SOBRE DEUSES, ENGENHOS E MONTANHAS
O engenho humano que tornou o
universo nosso amigo e passamos a chamá-lo de Deus-Pai, Deus-todo-amor.
José Chadan
Monte
Sinai (retirado da Wikipedia)
Desde os
tempos mais remotos, o homem olhou para o céu na tentativa de encontrar
resposta para o grande sentido da existência. As paredes das cavernas onde o
homem pré-histórico se abrigava estão repletas de pinturas que revelam um
coração que palpita e sente o universo. Um coração que pulsa, muitas vezes
junto e com o universo.
Ao tentar
achar respostas para o grande sentido da vida, fizemos arte, inventamos
engenharias, templos, casas, política e até religião. Todos estes engenhos, os
fizemos com nossa inteligência e nossas mãos, para depois, amorosamente e com
cuidado, colocar dentro deles, o nosso coração.
As casas
não são feitas apenas de tijolos, pois se olharmos bem, cada tijolo revela o
coração de quem as projetou e da mão que jogou nelas o cimento, colando um
tijolo sobre outro.
As telas
pintadas por artistas famosos ou mesmo, as pinturas rupestres, revelam o
coração e os anseios mais íntimos daquele que as pintou. As cores e formas
escolhidas são as formas do coração de seu autor. Podem ser escuras como o
desespero ou alegres como a esperança. Podem abrigar a morte ou a vida, a paz
ou a contenda. No pincel ou na pedra que fere a parede ao esculpi-la, está o
coração de seu autor.
As igrejas
e os templos revelam um coração também. Não apenas em seu exterior, mas em
tudo. Em sua nave, muitas vezes em forma de cruz, em seus bancos e em seus altares.
Um coração
que anseia por um mundo mais justo e por segurança e futuro próspero. Um
coração que abriga em si o reino de Deus, prefigurado na figura de Cristo.
O arquiteto
que projeta um templo coloca dentro dele, seu coração, sendo ele, o primeiro a
ajoelhar nele e a rezar.
Ao fumarmos
um charuto ou cigarrilha, colocamos nele nosso coração, que vem e vai, como
fumaça. Fumaça esta que por vezes nos relaxa das tensões cotidianas, subindo
suavemente ao céu e desaparecendo de nossos olhos.
Quando
olhamos um amigo ou um amor, queremos de algum modo, enxergar nos olhos dele (a)
o nosso coração. Nosso anseio por acolhimento e comunhão pura e sincera.
Quando
olhamos para a natureza, colocamos nela nosso coração. Vendo numa pedra ou
montanha um lugar sagrado. Era comum entre os antigos, por exemplo, que um
homem subisse em uma montanha, para que Deus descesse até o cume dela, e
houvesse um encontro entre o homem e seu Deus. Moisés subiu no monte Sinai, por
exemplo, para receber as tábuas da lei.
Existe algo
mais natural e espontâneo que a natureza bruta, onde nenhuma mão humana tocou?
No entanto, quando o homem a olha com fins místicos ou de significação do
mundo, ele já as tocou, tirando-lhes só com seu pensamento, aquilo que ela tem
de mais bruto e, tornando-a de certa forma, um engenho de sua criatividade.
Com a
engenharia, buscamos nos abrigar e sentir seguros. Com a arte buscamos
expressar o nosso eu mais profundo. Com a economia pretendemos dividir melhor
os bens produzidos, tentando fazer justiça ao binômio por vezes complexo, entre
trabalho e valor. Com a amizade esperamos a acolhida desinteressada e a
comunhão em ideais. Com o amor buscamos a perpetuação da vida na Terra e
ensinar às futuras gerações bons valores. E, com a religião, queremos tornar o
universo mais amistoso, mais perto de nós, chamando-o de Deus e de irmão.
Então,
ajoelhamos e rezamos ou nos sentamos tranquilos em meditação como os cristãos
do oriente. Em todo caso, tentamos sentir o pulsar de Deus em harmonia com o
pulsar de nosso próprio coração. Não temos mais temor, pois o universo se
tornou nosso irmão. As estrelas, o Sol, a lua, os bichinhos, os seres humanos,
os insetos, o mar e até mesmo toda e qualquer espécie de abismo. Até mesmo a
morte, se tornou nossa irmã e amiga. No funeral, choramos e rezamos à irmã
morte, que conduza a alma do falecido ao Senhor.
O universo
se fez nosso irmão, nosso amigo a quem chamamos Deus-Pai, Deus-todo-amor.
Não
precisamos mais subir em montanhas, mas basta apenas olharmos para dentro e lá
estará Deus - o universo pulsando. A vida, Deus, o amor.
Boas são,
portanto, as invenções humanas. Dentre elas: a religião. Que fez do universo
nosso amigo, tirando-nos o medo. Porque
“na caridade perfeita não há temor, antes a perfeita caridade lança fora o
temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em
caridade” (1º Carta de João, cap. 4, versículo 18).
O universo
se fez nosso irmão, porque começamos a projetar e ver nele, o que existe de
mais sublime aqui na Terra: o amor. Deus é o mais puro e perfeito amor.
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida, Revista e
corrigida. 76 ed. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1993.
Sugestões
de leitura:
O
Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade.
O
Poder do Mito, de Joseph Campbell.
O
Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell.
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