domingo, 7 de julho de 2013

ARTIGO IX

                O MAIOR DOS SETE PECADOS CAPITAIS: Como evitá-lo?
         Conselhos práticos ensinados pelos antigos cristãos



* José Chadan
Este texto foi adaptado e publicado no blog Sobre a Vida, do psicólogo Frederico Mattos, e na Revista Ultimato Online (Palavra do Leitor).
        



Hieronymus Bosch- “Soberba”.
 A pintura retrata uma mulher olhando-se no espelho, orgulhosa de seu lindo chapéu. Sem perceber que é um diabo quem lhe segura o espelho. Pecado retratado pelo pintor numa obra maior, intitulada Os Sete Pecados Capitais, onde são ilustrados todos os sete pecados capitais, cada um com uma representação apropriada.


A tradição cristã, a fim de auxiliar os fiéis no bom caminho de Cristo, catalogou os pecados em dois grupos: pecados veniais e os pecados mortais.
Os pecados veniais são os pecadilhos leves, perdoáveis quando o fiel os confessa honestamente e de coração quebrantado. Os pecados mortais são aqueles que levam à morte espiritual e para os quais não existe possibilidade de perdão. O maior deles: blasfemar contra o Espírito Santo.
     Porém, deixadas aqui as minúcias destas querelas acerca do(s) pecado(s), gostaríamos de propor a vocês, que refletissem um pouco sobre o pecado da soberba ou do orgulho (neste caso, o sentido pejorativo que usamos para a palavra orgulho), que é, segundo muitos doutores da Igreja, o maior de todos os pecados.
     Todos os chamados sete pecados capitais trazem algum tipo de dano, não só ao que pratica o pecado, como ao que é “alvo” do ato pecaminoso.
O pecado da ira, seria “disparado” ou para se defender de uma suposta ameaça ou para atacar a outrem, gratuitamente e por pura maldade. A ira causaria notável prejuízo para a pessoa que foi alvo da ira, como no caso de um soco no rosto ou um ponta pé, mas prejudicaria também aquele que sentiu a ira. Acelerando seus batimentos cardíacos, deixando-o ofegante e descontrolado. Contudo, passada a ameaça, os efeitos que ocasionaram a ira diminuirão e as coisas voltarão - na medida do possível- ao equilíbrio.
A inveja seria uma espécie de admiração às avessas. Uma espécie de perversão do sentimento natural que é a admiração por alguém ou alguma habilidade que este alguém possua (como tocar piano ou jogar futebol). O invejoso faria de tudo para abater a pessoa “alvo” de sua inveja. Contudo, uma vez que a pessoa invejosa sente-se “por cima da carne seca”, superior ao invejado, ela lentamente diminuirá a própria inveja. Poderá passar a nutrir outros sentimentos maléficos como o desprezo, mas não mais a inveja.
O preguiçoso sente fadiga toda vez que precisasse trabalhar ou mesmo, levar a colher à própria boca. Não obstante, o pecado da preguiça na maior parte das vezes, só prejudica o preguiçoso, a menos que seja ele um pai de família. E, mesmo neste caso, uma vez crescidos, os filhos poderão tomar conta de si próprios, de modo que o pecado da preguiça voltaria a estreitar-se, afetando o preguiçoso e somente a ele.
Já o avarento, afeta a muitos outros. A todos quanto possuíssem bens que lhe enchessem os olhos e o coração. Entretanto, uma vez extinguidos estes bens, a pessoa que foi prejudicada, deixaria de o ser, seja por causa de interesse avaro pelo dinheiro ou outro bem qualquer. E, mesmo que o avarento passasse prejudicando um a um de seus semelhantes, uma vez extinguidos os bens a que ele deseja, a pessoa prejudicada deixaria de ser alvo de seus ataques.
A gula, por seu turno, prejudica somente o guloso, que perde a própria saúde, não atingindo jamais a justa medida entre a fome e a saciedade. Pois, esquecendo-se da fome, regula o ato de comer apenas pelo prazer. Porém, existe um momento onde, necessariamente, seja por desprazer ou internação hospitalar, o pecado (ato) da gula tem de cessar (mesmo que pelo um breve instante de “desconforto estomacal”).
O pecado da luxúria, tão presente hoje em dia, causa prejuízos tanto ao que o pratica como ao alvo deste pecado. Do ponto de vista moral, objetificar outro ser humano para obter prazer carnal, sensual, prejudica tanto a pessoa           “objetificada”, posto que iludida, como a pessoa luxuriosa, que deixou de enxergar os outros como pessoas, passando a enxergá-las como coisas.
Este comportamento, no limite, acabaria por tornar a pessoa luxuriosa, inapta ao convívio social, pois ninguém gosta de ser usado (em nenhum sentido, muito menos no sentido sensual).
Do ponto de vista físico, tal comportamento pode levá-la ao esgotamento do próprio corpo, caso a pessoa em questão seja compulsiva por sexo. E, do ponto de vista psicológico, talvez ela não perceba que está tentando “tapar o sol com a peneira”, ou melhor, está tentando sentir-se poderosa(o) no sexo por causa de uma sensação de impotência no trabalho ou na vida familiar, etc., porém, extinguido o “fogo” propulsor do ato luxurioso, este necessariamente diminuirá (nem que seja na breve pausa entre um ato luxurioso e outro - nos intervalos entre prazer-saciedade).
E, uma vez que o luxurioso(a) tomar consciência e decidir buscar ajuda psicológica, descobrindo qual a real motivação de seu comportamento, talvez ele cesse de vez com o ato luxurioso e passe a fazer sexo saudável.
Finalmente, o pecado do orgulho.  O pecado do orgulho é o único pecado que não tem por objetivo a satisfação de um mero desejo. Retomemos um pouco os outros pecados, a fim de elucidar melhor e concluir o argumento.

