domingo, 28 de julho de 2013

Dedicatória

Rádio em madeira (1936).
Fotografia tirada por Cláudio de Castro
Fonte: Wikipedia





À todos aqueles que de uma forma ou de outra, contribuíram para meu crescimento pessoal e espiritual: Minha família, namorada e amigos, mas principalmente, ao meu irmão Pêpito. Esta dedicatória está sendo feita em frequência mundial - sintonize o cursor do seu mouse em 
Pistos da Razão.

                                                         
          


sexta-feira, 26 de julho de 2013

O pobre crucificado e o pobre de Assis:

O CAMINHO DAS DUAS POBREZAS
                                                        
                                         
A verificação dos estigmas de São Francisco após sua morte (1297-1299). 
Giotto


Jesus foi um judeu pobre, que segundo os evangelhos, nasceu em Belém, um lugar pobre da Judéia. Tendo nascido em pobreza material, ele escolheu por adquirir uma segunda pobreza, a pobreza de espírito - que é a humildade.

Francisco de Assis, foi filho de Pedro Bernardone, um rico comerciante da cidade de Assis, na Itália. Sendo rico, o jovem Francisco renuncia a riqueza do pai, após desilusões com as Cruzadas e com a boêmia dos jovens de seu convívio social e obedece a voz do Senhor que lhe disse: " Francisco, vai e repara minha igreja". Ao fazer isto, ele abraça a primeira pobreza, que é a pobreza material. Para em seguida, abraçar a segunda pobreza, que é a de espírito - a pobreza que consiste em um espírito humilde, uma disposição humilde para com todos.

Humildemente, Jesus se despoja de todas as honrarias deste mundo, se esvaziando para ser pobre e humilde de espírito. Sujeitando-se até mesmo a morte mais humilhante para sua época - a morte de cruz. Na cruz só eram pregados aqueles considerados indesejados para a sociedade (homicidas, ladrões e etc).

Humildemente, Francisco se despoja de todas as honrarias deste mundo, esvaziando-se para ser pobre e humilde de espírito. Pois somente um pobre pode olhar com respeito e admiração Outro pobre. Francisco se esvazia para poder servir o Cristo pobre. Servindo-o em toda criatura que passe alguma sorte de necessidade.

Jesus, carrega a cruz até o Gólgota, para fora dos muros da cidade. Francisco carrega a cruz até os leprosos e moribundos, para fora dos muros da cidade. Os dois aceitam o martírio, a humilhação e a crucificação, por amor a Deus. Este Deus cujo rosto, é o rosto castigado dos pobres.

E, os pobres estão na maioria das vezes, fora dos muros da cidade. Esquecidos e abandonados. Somente alguém que esteja disposto a sofrer as dores do martírio por carregar a cruz, iria até os muros da cidade e comungaria de igual para igual com os esquecidos.

Jesus comungou com um dos ladrões que estava ao seu lado, na cruz. Este, rogou-lhe o perdão por seus pecados e vida desregrada. E foi perdoado. Francisco comungou com os leprosos, sem medo de ser contaminado pela lepra.

A santidade não pode ser contaminada pelo pecado, mas sempre o cura. Peçamos ao Senhor, que nos faça pobres de espírito, humildes e modestos. Que não nos arroguemos ser maior que ninguém. E, para que humildemente, caminhemos para fora dos muros da cidade, socorrendo os esquecidos, aqueles a quem a nossa sociedade capitalista, competitiva e consumista veem crucificando. Aqueles a quem nos acostumamos a julgar como indesejáveis e por isso mesmo, não sentimos remorso de pô-los às margens da cidade para que morram pregados em nossa cruz moderna.

Por eles, escrevo esta carta. Os pobres, órfãos, mendigos da Praça da Sé, velhos em asilos, crianças sem tratamento médico adequado, vítimas das guerras e da AIDS, os dependentes químicos e etc.

Aos pobres de Israel, o pobre crucificado. Aos pobres de Roma, o pobrezinho de Assis. Aos pobres da argentina, o cardeal Bergoglio e, aos pobres do mundo - O rosto pobre de Deus, castigado por nossas maldades, e mesmo assim, compassivo para com todos.

Sigamos as pegadas do Senhor, que ensinou: " Bem-aventurados os pobres..." (Mt. 5; 3) e, façamo-nos pobres como Ele. Primeiro, de pobreza material, abdicando de tudo aquilo que NÃO precisamos efetivamente para viver. Dos luxos e consumismos. Pois, o contrário, é ajuntar bens que a traça rói e o ladrão rouba (Cf. Luc. 12;34). É tirar dos outros e promover a desigualdade social. Segundo, de pobreza espiritual, fazendo-nos humildes e não nos julgando superiores nem mesmo à mais ínfima das criaturas. Pois do contrário, estaríamos ignorando a ordem criada por Deus e de que todas as criaturas tem o seu devido valor. Você, querido amigo, precisa ate mesmo de uma simples mosca, sim, uma pequenina e pobrezinha mosca, pois sem ela, sofreria o desequilíbrio ecossistêmico. Elimine as moscas e veja como fica desequilibrada a vida de todo o ecossistema. Elimine-as e veja como fica sua própria vida.

Finalmente, devemos perceber, como disse Leonardo Boff quando palestrava para as pessoas do Araguaia no filme Anel de Tucum, que a desigualdade social é sim, um problema de ecologia, pois afeta o equilíbrio entre os homens.

Assim, como Jesus e Francisco, sigamos o caminho das duas pobrezas. O da pobreza material e o da pobreza (humildade) espiritual. Façamo-nos um pouco mais pobres, dando algo ao nosso irmão e... quando menos esperarmos, o Reino de amor estará entre nós. Não haverão mais cruzes fora da cidade, nem gente pregada nelas, nem "indesejados", pois todos estarão vivendo a fraternidade cristã na própria cidade e com uma alegria espontânea, tal como as aves  que regorjeiam despreocupados, porque sabem que o Senhor proverá suas necessidades ou como os lírios do campo, aos quais Deus graciosamente veste (Cf. .Mt. 6; 26-29).

Paz e Bem,
José Chadan


quinta-feira, 25 de julho de 2013

2º texto da série: Tirando da marginalidade para proteger


DROGAS, NAS MÃOS DE QUEM?


