTÕES:

  1. Qual a diferença entre fé e crença?
  2.  A crença em seres sobrenaturais, em que sentido passa a ser racional?
  3. Por que tanto a morte quanto o nascimento mexem conosco?
  4. De que sentimentos é formado o sentimento do sagrado?
  5. O sagrado como sentimento foi formulado pelo homem para que finalidades?
6. Por que o fim de semana evoca o sagrado?
      7. Você votaria num candidato com boas propostas políticas, mas sabidamente corrupto? Por quê?



  

Nenhum comentário:

Postar um comentário