domingo, 7 de julho de 2013

ARTIGO III

SOBRE DEUSES, ENGENHOS E MONTANHAS 
O engenho humano que tornou o universo nosso amigo e passamos a chamá-lo de Deus-Pai, Deus-todo-amor.


José Chadan


Monte Sinai (retirado da Wikipedia)



Desde os tempos mais remotos, o homem olhou para o céu na tentativa de encontrar resposta para o grande sentido da existência. As paredes das cavernas onde o homem pré-histórico se abrigava estão repletas de pinturas que revelam um coração que palpita e sente o universo. Um coração que pulsa, muitas vezes junto e com o universo.
Ao tentar achar respostas para o grande sentido da vida, fizemos arte, inventamos engenharias, templos, casas, política e até religião. Todos estes engenhos, os fizemos com nossa inteligência e nossas mãos, para depois, amorosamente e com cuidado, colocar dentro deles, o nosso coração.
As casas não são feitas apenas de tijolos, pois se olharmos bem, cada tijolo revela o coração de quem as projetou e da mão que jogou nelas o cimento, colando um tijolo sobre outro.
As telas pintadas por artistas famosos ou mesmo, as pinturas rupestres, revelam o coração e os anseios mais íntimos daquele que as pintou. As cores e formas escolhidas são as formas do coração de seu autor. Podem ser escuras como o desespero ou alegres como a esperança. Podem abrigar a morte ou a vida, a paz ou a contenda. No pincel ou na pedra que fere a parede ao esculpi-la, está o coração de seu autor.
As igrejas e os templos revelam um coração também. Não apenas em seu exterior, mas em tudo. Em sua nave, muitas vezes em forma de cruz, em seus bancos e em seus altares.
Um coração que anseia por um mundo mais justo e por segurança e futuro próspero. Um coração que abriga em si o reino de Deus, prefigurado na figura de Cristo.
O arquiteto que projeta um templo coloca dentro dele, seu coração, sendo ele, o primeiro a ajoelhar nele e a rezar.
Ao fumarmos um charuto ou cigarrilha, colocamos nele nosso coração, que vem e vai, como fumaça. Fumaça esta que por vezes nos relaxa das tensões cotidianas, subindo suavemente ao céu e desaparecendo de nossos olhos.
Quando olhamos um amigo ou um amor, queremos de algum modo, enxergar nos olhos dele (a) o nosso coração. Nosso anseio por acolhimento e comunhão pura e sincera.
Quando olhamos para a natureza, colocamos nela nosso coração. Vendo numa pedra ou montanha um lugar sagrado. Era comum entre os antigos, por exemplo, que um homem subisse em uma montanha, para que Deus descesse até o cume dela, e houvesse um encontro entre o homem e seu Deus. Moisés subiu no monte Sinai, por exemplo, para receber as tábuas da lei.
Existe algo mais natural e espontâneo que a natureza bruta, onde nenhuma mão humana tocou? No entanto, quando o homem a olha com fins místicos ou de significação do mundo, ele já as tocou, tirando-lhes só com seu pensamento, aquilo que ela tem de mais bruto e, tornando-a de certa forma, um engenho de sua criatividade.

Com a engenharia, buscamos nos abrigar e sentir seguros. Com a arte buscamos expressar o nosso eu mais profundo. Com a economia pretendemos dividir melhor os bens produzidos, tentando fazer justiça ao binômio por vezes complexo, entre trabalho e valor. Com a amizade esperamos a acolhida desinteressada e a comunhão em ideais. Com o amor buscamos a perpetuação da vida na Terra e ensinar às futuras gerações bons valores. E, com a religião, queremos tornar o universo mais amistoso, mais perto de nós, chamando-o de Deus e de irmão.
Então, ajoelhamos e rezamos ou nos sentamos tranquilos em meditação como os cristãos do oriente. Em todo caso, tentamos sentir o pulsar de Deus em harmonia com o pulsar de nosso próprio coração. Não temos mais temor, pois o universo se tornou nosso irmão. As estrelas, o Sol, a lua, os bichinhos, os seres humanos, os insetos, o mar e até mesmo toda e qualquer espécie de abismo. Até mesmo a morte, se tornou nossa irmã e amiga. No funeral, choramos e rezamos à irmã morte, que conduza a alma do falecido ao Senhor.
O universo se fez nosso irmão, nosso amigo a quem chamamos Deus-Pai, Deus-todo-amor.
Não precisamos mais subir em montanhas, mas basta apenas olharmos para dentro e lá estará Deus - o universo pulsando. A vida, Deus, o amor.
Boas são, portanto, as invenções humanas. Dentre elas: a religião. Que fez do universo nosso amigo, tirando-nos o medo.  Porque “na caridade perfeita não há temor, antes a perfeita caridade lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em caridade” (1º Carta de João, cap. 4, versículo 18).
O universo se fez nosso irmão, porque começamos a projetar e ver nele, o que existe de mais sublime aqui na Terra: o amor. Deus é o mais puro e perfeito amor.




Bibliografia:

BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida, Revista e corrigida. 76 ed. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1993.

Sugestões de leitura:

O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade.
O Poder do Mito, de Joseph Campbell.

O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell.

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