                          
Foto de Al Capone (1899-1947)
Fonte: Departamento de Justiça dos Estados Unidos
 (retirada da Wikipedia)


O tema das drogas causa desconforto em muita gente, especialmente, dos moralistas. O fato é que as drogas desde sempre fizeram parte da vida humana. Elas foram utilizadas em diversos rituais religiosos na antiguidade, foram proibidas pelo cristianismo na época medieval e no início dos anos 60 foram utilizadas com fins recreativos e não mais religiosos.

O uso de drogas então, remetem à própria história da humanidade. A droga faz parte do centro e não da periferia da vida social. Os gregos a utilizavam em ritos religiosos, os índios também e muitos outros povos as usavam para induzir a mente e o coração a que tivessem experiências místicas. Mais tarde, a geração Beat e hippie usaria, para se libertar das amarras moralistas e sociais em que julgavam viver.

Na época de Freud, a cocaína foi considerada medicamentosa, tanto que ele a usava acreditando nisso. Quando os ingleses colonizaram a América, trouxeram consigo o tabaco, que por muito tempo foi considerado medicamento. Então, o lorde recheava seu cachimbo de tabaco e fumava, pretendendo aliviar alguns sintomas ruins e de saúde. Os Beats experimentaram o peiote e a mescalina, buscando com elas, ampliar a percepção sensorial e assim, "enxergar" melhor as coisas.

Mais tarde porém, o quadro se inverteria. A cocaína seria marginalizada pela medicina moderna e considerada daninha para a saúde. O mesmo ocorreria com o tabaco das Américas e com todo tipo de alucinógeno, que pretendia "expandir" a percepção.

A morfina também, outrora tida como droga e proibida, passou a ser utilizada em hospitais como medicamentosa e para alívio das dores.

A própria bebida alcoólica, foi considerada droga e marginalizada. Um dos grandes nomes do tráfico na época foi Al Capone. Entretanto, nasceu aí, um enorme mercado clandestino, que gerava muito dinheiro e lucro, assim como bares.

Para uma breve definição da droga, diríamos que droga é toda substância que altera o modo normal de funcionamento do organismo humano. Mas existem substâncias, que embora o alterem de modo significativo, nenhum governo - salvo melhor juízo- as elencou entre o cânon do que é considerado droga: o café, o chá, erva cidreira, o açúcar, dentre outros.

O café deixa a mente alerta, o chá acalma, o açúcar causa certa excitação e combate a depressão e ansiedade. Em doses elevadas tais substâncias poderiam levar um indivíduo ao colapso!

Sendo assim, o que define, ou melhor, quem define o que é e o que não é, droga? E, a resposta: É o mercado. A oferta e a procura. Os interesses dos donos do capital!

E, o mercado como todos sabemos, é o meio pelo qual os homens trocam especiárias, produtos, commodities e etc.  Tudo que se precisa, se acha no mercado. Então vamos até o mercado e barganhamos. Eu tenho necessidade disto e pago tanto. Se muitas pessoas têm a mesma necessidade que eu, a oferta cresce e o preço cai. Ou, o oposto: se poucas pessoas desejam um produto, a oferta é pequena e o preço sobe.

Mas quem regula o mercado? Bem... num regime liberal, o mercado é livre e se auto-regula. Já em um regime comunista, o Estado o regula. 

Se for um regime misto, teremos uma interferência tanto da livre iniciativa de empresas privadas quanto do Estado, taxando impostos sobre o que entra e o que sai.

A quem devemos confiar pois, o regime das drogas? Nas mãos do Estado? Do mercado? De empresas privadas? Ou, de traficantes que barganham tanto com policiais e com políticos?

Para diminuir com o número de mortes, de armas que circulam no país e de corrupção envolvendo deputados e traficantes, talvez a melhor saída fosse deixar as drogas nas mãos do livre mercadoEmpresas de pequeno porte ou mesmo bares de esquina seriam construídos para consumo local, se pagaria um imposto por isto, o mercado se auto-regularia ao mesmo tempo que teria a supervisão do Estado.

O mercado das drogas sempre existiu, o que se deve ter em conta é: optar por um mercado lícito e claro ou por um mercado escuso, cheio de corrupção e sangue inocente.

As mortes diminuiriam. As armas... os traficantes perderiam seu posto e os políticos sua benesses por meios ilícitos. Com as portas escancaradas, ao invés de investirmos em policiamento - corrupto nesses casos- investiríamos em mais educação e saúde. Educaríamos nossos jovens para os riscos de cada droga e ofereceríamos tratamento para aqueles que já caíram na armadilha.

E, talvez mesmo, um pequeno empresário, investisse em sua pequena empresa, que lucra com a venda de entorpecentes, mas esta, seria fiscalizada pela prefeitura, que a obrigaria a ter um ambiente limpo para o consumo e com ligações a algum centro hospitalar no caso de haver overdose e urgência de atendimento. Além de uma ala aberta àqueles que buscam tratamento para se livrar do vício e da dependência química.



A proposta seria de um novo modelo:

Micro-empresas que oferecem drogas, supervisionadas pela prefeitura. 

Ao invés de traficantes que são caçados por policiais.







O "X" da questão é: 




Drogas, nas mãos de quem?

de traficantes, deputados, policiais e fabricantes de armas

ou 

de micro-empresários, mercado, vigilância sanitária, prefeituras, educadores e sistemas de saúde? 



Drogas, nas mãos de quem?


Amigo, pense e decida: quem cuidaria melhor do seu filho caso ele caísse na armadilha das drogas?



Um abraço fraterno,
José Chadan

MÚSICA PARA EDUCAR AS EMOÇÕES


Concerto (1485-95), Tela a óleo de Lorenzo Costa (m. 1535)



A música de maneira geral, é a elaboração rebuscada das emoções básicas do homem. O choro, a tristeza, a alegria, a paz, etc. Todas as emoções humanas são, na música, rebuscadas e elaboradas. Ouvindo blues, podemos perceber a tristeza e o choro; o jazz, a euforia ou a tranquilidade, dependendo do estilo; o rock, expressa a raiva e revolta; música clássica, expressam várias emoções conjugadas à um nível intelectual que faz o ouvinte sentir ao mesmo tempo em que precisa inteligir a respeito do que ouve; e, assim por diante...

Schiller, porém, em sua obra Cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade, diz que a boa obra de arte é aquela que consegue conjugar a sensação com a razão por meio do impulso lúdico, numa tensão dialética apropriada. 

