domingo, 7 de julho de 2013

Razão e Deus

Deus criando os animais, afresco de Vittskövle Church.

Texto produzido em parceria com meu pai.


Aos fenômenos naturais conhecemos através do que imprimem em nossas sensações, região primária da consciência, a percepção sensível, que a razão intuitiva não abstrai como um objeto de conhecimento. A razão intuitiva não pensa as sensações nem os sentimentos e tampouco os pensamentos; para esta região da consciência, só aquilo que é apreensível pela visão, audição, tato, olfato e paladar, é objetivo e os objetos do mundo interior cuja percepção resulta da razão discursiva, não lhes são conhecidos. A esses, a nossa cognição tem acesso através da reflexão, atitude intelectual do homem que lhes confere objetividade tratando-os como objetos de conhecimento. O conceito de alma provém possivelmente desta abstração, o sujeito cognoscente entre dois mundos ( o interior e o exterior), dois mundos a serem conhecidos objetivamente.

Nesta região da consciência, as nossas capacidades intelectual e afetiva são por nós apreendidas como ferramentas de trabalho cognitivo e como tais, igualmente sujeitos ao nosso conhecimento e manipulação. Assim como criamos utensílios para trabalhar e transformar o mundo natural, o fazemos também com os nossos próprios sentimentos e pensamentos. À mente discursiva não mais basta captar as imagens do mundo, mas usando-as, criar suas próprias imagens, bem como não lhe bastam os sentimentos naturais a partir dos quais criará os seus próprios sentimentos ingressando assim numa nova região da consciência chamada cultural.

As sensações são universais e resultam em percepções comuns, enquanto que à atividade reflexiva correspondem percepções próprias da pessoa que as tem e as quais somente ela pode tratar como objetos do conhecimento, não sendo para os demais como tal a menos por voluntária adesão. Esta é a região da consciência reflexiva em que atuam a crença e fé.

Por mais que sejamos reflexivos e voltados ao mundo interior, o somos no limite de nossa subsistência, isto é, do provimento de nossas necessidades naturais e imediatas- alimentação e saúde. Pessoas que se compenetram além deste limite, tendem a se perder em seu mundo pessoal/interior, à cuja objetividade, o acesso é vedado aos demais. Os grandes artistas e pensadores são exceção a esta regra, pois conseguem adentrar num e sair do mesmo, adentrando noutro, sem perder as referências que distinguem o mundo exterior do interior. A prova de objetividade de nosso mundo interior é a eficácia  que a aplicação de seus objetos demonstra no mundo sensível e natural. Este é o elo racional dos dois mundos que assim estabelecem entre si uma relação de mútua causalidade.

Ao mundo interior das pessoas só temos acesso por crença no que nos comunicam e adesão ao que dizem pela confiança nelas. As crenças se propagam por adesão e se consolidam pela confiança em suas eficácias no nosso dia-a-dia objetivo. Uma crença fantasiosa só se sustenta a partir das aplicações objetivas que possa propiciar ou então perdemos por ela a confiança migrando para outra que nos satisfaça a confiança.

Para pegarmos um copo de água fazemos uso da visão que nos aponta o lugar e avaliamos a eficácia de nossos recursos pessoais para alcança-lo com segurança, avaliação à qual correspondemos com o sentimento de confiança para agir. Um paraplégico vê o mesmo copo, mas não confiando em seus próprios meios de alcançá-lo, não age do mesmo modo e pede que lho façam, pois lhe falta confiança para tal. O sentimento de confiança está na base de toda ação, da mais simples e imediata à mais complexa e distante. O mesmo se dá na crença religiosa, à qual terá que demonstrar aos adeptos a sua eficácia sem o que perderiam a fé.   


***

      
QUESTÕES:

1.      Já que os animais percebem a relação causal de seus atos, o que então, os distingue do ser humano?
    1. O que é concatenar os pensamentos?
                  b. O que é pensar os pensamentos?
                  c. Por que o animal pensa, mas não reflete/não raciocina?
            d. O que o futuro mediato tem a ver com a razão discursiva?

2.      O ser humano  descobre de que os seus pensamentos bem como seus sentimentos podem ser objetos de conhecimento. Diga:
    1. Em que isto mudou a sua vida?
    2. As imagens que o homem capta do mundo real se tornam objetos de sua imaginação, isto tem a ver com pensar os pensamentos?
    3. Por que os animais não elaboram imagens, antes, só captam as imagens naturais?

  1. O que tudo isto tem a ver com a crença em Deus e/ou em seres sobrenaturais e invisíveis?

           a. Resultam ele(s) tão somente da imaginação humana ou estas imagens interiores/imaginações humanas, encontram alguma correspondência com o mundo real? Diga a experiência que você tem à respeito?

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