Falamos de que o pecado da ira tem por desejo defender-se de uma suposta agressão ou atacar por pura maldade. O pecado da inveja tem por objetivo rebaixar aquele por quem se sente inveja. O pecado do preguiçoso consiste no desejo de ficar deitado ou nada fazer. O pecado da avareza, em desejar bens que não lhe pertencem. A gula, em se apropriar de alimentos, não para suprir as necessidades do corpo, de vitaminas e etc, mas apenas para obter prazer. E, a luxúria, visa também, apenas o prazer.
Já, o orgulho, se alimenta de um desejo mais perverso que todos os mencionados anteriormente. Um desejo muitíssimo mais perverso que cada desejo particular próprio a cada um dos sete pecados capitais.
Se o desejo que alimenta o pecado da ira é o de agredir; o desejo que alimenta a inveja é rebaixar; o desejo que alimenta a preguiça é a moleza; o desejo que alimenta a avareza é a posse e, o desejo que alimenta a gula e a luxúria é o prazer... o desejo que alimenta o orgulho é o de superioridade. O orgulhoso deseja sentir-se superior aos demais. Superior a todos! 
Justamente por ser o desejo de superioridade, o alimento da pessoa orgulhosa, é que este pecado foi considerado pela tradição cristã, como o maior e mais nocivo dos pecados. Nele, o pecador não se dirige mais a uma finalidade especifica como, agredir, rebaixar, malemolência, possuir ou obter prazer. Nele, no orgulho, não há objetivo específico.
A pessoa orgulhosa pode agredir, ao mesmo tempo em que rebaixa o outro,...  enquanto rouba, possuindo aquilo que não lhe pertence... obtendo também, o máximo de prazer possível e imaginável com toda esta alquimia. Pois tudo vale, quando se deseja “ser superior” aos outros.
Por isso que segundo o Gênesis, primeiro livro da Bíblia, onde se narra a estória de como Deus criou o mundo, a serpente foi expulsa do Paraíso. Pois nela estava o maior e mais nocivo de todos os pecados. Ela, a serpente, queria ser igual ou até maior que Deus.
Portanto amigo cuidado! Todos os pecados aqui mencionados são pecados veniais (perdoáveis), mas o pecado do orgulho pode lhe fazer cair das alturas, como a serpente caiu do Paraíso. Pode lhe fazer inclusive ficar sozinho, lembre-se: Adão e Eva também caíram, mas houve arrependimento e remissão. Mas a serpente ficou solitária, junto às hostes espirituais da maldade (seus comparsas) e, sem chance de remissão.
Já ouviu falar de algum empresário rico, que não mede conseqüências para subir na vida? Então, neste caso, a subida parece mais como uma queda, aonde o soberbo sobe, sobe e sobe, caindo em profunda solidão e não poucas vezes, sem a simpatia e solidariedade de ninguém.
Até mesmo a bebedeira pode proporcionar ao homem o sentimento de solidariedade. Até mesmo a bebedeira pode proporcionar ao homem um sentimento cristão (ainda que o ato de beber seja ruim em muitos sentidos).
O pecado da avareza, bem como todos os demais pecados, pode ceder lugar ao arrependimento, que é um sentimento saudável, tanto sob o enfoque cristão e espiritual como sob o enfoque psicológico. Mas o orgulho não pode produzir nada de bom, nem mesmo o arrependimento.

