Deus criando os animais, afresco de Vittskövle Church.
Texto produzido em parceria com meu pai.
Aos fenômenos naturais conhecemos através do que imprimem em nossas sensações, região primária da consciência, a percepção sensível, que a razão intuitiva não abstrai como um objeto de conhecimento. A razão intuitiva não pensa as sensações nem os sentimentos e tampouco os pensamentos; para esta região da consciência, só aquilo que é apreensível pela visão, audição, tato, olfato e paladar, é objetivo e os objetos do mundo interior cuja percepção resulta da razão discursiva, não lhes são conhecidos. A esses, a nossa cognição tem acesso através da reflexão, atitude intelectual do homem que lhes confere objetividade tratando-os como objetos de conhecimento. O conceito de alma provém possivelmente desta abstração, o sujeito cognoscente entre dois mundos ( o interior e o exterior), dois mundos a serem conhecidos objetivamente.
Nesta região da consciência, as nossas capacidades intelectual e
afetiva são por nós apreendidas como ferramentas de trabalho cognitivo e como
tais, igualmente sujeitos ao nosso conhecimento e manipulação. Assim como
criamos utensílios para trabalhar e transformar o mundo natural, o fazemos
também com os nossos próprios sentimentos e pensamentos. À mente discursiva não
mais basta captar as imagens do mundo, mas usando-as, criar suas próprias
imagens, bem como não lhe bastam os sentimentos naturais a partir dos quais
criará os seus próprios sentimentos ingressando assim numa nova região da
consciência chamada cultural.
As sensações são universais e resultam em percepções comuns, enquanto
que à atividade reflexiva correspondem percepções próprias da pessoa que as tem
e as quais somente ela pode tratar como objetos do conhecimento, não sendo para
os demais como tal a menos por voluntária adesão. Esta é a região da consciência
reflexiva em que atuam a crença e fé.
Por mais que sejamos reflexivos e voltados ao mundo interior, o somos
no limite de nossa subsistência, isto é, do provimento de nossas necessidades
naturais e imediatas- alimentação e saúde. Pessoas que se compenetram além
deste limite, tendem a se perder em seu mundo pessoal/interior, à cuja
objetividade, o acesso é vedado aos demais. Os grandes artistas e pensadores
são exceção a esta regra, pois conseguem adentrar num e sair do mesmo,
adentrando noutro, sem perder as referências que distinguem o mundo exterior do
interior. A prova de objetividade de nosso mundo interior é a eficácia que a aplicação de seus objetos demonstra no
mundo sensível e natural. Este é o elo racional dos dois mundos que assim
estabelecem entre si uma relação de mútua causalidade.
Ao mundo interior das pessoas só temos acesso por crença no que nos
comunicam e adesão ao que dizem pela confiança nelas. As crenças se propagam
por adesão e se consolidam pela confiança em suas eficácias no nosso dia-a-dia
objetivo. Uma crença fantasiosa só se sustenta a partir das aplicações
objetivas que possa propiciar ou então perdemos por ela a confiança migrando
para outra que nos satisfaça a confiança.
Para pegarmos um copo de água fazemos uso da visão que nos aponta o
lugar e avaliamos a eficácia de nossos recursos pessoais para alcança-lo com
segurança, avaliação à qual correspondemos com o sentimento de confiança para
agir. Um paraplégico vê o mesmo copo, mas não confiando em seus próprios meios
de alcançá-lo, não age do mesmo modo e pede que lho façam, pois lhe falta
confiança para tal. O sentimento de confiança está na base de toda ação, da
mais simples e imediata à mais complexa e distante. O mesmo se dá na crença
religiosa, à qual terá que demonstrar aos adeptos a sua eficácia sem o que
perderiam a fé.
***
QUESTÕES:
1.
Já que os animais percebem a relação causal de seus
atos, o que então, os distingue do ser humano?
- O que é concatenar os pensamentos?
b. O que é pensar os pensamentos?
c. Por que o animal pensa,
mas não reflete/não raciocina?
d. O que o futuro mediato tem a ver
com a razão discursiva?
2.
O ser humano descobre
de que os seus pensamentos bem como seus sentimentos podem ser objetos de conhecimento.
Diga:
- Em que isto mudou a sua vida?
- As imagens que o homem capta do mundo real se tornam objetos de sua imaginação, isto tem a ver com pensar os pensamentos?
- Por que os animais não elaboram imagens, antes, só captam as imagens naturais?
- O que tudo isto tem a ver com a crença em Deus e/ou em seres sobrenaturais e invisíveis?
a. Resultam ele(s) tão somente da
imaginação humana ou estas imagens interiores/imaginações humanas, encontram
alguma correspondência com o mundo real? Diga a experiência que você tem à
respeito?
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