Dos contextos em que se dão os fatos nos restam a lembrança das imagens
e das vivências que a memória retém e organiza e a razão abstrai daquelas que
provém da imaginação. A razão como condição da objetividade separa os dados da
experiência dos da crença em seres sobrenaturais aos quais só acolhe sob
condição de poder atribuir-lhes os fatos. Este é em geral o tipo de argumento
em que se baseia a racionalidade da crença religiosa.
Crença sem fé não gera ação, pois não se age senão pela confiança nas
próprias possibilidades e naquelas que se espera obter. Na pratica no entanto,
crença e fé se entrelaçam de modo que, crença não só considere as próprias
condições, mas também aqueles que se espera receber de fonte natural ou
sobrenatural em que se confia/ tem fé. Não fosse assim, nosso campo de ação
seria reduzido ao imediato e presente. Na base de toda ação humana está o
binômio crença e fé, que ao tornar-se religioso suscita o sentimento que lhe é
peculiar- o sagrado, uma elaboração humana de gênese cultural para o homem
afetivamente corresponder ao sobrenatural. A este legado cultural, o homem,
mesmo profano, não consegue renunciar, pois os mitos e deuses adentraram de tal
forma na vida humana que acabaram afigurando-se-lhe a ponto dele enxergá-los em si próprio, em
sua própria vida- que é o sagrado por excelência.
Diante de um morto sentimos respeito e pesar, diante de um
recém-nascido espontaneamente sorrimos. É assim até para quem não tem crença
religiosa, pois o sagrado permeia a vida do homem e em tudo evoca o
sobrenatural ou o extraordinário e excepcional. As festividades de modo geral,
as datas comemorativas, as competições desportivas, o troféu, a medalha, a obra
de arte, o fim de semana, a virada do ano, entre tantas outras, evocam o
sagrado que se manifesta nas mais variadas formas da exaltação das conquistas
humanas, do mito-homem. Sem o sagrado retrocedemos à nossa condição biológica
pré-histórica.
Karl Marx creu na sociedade comunista em que o homem em sua evolução
histórico-cultural, um dia chegaria a habitar. O homem em seu mais alto grau de
consciência, é um mito comunista com quem só se pode relacionar, crendo e por
quem, só se pode lutar, confiando. O homem passa a crer em seu futuro glorioso
e confiar em suas próprias potencialidades de realizar-se como tal.
A narrativa bíblica da Sião celestial nos confere uma perspectiva
semelhante onde o homem ao se santificar se realiza como Deus.
QUESTÕES:
- Qual a diferença entre fé e crença?
- A crença em seres sobrenaturais, em que sentido passa a ser racional?
- Por que tanto a morte quanto o nascimento mexem conosco?
- De que sentimentos é formado o sentimento do sagrado?
- O sagrado como sentimento foi formulado pelo homem para que finalidades?
6. Por que o
fim de semana evoca o sagrado?
7. Você votaria num
candidato com boas propostas políticas, mas sabidamente corrupto? Por quê?
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