Lembrando de que a sensibilidade é passiva (vide Kant), refere-se a liberdade e espontaneidade em receber por meio dos sentidos o objeto.A razão é ativa, posto que organiza o mundo articulando conceitos e mexendo com eles como melhor lhe aprouver. Já, o impulso lúdico serve, segundo Schiller, para harmonizar os dois impulsos, tanto da sensação como da razão, não deixando pender mais para um lado que para outro ( Cf. Schiller, p. 86-87). 

Assim, alcançaríamos a harmonia e o equilíbrio da identidade da pessoa, bem como, o equilíbrio e a harmonia da cultura. O responsável para que se faça uma tensão dialética equilibrada entre sensação e razão, é o impulso lúdico, marcado e manuseado pela pessoa e pela cultura (sou eu quem o digo, pois Schiller parece, salvo melhor juízo, dizer que esta é tarefa apenas da cultura).

Talvez seja por isso que os filósofos da escola de FrankFurt mal disseram o jazz e outros ritmos populares. Mas, cá entre nós, uma é a cultura e expressão das emoções da elite, outra a do povo. Uma, cheia de requintes e erudição, outra, repleta de euforia, angústia, êxtase, tudo misturado... 

Semelhantemente, é o samba, no Brasil ou o punk rock, salvo as devidas proporções.Portanto amigo, aprimore as próprias emoções, ouvindo boa música, boa obra de arte. O choro se tornará mais profundo e consciente, a alegria, a raiva... mais elaborados e o ajudarão a ter uma vida emocional mais rica e consciente de si mesma.

Amplie seu espectro emocional ouvindo obras musicais que lhe proporcionem maior riqueza. Você poderá ir desde a música erudita até a música popular. Percebendo os requintes de emoção na musicalidade de cada uma, que podem refletir ou não em seu interior - sua própria vida e espectro de emoções. Enriquecendo-o.

Desejo-lhe uma vida rica, emocional, musical e intelectiva.



PARA SABER MAIS:

SCHILLER, Friedrich. Cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade. Int.. e notas de Anatol Rosenfeld. São Paulo: EPU, 1991.


José Chadan
   * Publicação atualizada em 16 de novembro do ano de 2013.




terça-feira, 23 de julho de 2013

Felicidade versus Bem-aventurança

FELICIDADE versus BEM-AVENTURANÇA: quando achar que tudo está bem mata a empatia pelos outros

Running with the seagulls, Galveston, Texas
Fonte: Wikipedia.
Ed Schipul, Houston, TX, US


Ao perguntarmos às pessoas se são felizes, muitas delas confundirão felicidade com diversas coisas que não se encaixam neste conceito. Alegam ser felizes os que curtem as noitadas, os que tem dinheiro, prestigio social, família ou algo assim. Muitas são as supostas causas daqueles que se dizem felizes ou infelizes.
Certa vez, Santo Agostinho estava entrando pelas portas da igreja quando viu um mendigo rindo... despreocupado. Naquele momento, Agostinho desejou ter aquele riso,  espontâneo e despreocupado, de quem podia até mesmo não possuir nada, nenhum bem, mas que possuía o bem mais precioso que qualquer pessoa deseja ter- um elevado nível de bem-estar.
Mas antes de falarmos de bem-estar, precisamos definir minimamente os conceitos de que estamos tratando, para não tomar gato por lebre. Em primeiro lugar, não investigaremos propriamente a questão do bem-estar, antes, o foco de nossa atenção estará em dois conceitos: felicidade e bem-aventurança.
Felicidade e bem-aventurança são conceitos muito diversos. Felicidade é um estado de satisfação e contentamento quando tudo vai bem. Quando se têm moradia, comida, roupas e as necessidades materiais, políticas e psicológicas supridas.  Bem-aventurança é o oposto disso. A bem-aventurança acontece quando a pessoa não tem todas as necessidades atendidas e mesmo assim, sente-se contente, completa e plena.  Felicidade tem a ver com o bem-estar proporcionado em grande parte pelo Estado. Bem-aventurança é mais como um bem-estar interior, de plenitude e paz.
Haja  visto que muitas pessoas que vivem em países desenvolvidos e com altos índices de educação, saúde, moradia e emprego, muitas vezes sentem-se infelizes. Há nestes países, por vezes, muito alcoolismo e até suicídio.  Já em países menos desenvolvidos, embora existam inúmeros problemas, as pessoas muitas vezes sentem-se bem. Apesar dos problemas, elas doam-se mais (obtendo com isso, maior senso de sentido para a vida), se integram mais na comunidade onde vivem (formando laços fortes de amizade e de pertença, ganhando forte senso de identidade), dentre outras coisas.
Não pretendo fazer aqui um elogio dos baixos níveis de desenvolvimento de um país ou menosprezar os países desenvolvidos. Apenas intento lançar luz a algo que está para além das boas condições de vida numa determinada sociedade, qual seja, a habilidade de se tornar bem-aventurado.


Felicidade                                                            Bem-aventurança
Bem-estar político e social.                               Bem-estar interior (apesar dos pesares)


A felicidade é fruto de um trabalho coletivo. Não posso estar feliz se não tenho condições básicas de higiene, saúde, educação, segurança e etc. Ao passo que bem-aventurança é um trabalho individual, tendo mais a ver com vida interior. Posso estar bem, apesar de viver num país como o Brasil, com tantos problemas e carências.

·        Principais fontes de felicidade:
Saúde,emprego, moradia, saneamento básico e etc.
A felicidade é feita de causas externas.


·        Principais fontes de bem-aventurança:
Paz, satisfação, crescimento pessoal, vida interior, relacionamentos interpessoais e etc.
A bem-aventurança é feita de causas internas.



É por causa da diferença entre felicidade e bem-aventurança que podemos observar muita gente abastada material e externamente, mas que sentem-se mal, como se lhes faltasse alguma outra coisa. Então tais pessoas buscam diversões, álcool, ficam viciadas em trabalho e muitas outras formas de compensação. E, por sua vez, muitas pessoas pobres, vivem com uma dose significativa de bem-estar. Aos primeiros, faltam habilidades internas para produzir uma vida bem-aventurada. Aos segundos, faltam condições externas que lhe aumentem ainda mais aquilo que elas já possuem – bem-aventurança.
Outrossim, muitas vezes pessoas que possuem boas condições externas, adquirem o hábito pernicioso de julgar e condenar os demais. É importante falar nisto, pois não poucas vezes, boas condições de vida acabam por levar uma pessoa a não ter, a matar a empatia por seus semelhantes. Já, as pessoas que não possuem tão boas condições externas, muitas vezes, devido ao próprio sofrimento, cultivam a compaixão e a empatia. Não quero ser ingênuo e dizer que todo rico é egoísta ou que todo pobre é compassivo e empático, porém importa prestar atenção neste aspecto (por vezes generalista).