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AS FIGURAS BÍBLICAS DO ORGULHO

O orgulho está melhor ilustrado na figura do diabo, no livro da Bíblia que narra a criação do universo. Na figura do sacerdote e do levita, que na parábola do Bom Samaritano, passam de largo por julgarem-se superior.
O contrário do orgulho é a humildade. Talvez a maior virtude cristã. Indo em direção totalmente contrária: orgulho na ponta extrema do pecado, a humildade na ponta extrema da virtude.
A virtude da humildade é melhor ilustrada na figura de Jesus Cristo, que sendo igual a Deus, rebaixou-se à condição humana. Humilde foi também o bom samaritano que cuidou do homem que havia sido deixado quase morto pelos salteadores.

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PELA ÁRVORE CONHECEREIS OS FRUTOS
Os frutos do orgulho:

O fruto/resultado do orgulho é o distanciamento para com as pessoas - o isolamento. Tendo como pretexto uma suposta superioridade.
Já, os frutos/resultado da humildade é a aproximação para com as pessoas – a solidariedade e a compaixão.

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VENCENDO O ORGULHO

Mas como vencer o orgulho? O primeiro passo seria reconhecer que se é orgulhoso. Se você se julga humilde, é provável que seja muito, mais muito presunçoso! (C.S. Lewis, cito de cabeça).

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SOU ORGULHOSO, MAS QUERO MUDAR!

Os irmãos de José do Egito foram perdoados, depois de terem alimentado muita inveja e até mesmo traído e agredido José, Salomão foi perdoado por ter construído templos a outros deuses, e muitos outros homens de Deus tiveram seus pecados perdoados após terem se arrependido, mas Lúcifer não teve o mesmo fim – pois se alimentava de orgulho. E o orgulho é sempre contra o próximo e contra Deus.

Digo ainda, que, se o orgulhoso “conseguir” enxergar o próprio pecado e arrepender-se, Deus o perdoa. E, se o diabo conseguisse ver o quão mesquinho se tornou  após ter pretendido tomar o lugar de Deus, arrependendo-se, Deus certamente, o perdoaria.

Lembre-se: o diabo – Lúcifer - foi criado para ser um anjo iluminado, mas por um escolha deliberada e orgulhosa, ofuscou o próprio brilho. E você, amigo, pode escolher ser uma pessoa iluminada, tal como Deus o imaginou quando lhe criou. É você quem decide e escolhe!

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     GLOSSÁRIO

Soberba. Spinoza afirma de que ”A Soberba é uma alegria cuja origem está em o homem sentir-se mais do que é” (Cf. ABBAGNANO, Nicola. Soberba. In: Dicionário de Filosofia. Trad. Bosi, Alfredo e Benedetti, Ivone Castilho. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 911-912).

Humildade. Abnegação voluntária, falta de espírito competitivo ou de vanglória, reconhecimento daquilo que realmente se é, reconhecimento da própria limitação/impotência (Cf. ABBAGNANO, Nicola. Humildade. In: Dicionário de Filosofia. Trad. Bosi, Alfredo e Benedetti, Ivone Castilho. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 519-520).

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PARA SABER MAIS:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Bosi, Alfredo e Benedetti, Ivone Castilho. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Autor desconhecido. A Nuvem do Não-Saber. ed. Vozes, pág. 58.
BOSCH, Hieronymus. Entre o Céu e o Inferno. Ed. Taschen, 2010, p. 24-25.
C. S. Lewis. Cristianismo Puro e Simples. Martins Fontes, pág. 45-47.
SANTO AGOSTINHO. O Livre Arbítrio. Faculdade de Filosofia da UCP- Braga, pág. 265.
BÍBLIA. Versão revista e corrigida, traduzida por João Ferreira de Almeida: Gn., 3 / Luc. 11,25-37 / Luc. 6, 44.
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Vol. 3. São Paulo: Edições Loyola, 2003.


PARA SABER MAIS SOBRE A HIERARQUIA DOS SETE PECADOS CAPITAIS VALE A PENA LER:

Comentário de Gregório Magno ao livro de Jó.

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