domingo, 7 de julho de 2013

Razão e Sentimentos

Texto produzido em parceria com meu pai.

A dor ao persistir, repercute em sofrimento que lhe dá o  valor afetivo da ação que da dor se espera. Os sentimentos de modo geral formam a instância valorativa da consciência servindo-nos como base de ação. Somos movidos em direção ao objeto por atração e afastados do mesmo por aversão. Estes dois sentimentos são primordiais e não derivam de outros, e como tais, são a base de todo o complexo afetivo donde emergem e desenvolvem-se os demais sentimentos.

Nascemos com aversão ao cheiro de podre e atração ao perfume da flor, ao amargo do fel, ao doce do mel, da mesma forma a toda dor e todo gozo donde surgem os sofrimentos, da irritação, nojo, medo... terror e por outro lado os prazeres da excitação, interesse, desejo... amor.

Falar que uma pessoa é simpática é emitir um juízo a respeito da atração afetiva que sua presença nos causa; juízo este intuitivo que entretanto, denota um valor. A todo objeto de conhecimento, a consciência acopla-lhe um sentimento que o possa distinguir dos demais e refletir o que de singular representa para a vida. Isto se dá porque ao organismo, em principio e naturalmente só interessam conhecimentos que digam respeito à sua própria condição, isto é, de organismo vivo, cuja vida inclusive é condição para o conhecimento, e como tal, princípio e fim do mesmo.
        
Das três instancias da consciência- sensorial, sensitiva e intelectual- somente a sensitiva e a intelectual interagem mutuamente, restando à primeira o papel vital de informar-lhes os dados sensoriais. Não há como alterar a intensidade de uma dor; não há como mudar a sensação dum cheiro de podre; não há como reduzir ou ampliar o volume de um som- o aparelho sensorial não reage aos pensamentos e sentimentos, apenas lhes fornece dados do mundo material.
     
Aos sentimentos, todavia podemos modificar alterando-lhes a intensidade e composição pela via da interação do intelecto e da afetividade, imprimindo-lhes assim novos valores. O sentimento ao avaliar o objeto deflagra uma ação que nem sempre resulta eficaz e bem sucedida, tendo que então o intelecto revisar os pormenores da dita ação afim de descobrir-lhe as falhas, incluindo aquela do sentimento que lhe deu origem. O sentimento como fonte de valor passa assim, ele próprio por uma avaliação e isto é tarefa da razão discursiva, razão esta que tem não só nos objetos do mundo material como também do mundo imaterial o seu campo de indagação e conhecimento.
    
Os sentimentos do ser humano não se limitam tão somente a avaliação das sensações, eles cumprem também o mesmo papel para com os pensamentos. Se a nossa razão nos apontar um futuro temerário e desfavorável, este pensamento repercute em sentimentos de sofrimento, por entendermos que um futuro desfavorável representa-nos uma ameaça a vida tanto quanto uma dor física.

Embora o reino animal compartilhe conosco, basicamente das mesmas sensações, na instância afetiva o ser humano se distancia sobremaneira dos sentimentos comuns ao reino animal quais sejam- atração, interesse, desejo/ aversão, raiva e medo- compondo a partir destes uma gama imensa de sentimentos propriamente humanos como: inveja, cobiça, vingança, compaixão, vergonha, culpa, dever, direito, justiça, desprezo, admiração, adoração e o sagrado entre tantos, os quais não se dariam sem a razão discursiva, interagindo com a afetividade. 

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