A felicidade está condicionada ao externo da sociedade. Felicidade e condição.
Boas condições materiais por vezes matam a empatia.


A bem-aventurança é uma habilidade interna da pessoa. Bem-aventurança e habilidade.
Os bem-aventurados cultivam a empatia e compaixão.



Condições favoráveis externas às vezes acabam tendo uma função equivocada, produzindo um fenômeno conhecido como "a falácia mundo-justo". Consiste em achar que todo aquele que está desempregado, mendigos, ou em qualquer situação ruim..., estariam nesta situação porque merecem, não se esforçam, são preguiçosos e etc  Isto acaba roubando a empatia que uma pessoa mais favorecida materialmente poderia sentir por estas outras, prontificando-se a ajudá-los. Este fenômeno ocorre, do ponto de vista psicológico, porque aquele que está numa situação confortável materialmente, quer evitar o sofrimento psicológico de sentir-se responsável por aqueles que estão em situações de precariedade. Mas como esta pessoa se livra do sofrimento e embaraço psicológico que tais pessoas em situações de carência poderiam lhe causar? Anestesiando a consciência  Acreditando na falácia do mundo-justo e dizendo para si mesma: " o mundo é justo! Eu trabalho, pago meus impostos, cuido de muitas outras coisas e olhe, aquele mendigo, aquele outro alcoólatra  os enfermos, os órfãos  não são problema meu. Se estão nesta situação é porque merecem. Existe vagabundo para tudo neste mundo, desde os que não buscam trabalho, aos que não cuidam da própria saúde  até àqueles que ficam pondo criança no mundo, como se fossem coelhos no sio". Por outro lado, condições externas desfavoráveis, às vezes aproximam as pessoas e as fazem mais irmãs.por conta da vulnerabilidade, uma se prontifica e se põe disponível às necessidades da outra e vice-versa (talvez por isto, Jesus tenha dito que o reino de Deus é dos pobres, porque de um modo geral, eles, por causa da vulnerabilidade e fragilidade, conhecem mais de perto também, a compaixão e solidariedade).
Não me arrogando título algum, limito-me a mencionar um certo homem, também pobre, que tendo nascido numa manjedoura, num lugar que serve para alimentar os animais, foi entretanto, um bem-aventurado e fez de seus discípulos, homens igualmente bem-aventurados. Viveu sob a opressão do governo romano. Ganhando a vida como carpinteiro, profissão que aprendeu com seu pai, José. E, morrendo uma morte considerada humilhante para época – a morte de cruz – reservada à escória da sociedade, aos tidos como indesejáveis e malditos.
Sim! É este homem, surrado e castigado, quem fez o maior sermão sobre a bem-aventurança já proferido pela boca humana. Quando o Estado romano não proporcionava a todos, felicidade, Jesus pregou a bem-aventurança e estes ensinamentos estão registrados nos evangelhos, sendo chamados de o Sermão do Monte.
O homem de Nazaré – lugar desprezado até mesmo pelos judeus daquela época- avistando uma multidão, sentou-se no monte e começou a falar-lhes sobre as 10 bem-aventuranças. É como se dissesse ao povo: "olhem, já que o Estado não lhes dá condições para serem pessoas felizes, não se abatam.  Aprendam como se tornar homens e mulheres cheias de bem-aventurança!"
Eis a boa notícia do evangelho (evangelho quer dizer boa notícia): sede bem-aventurados, aprendei como sê-lo e ajudem o meu Pai a instaurar o reino de Deus aqui, também. Um reino em primeiro lugar de bem-aventurança e em segundo, um reino de felicidade.
Como fala João no livro do Apocalipse, dizendo de que no Paraíso todos serão iguais, sem acepção de pessoas. Todos serão reis e sacerdotes. O rei é aquele que governa e administra a cidade (condições externas). O sacerdote é aquele que ensina a vida interior de bem-aventurança (habilidade interna).


Rei- política- felicidade
Sacerdote- vida interior- bem-aventurança.


Meu amigo lhe digo que, se por vezes você se encontra numa situação que não pode mudar, não podendo ser feliz, entretanto, não se abata. Seja sim, um bem-aventurado, apesar dos pesares, apesar das condições externas desfavoráveis.  Lembre-se de que são bem-aventurados todos os pobres, porque eles alcançam o reino dos céus.


Paz e Bem,
José Chadan



***




PARA SABER MAIS:

Confissões de Santo Agostinho.
O Sermão do Monte> evangelho de São Mateus, capítulo 5 da tradução feita por João Ferreira de Almeida.
Livro de Apocalipse. Bíblia Sagrada.
Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano- verbetes: felicidade, bem-aventurança.
The Belief in a Just World: A Fundamental Delusion, de Melvin J. Lerner.

sábado, 20 de julho de 2013

Nota Preliminar

Pedreiro em Paoua, na República da África Central.
Brice Blondel.
Fonte: Wikipedia.


NOTA PRELIMINAR: (re)construindo blog(s)

O presente trabalho trata-se de uma coletânea de textos que foram postados em outros blogs, todos de minha autoria. Optei por deletá-los, reunindo aqui os textos que julguei de maior importância, facilitando assim, seu acesso e manuseio.

Sendo meu único blog este que lhes apresento agora, intitulado Pistos da Razão.

O AUTOR,
São Paulo, 16 de novembro de 2013.


Para saber mais sobre este novo trabalho 
leia o PRÓLOGO 
aqui em
Pistos da Razão









domingo, 14 de julho de 2013

Oração do Prólogo


Pelos Oprimidos
A obra retrata Jesus com os pobres e estes, ajudando-o a carregar a cruz.
Mural da Prelazia de São Félix do Araguaia (Brasil-MT, 1977), de Maximino Cerezo Barredo. 
Obra tombada, faz parte de um acervo maior chamado Murais da Libertação



Senhor, diante de Vós todo o coração está aberto (mesmo que se pretenda "fechado"). Rogo-Vos encarecidamente o perdão por minhas piores misérias e faltas. Por não contribuir na luta contra a opressão aos índios, aos negros e aos pobres, esquecendo-me das sete obras corporais de caridade e misericórdia; comer carne, provocando agonia aos bichinhos que são oprimidos e mortos todos os dias para que eu mo alimente; não fazer parte da luta por um planeta mais santo e sustentável; e o meu pecado gravíssimo: não auxiliar Jesus a carregar a Cruz (carregando eu mesmo a cruz que o Senhor ma deu e acudindo meus irmãos para que também carreguem a deles). Não sendo digno de ser chamado cristão, súplico que me ajude agora e sempre, a seguir os passos do bom Mestre, para que humilhado eu Vos louve e possa no Dia do Juízo receber a coroa da vida eterna (não por mérito, mas unicamente por Vossa graça). E, que os textos humildemente publicados aqui, acudam na caminhada filosófica e espiritual de quem quer que os leia. A Vós Senhor, e somente a Vós, toda glória seja dada e nunca àquele que escreveu tais textos, pois só o Senhor pode inspirar e criar boas coisas por meio do Verbo. Amém.



segunda-feira, 8 de julho de 2013

PRÓLOGO



Pocket Trumpet
Autor: José-Manuel Benito
Fonte: Wikipédia 



O pistão é um instrumento de sopro, feito de metal, uma espécie de aperfeiçoamento da antiga trombeta, esta sim, muito utilizada na antiguidade, seja para auxiliar os pastores de ovelhas, chamar os soldados à guerra ou mesmo dar um comunicado importante por parte do rei. Uma ilustração emblemática do uso da trombeta, foi quando o povo do Senhor tocou as trombetas para que caíssem as muralhas de Jericó, vindo depois a conquistar a terra que segundo o Velho Testamento, Deus havia lhes prometido.

No século 19, porém, com o avanço na fabricação de instrumentos os mais diversos, desde instrumentos de corda elétricos - como guitarras e teclados- houve também um aperfeiçoamento da antiga trombeta: acrescentaram- lhe três válvulas (em algumas, quatro), dando  à trombeta uma maior nuance de som e acordes. Desta forma, a antiga trombeta foi então batizada de Pistão. Ademais, o pistao tornou-se um importante instrumento para o jazz da contra-cultura.


Mas porque motivo, objetar-me-ão, optei por chamar este blog de
 Pistos da Razão? Pistos, são as válvulas,os "botões" que quando apertados, dão ao sopro que passa pelos tubos do trompete, uma determinada nota. Dó, ré, mi e etc. Este blog, assemelhasse pois, a um pistão, ou melhor, a um pocket trumpet (já que ele é formado por textos menores e não por obras consideradas canônicas nem para a filosofia, história ou para a poesia; assim como um pocket trumpet não chega perto de ser um trompete, com todo seu potencial e sonoridade). Estas disciplinas- filosofia, história e a poesia- são aqui, comparadas aos três pistos do trompete, os quais, conforme apertados ou soltos, produzem determinada nota musical.

E, será você, querido leitor que, ao ter a atenção chamada para este ou aquele texto, apertará (metaforicamente) os pistos deste instrumento que está dado em suas mãos.  Utilizando a metáfora do pistão, o sopro, seria a razão; os tubos por onde ele passa, seria a mente humana; e os pistos (válvulas) que quando apertados dão determinada nota, seriam as inúmeras visões de mundo. Um pisto pode soar como a Cruz e Seu mistério; outro pisto, como o  marxismo; outro ainda, como o existencialismo. Cada "pisto" tocará uma nota e dependendo de como forem lidos os textos, em que sequencia ou com que  "ouvidos" e "afinação", poderá retirar deles algum som. Talvez uma melodia harmoniosa, talvez uma nota estridente  ou mesmo, um hiato entre o som e o silêncio. Isto porque tais textos não formam um todo coerente ou uma 
espécie de sistema filosófico, antes, tratam-se de uma coletânea de todo trabalho que venho realizando, entre lecionar, meditar e escrever. Não compõem uma única "melodia do mundo", pois seu autor as foi soprando conforme os pistos de sua própria mente, animadas pelo sopro de uma racionalidade muito peculiar.

Imagine uma música sem intervalos de silêncio... você conseguiria ouvi-la? Ou ela lhe soaria como ruídos irritadiços? Assim também é o pensamento racional. É preciso elaborar as ideias, mas o ponto de partida - e muitas vezes de tomada de fôlego ou chegada- é o silêncio.

O silêncio é sagrado, assim como o som. A razão é o sopro da mente, passando pelos tubos do trompete, e os pistos? bem... os pistos são como os "botões" apertados para esta ou aquela forma de organizar o "sopro da razão". 


Alguns dos textos aqui publicados, são artigos (textos mais herméticos), outros tem um estilo mais livre e solto, outros são poesias retiradas do meu livro Barca Melancólica, outros ainda, tem um tom mais didático e ginasial, sendo textos produzidos em co-autoria com meu pai na época em que inicie meu trabalho como docente em filosofia no ensino médio. Há também alguns esboços de desenhos meus, sendo que todas as demais imagens que serviram para ilustrar as publicações foram retiradas especialmente da
 Wikipédia, por estarem a maior parte delas a disposição para livre utilização em outros projetos. E, finalmente, quatro ou cinco trabalhos estão ilustrados com um recorte em fundo escuro da mesma foto que ilustra este post - ainda que não tenha uma relação direta com cada texto no qual foi inserida- apenas para mostrar mais claramente como são os pistos de um pistão. Esta é pois, a imagem principal que ilustra o mote deste blog.

Entrego agora, nas suas mãos, amigo leitor, o pistão, para que você sopre, conforme a sua forma peculiar de manusear a razão. Pedindo desculpas se por vezes faltar a formatação adequada ou algum erro de grafia que tenha passado despercebido. Tais falhas podem ter ocorrido como resultado de um trabalho que foi sendo formado de modo fragmentado, tendo sido parte de outros blogs onde eu mesmo os havia editado e reeditado... enfim, resolvi por jogar fora os demais blogs e condensar todo o trabalho em
 Pistos da Razão- podendo contemplá-los e edita-los mais facilmente. 

Encerro esta breve apresentação, desejando a você, amigo leitor, a mais bela melodia, que eu apenas tentei tocar e transmitir modestamente, da melhor maneira que pude.



O AUTOR
São Paulo, 09 de julho de 2013.

domingo, 7 de julho de 2013

ARTIGO XII

JESUS CRISTO E AS MANIFESTAÇÕES POPULARES 
   
 
    Que tipo de messias foi Jesus de Nazaré? 
Qual era sua real posição frente à opressão romana de sua época. 
Como tudo isso se relaciona com as manifestações  populares e com as igrejas brasileiras.

                                                                                                                  José Chadan

Jesus expulsando os vendilhões do templo
Pintura de Rembrandt (1626).

1.  UMA INTRODUÇÃO - JESUS versus CRISTO

ENTRE JESUS E CRISTO: PERSONAGEM HISTÓRICA E FIGURA MÍTICA

Inicio este ensaio distinguindo duas figuras que equivocadamente, se misturam e confundem em uma só - Jesus e Cristo.

Jesus foi a personagem histórica que viveu a dois mil anos atrás na Judeia e cujos dados se encontram em parte nos evangelhos (apócrifos e canônicos) e em parte nos escritos de Flavo Josefo um eminente historiador da época. Não se trata aqui, de verificar a veracidade dos relatos, mas meramente em distinguir estas duas figuras.

Cristo, por sua vez, não é a personagem histórica que viveu e andou entre os judeus  e foi crucificado sob a jurisdição de Pôncio Pilatos. Ao contrário, Cristo é uma palavra que tem origem grega e quer dizer  ungido. Cristo é, portanto, a figura mítica daquele que foi ungido por Deus, a figura do salvador.

Para se ter clara a diferença, note-se que quando os Evangelhos falam de Jesus que curou leprosos ou andou pelas aldeias e etc, esta é a personagem histórica, ao passo que no Evangelho Segundo João onde o autor identifica Cristo com o Verbo de Deus, ou mesmo nas cartas de Paulo, que não narram nenhuma história, mas falam do salvador do mundo como uma das pessoas da Santíssima Trindade, de amor infinito pelos homens e etc, este é o Cristo, o ungido de Deus.

Simplificando: Jesus é a pessoa real que andou neste mundo e Cristo é o salvador que está no Céu a direita de Deus-Pai, intercedendo por nós. Jesus possuía mãos, braços, olhos e barba; Cristo possui amor incondicional, perdão, é a segunda pessoa da Trindade.

Os judeus viam e podiam tocar em Jesus de Nazaré, mas identificá-lo com o Cristo prometido por Deus para salvar a humanidade, ah... daí já são outros quinhentos mil reais.Isto é uma questão de fé e de elaboração teológica.


O MESSIAS/O CRISTO ESPERADO

Na época de Jesus, o povo judeu se encontrava oprimido pelo poder romano. Roma havia, por meio do poder militar, acoplado a Judeia ao seu território. Governando sobre os judeus, sobrecarregando-lhes com pesadas taxas de impostos, delimitando a prática religiosa até ao ponto de não oferer qualquer ameaça ao poderio de Roma.

No entanto, à época de Jesus, os judeus esperavam o messias, o Cristo, o salvador, que segundo eles, profetizara as Escrituras (a Torá dos judeus, que equivalem aos cinco livros do Pentateuco da Bíblia cristã). O salvador, o Cristo, seria parecido com o rei Davi que conseguiu apaziguar as contendas que existiam entre as doze tribos de Israel e transformá-las em um reino unificado.

O salvador, para os judeus da antiguidade, era uma espécie de "segundo rei Davi". Ele acabaria com a opressão romana e restauraria a paz e o reino em Israel.

Por conta desta esperança e deste Cristo tão esperado, houve diversos movimentos messiânicos na antiga Israel.  Haviam os extremistas, como os zelotes, que lutavam contra opressão romana de forma violenta; haviam também os pacifistas como os essênios, que aguardavam a vinda do messias, vivendo uma vida de eremitas.

Um exemplo de uma personagem do movimento extremista dos zelotes foi Barrabás (aquele a quem o povo libertou, crucificando Jesus em seu lugar).

Haviam também, entre estas dua extremidades, os saduceus e os fariseus. Os fariseus eram o grupo de religiosos à que Jesus enfaticamente condenava as práticas, conforme nos informam os quatro Evangelhos, chamando-os de legalistas e hipócritas, e dizendo que até mesmo as prostitutas entrariam no Céu primeiro do que eles.



2. JESUS E AS MANIFESTAÇÕES POPULARES EM SUA ÉPOCA - POVO versus GOVERNO ROMANO

JESUS: UM PACIFISTA OU UM AGITADOR E ANARQUISTA?

E, foi por isso que Judas traiu Jesus, pois tendo se aproximado daquele que acreditava ser o messias, se decepcionou ao perceber que Jesus não era um revolucionário político como os judeus tanto esperavam e nem tampouco, se parecia com os zelotes. Esta foi uma das razões de os judeus em sua grande maioria não terem aceito Jesus como sendo o Cristo, o messias enviado.

Jesus no seu ministério em geral, pregou e praticou o amor, estabeleceu a paz e sempre foi a favor dos oprimidos e marginalizados. Eis o X da questão! Quando se tratava de injustiças contra sua própria pessoa, Jesus aguentava firme, até mesmo de maneira passiva, dando a outra face, porém, quando se tratava de um "irmão" mais pobre, cego, leproso,... ele se irava, indo com truculência (mesmo que verbal) para cima dos opressores - em geral, dos fariseus e dos governantes romanos. Ora, os fariseus eram uma seita religiosa judaica que, para não fazerem parte da população oprimida dos judeus, coadunavam com os governantes romanos, recebendo certos privilégios.

Jesus criticou duramente os fariseus. Inúmeras foram as críticas e as palavras duras proferidas contra os fariseus. Toda vez que um deles tentava lhe colocar em uma "saia justa", Jesus os encurralava com um questionamento sem saída. como por exemplo, quando apresentaram a Jesus uma mulher adultera, tentando colocá-lo contra a parede, entre a lei de Moisés, que manda apedrejar e a graça que ele mesmo apregoava, de perdoar. Ao ser questionado, Jesus não deu uma resposta direta, mas respondeu com outra pergunta: quem não tem pecados que atire a primeira pedra?

E Jesus era assim com os fariseus e governantes romanos, agressivo em palavras. Não deixava passar uma batido. Mas em relação ao povo, era sempre manso e humilde. Compassivo. Até mesmo com os cobradores de impostos, Jesus foi muitas vezes compassivo (judeus que trabalhavam para os romanos, oprimindo seus "irmãos" e penhorando seus bens). Mateus, um dos doze apóstolos, era ele mesmo, um cobrador de impostos.

No fim das contas, a mensagem de Jesus sempre foi uma mensagem de justiça, de amor, de paz e perdão. Mas ele foi, ainda que sem armas, contra o status quo de sua época - os fariseus e o governo de Roma. Tanto assim, que os próprios judeus o consideraram mais ameaçador que Barrabás (líder extremista e violento da seita dos zelotes). Isto é comprovado quando diante de Pilatos, o povo absolve Barrabás e condena Jesus.

Jesus foi um pacificador e apregoador da esperança para os oprimidos e um agitador perigoso que pregava a subversão ao establishment.

Jesus era em parte, um agitador político, mas sua maneira de fazer política era pacífica. Ele apregoava a que os homens instaurassem na Terra o reino dos céus, que é melhor descrito segundo as dez bem-aventuranças do Sermão do Monte.

O sermão do monte (Mt. 5) propõe uma revolução de baixo para cima. Cada homem individual, cumprindo as bem-aventuranças - sendo manso, pacificador, humildes, misericordiosos e etc- contribuiriam para que pouco a pouco, o reino dos céus fosse instaurado aqui entre os homens. E, neste aspecto e somente neste, Jesus teria algo em comum com os anarquistas que também propõem uma revolução de baixo para cima.

Outrossim, o Apocalipse de João diz que no Céu todos os remidos serão reis e sacerdotes (Apoc. 5-10). Rei,  é aquele que governa a cidade, e sacerdote, aquele que ministra a si mesmo. Rei, aquele que liga os homens entre si, sacerdote, aquele que re-liga os homens a Deus. O rei trata de assuntos referentes ao "plano horizontal", o sacerdote trata de assuntos do "plano vertical".

Contudo, se na visão de João o evangelista, todos tratariam de tudo, isto é, assuntos de ordem horizontal e vertical, significa que todos estariam em pé de igualdade, como irmãos. Isto significaria a completa supressão do Estado, semelhante a utopia anarquista.

Note-se que a palavra anarquista é empregada aqui não em sentido vulgar, de baderneiro, mas em sentido político, daqueles que desejam uma sociedade sem Estado, por imaginarem que o Estado é sempre uma instituição e um instrumento de opressão.


JESUS E OS PESADOS IMPOSTOS COBRADOS PELO GOVERNO ROMANO

Todavia, quando um de seus discípulos lhe mostrou uma moeda perguntando-lhe se deveria com ela pagar o imposto ou dar aos pobres, Jesus disse: Daí pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt. 22-21). Desta maneira, rompendo de uma vez por todas com a suposta relação entre Igreja e Estado. A Igreja de Cristo, sua esposa, é um corpo místico separado do mundo. Já o Estado, administra as coisas mundanas e os bens terrenos.


JESUS E OS  VENDILHÕES DO TEMPLO DE JERUSALÉM

Próximo à própria crucificação, Jesus entra em Jerusalém (capital de Israel). Entra montado num burrinho, após o que, dirige-se ao templo (lugar de maior visibilidade na capital). Lá, ele encontra vendilhões e mercadores, vendendo animais e outras coisitas no templo. Então, tomado de fúria, pega um chicote e começa a jogar mesas ao chão, libertar os animais e por todo mundo para correr, dizendo: A minha casa será chamada casa de oração ( Mt.  21, 12-17).

Com isto, condenando de vez, aqueles que fazem uso das instituições e espaços religiosos com fins de lucro e enriquecimento.



3.  CRISTO E O POVO BRASILEIRO

CRISTO E OS MOVIMENTOS MESSIÂNICOS NO BRASIL

Assim como os judeus da época de Jesus esperavam por um messias que os libertasse da opressão romana, os brasileiros por muito tempo, esperaram um messias que os libertasse da opressão dos poderosos.  É sempre assim: em épocas de opressão, o imaginário popular deseja e aguarda um messias que os liberte. 

No caso do Brasil, houve diversas revoltas populares contra a opressão política e emergiram dela, muitos messias políticos, semelhantemente ao que ocorreu no Israel antigo. Lá, os zelotes, aqui, os líderes religiosos e os jagunços do nordeste. Ambos, emergiram de seus cenários históricos, encaixando-se na figura imaginária que o povo esperava de um messias.  Um messias que libertaria o povo brasileiro da opressão do governo -  um messias político. Exatamente o oposto do que Jesus Cristo se propôs a ser.

Para haver um messias é necessário que o povo passe necessidade e opressão de alguma espécie. Neste contexto, surge no imaginário popular a figura mítica do messias, o ungido, aquele que libertará o povo das injustiças e sofrimentos. Poderiam encaixar-se nos ditos movimentos messiânicos, as revoltas populares ocorridas no Brasil, como por exemplo, a Guerra dos Canudos, Balaiada, Farroupilhas e etc., e os líderes de cada uma delas, como pretensos messias. Em geral, messias políticos, que pretendiam instaurar uma nova ordem política na região, mais justa e igualitária. entretanto, não poucas vezes, estes que se pretendiam messias do povo, pertenciam também a alguma ordem religiosa.

A diferença central entre o messias de Israel e os diversos messias do Brasil, está no fato de que o Cristo queria uma revolução de dentro para fora - uma revolução do coração. Ao passo que os diversos messias brasileiros queriam uma revolução de fora para dentro - uma revolução das estruturas sociais e políticas. O primeiro messias, o Cristo, apontava para o "alto" e para "dentro", já os últimos, os revolucionários do nordeste brasileiro, apontavam para "fora" e para "frente"!


CRISTO, A CORRUPÇÃO E OS PESADOS IMPOSTOS COBRADOS PELO GOVERNO BRASILEIRO

Se Cristo passeasse por alguns dias entre nós, brasileiros, e visse a opressão a que os políticos ininterruptamente nos submetem, com os altos impostos cobrados por todo e qualquer tipo de serviço, sem que os mesmos sejam revertidos para o bem do povo que pagou o devido tributo, o que será que Ele diria?

Clamaria em alto e bom tom: Daí pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt. 22; 21). - e mais - O meu reino não é deste mundo ( Jo. 18-36).

Então, milagrosamente tiraria uma moeda em dinheiro da boca de um peixe ou de alguma janela caindo aos pedaços n'alguma favela, e ordenaria que se pagasse o devido tributo. Buscando por outro lado, formar laços sólidos de amor e fraternidade entre os oprimidos, para que estes sim, se tratassem feito irmãos e repartissem tudo entre todos. De tal maneira, que nada lhes faltasse.

A cada dia, por meio do amor fraterno ensinado por Cristo, os oprimidos contemplariam o milagre da multiplicação. Tendo sua fome e sede saciados, tanto as do corpo, como as da alma e espírito. A primeira fome, suprida com alimento sólido. A segunda fome, supridas com amor e comunhão.

É desta segunda fome, que morrerão todos os governantes que oprimem seu próprio povo. Raça de víboras! - provavelmente assim Cristo diria.


CRISTO E OS "VENDILHÕES" DAS GRANDES IGREJAS DO BRASIL 

E, se Cristo visitasse nossas igrejas, as chamadas casas de oração - tanto as católicas, como as evangélicas - e contemplasse a riqueza que elas acumulam e como utilizam técnicas de marketing para barganhar e iludir suas "ovelhas", o que diria?

Provavelmente chicotearia no meio do templo, colocando as mãos sobre as cabeças dos supostos endemoniados que estão nos altares e ele mesmo os curaria. Jogaria a cesta da oferta para o alto, junto ao solidéu de algum cardeal e exclamaria: Saiam daqui, comerciantes, vendilhões, raposas e ladrões do povo. A casa de meu pai será chamada casa de oração!

Após o que, ele seria expulso dos templos católicos, evangélicos, pentecostais e neo-pentecostais do Brasil, sendo jogado em meio aos mendigos da Praça da Sé ou debaixo do minhocão. Ali, às traças, para morrer o martírio do nosso século: a fome, o abandono e o frio.


4. CRUZ ROMANA E CRUZ BRASILEIRA: quem são os discípulos de Cristo?

Finalmente, Jesus - não o Cristo, lembre-se a diferença - seria no Brasil, crucificado. Sim! Nós o crucificaríamos

Ser crucificado para um romano na época de Jesus, significava que aquele sujeito era considerado como a escória da sociedade, alguém que não tinha valor algum e precisava ser banido da vida social. Na cruz eram pregados salteadores, homicidas e gente subversiva que ameaçava o governo romano. Em geral, eles morriam uma morte lenta e cheia de agonia. Nem mesmo direito a um funeral digno tais pessoas tinham.

Jesus, foi considerado um desses escórias que precisavam ser expurgados do convívio social. Porém, quando lemos a narrativa bíblica sobre a morte de Jesus, é comum pensarmos: Se eu tivesse vivido naquela época, jamais teria me unido aos fariseus (judeus da alta estirpe religiosa) ou aos zombeteiros que pregaram Jesus na cruz. 

Contudo, somos nós, os que desviamos nossos rostos das pessoas honestas, das pessoas que apontam para as injustiças cometidas todos os dias em nosso país, somos negligentes com nossos velhos e com nossos órfãos. É comum enxergarmos neles a sujeira da sociedade, por isso nos afastamos, com certo nojo. Ou, zombamos. Da mesma forma que fizeram com Jesus no passado, fazemos com aqueles que nós marginalizamos hoje. Jesus foi marginalizado e os pobres de nosso país são marginalizados.

Os marginalizados morrem, uma morte lenta e cheia de agonia. Jesus foi pendurado na cruz e os órfãos do nosso Brasil, são pendurados nas praças, nos "minhocões" e em tantos outros lugares. Consideramo-los malditos e sujos, assim como os que crucificaram Jesus o consideravam.

Toda vez que auxiliarmos um pobre, como disse Jesus " um destes pequeninos", é a Cristo que estamos ajudando, mas, toda vez que maltratarmos ou formos indiferentes a um pobre, é a Cristo que somos indiferentes. Nos Evangelhos, Ele mesmo se identifica com os pobres, pedindo apenas um copo de água fria e garantindo o galardão daquele que não lho negar (Mt 10-42). 

Aquele que socorre o pobre, socorre a Cristo. Aquele que é indiferente ao pobre, está se omitindo, deixando que os poderosos O apregoaem na cruz. O rosto do pobre é o rosto de Cristo, judiado e castigado. Se não fazermos nada, crucificamo-Lo. Sim, repito: nós crucificamos a Cristo todos os dias e cuspimos em seu pobre rosto, judiado por nossas moléstias e maldades.

Jesus era pobre e nós, cá no Brasil, crucificamos os pobres. Marginalizando-os e colocando-os para fora, esquecidos da cidade, assim como os judeus e romanos fizeram com Jesus, no Gólgota ( uma colina fora da cidade).

Portanto, pensemos melhor para onde estamos carregando nossas cruzes. Jesus a carregou para o Gólgota, às margens da cidade (Jo. 19-17). Os pobres de ontem e de hoje a carregam para fora da cidade ou para as pontes e praças esquecidas. E você, amigo? Se estiver indo para o centro, sua cruz é mero simulacro e não existe comunhão nenhuma entre a cruz que você carrega e a cruz de Cristo! Mas, se a estiver carregando para a periferia, para as margens, é mais certo de que esteja imitando o exemplo de Cristo.

Para seguir a Cristo, é preciso abandonar as honrarias humanas e aceitar, humildemente, ser chamado de sujo, escória, não bem-vindo e, de maldito. É preciso ir até as margens, para fora da cidade, distante do centro (das atenções) e unir-se aos pobres. Vendo neles, o pobre rosto do Cristo crucificado. Deixando-se crucificar com Ele, em solidariedade e abnegação.


5.  SUGESTÕES DE LEITURA:

Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Deus o e Estado, de M. Bakunin.
Algum livro de história geral do Brasil.


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Note-se que para diversas passagens bíblicas, coloquei o texto correspondente entre parenteses, embora na maioria das vezes o tenha citado de cabeça. Portanto, não são uma cópia fiel do texto bíblico, mas uma citação feita de memória.
O mesmo ocorre quando menciono alguma revolta popular no Brasil ou qualquer outro mote.